Lista dos melhores álbuns duplos da história acerta em cheio
Combate Rock
12/01/2014 13h13
Marcelo Moreira
No meio de tanta bobagem publicada ao longo dos anos a respeito das "listas de melhores", eis que uma finalmente acerta muito mais do que erra – até porque o objeto análise é um pouco mais fácil do que a escolha do melhor baterista de todos os tempos, por exemplo. A escolha dos melhores álbuns duplos da história do rock, feita por leitores da revista Rolling Stone norte-americana, elegeu realmente as melhores obras feitas naquele formato. Surpreendeu apenas o segundo lugar obtido por "The Wall", do Pink Floyd, realmente uma obra magnífica. O bom texto está no site da revista, com bons comentários a respeito de cada uma das obras. Clique aqui para ver a tradução no site da Rolling Stone Brasil.
Como bem destacou o jornalista Andy Greene no texto de apresentação, álbuns duplos são coisa da época do vinil, do LP, das décadas de 60 e 70. Geralmente não continham mais do que uma hora e vinte de música, mas ampliaram e muito as possibilidades artísticas dos compositores, que extrapolaram e muito o formato tradicional da canção no rock, apelando para suítes e óperas-rock, em trabalhos conceituais de altíssima qualidade. Curiosamente, aquele que é considerado o melhor álbum de todos os tempos, "Sgt. Pepper's Lonely Heart Club Band" (1967), dos Beatles, o primeiro conceitual da história, deixou de ser duplo por falta de interesse da banda, além do fato de as gravações terem durado quase seis meses.
E são os Beatles que foram eleitos os autores do melhor álbum duplo da história. "The Beatles", de 1968, mais conhecido como o Álbum Branco, merecidamente ganha o posto, com sua coleção de músicas variadas e versáteis, densas e bem distantes do cancioneiro pop que dominou a primeira metade da década de 60 e bem distante da psicodelia que ainda predominava nos Estados Unidos, principalmente – embora alguns ecos psicodélicos possam ser identificados aqui e ali. "Back in the USSR" pode ser considerada o grande hit, mas há coisa excelente ali, como "Blackbird", "Sexy Sadie", "Dear Prudence", "Rocky Racoon" e a maravilhosa e pesadíssima "Helter Skelter".
"The Wall" (1979), do Pink Floyd, surpreende ao ficar em segundo lugar. A obra máxima da banda, ao lado de "The Dark Side of the Moon" (1973), levou ao máximo as possibilidades artísticas e musicais da ópera-rock, compondo um projeto multimídia englobando cinema e musical, graças ao ambicioso show projetado para ser executado ao vivo, com cenários mirabolantes e estrutura teatral. O álbum traz um dos maiores hits de todos os tempos "Another Brick in the Wall", um torpedo violentíssimo contra o ultrapassado sistema educacional inglês – e por tabela, da maioria dos sistemas adotados no Ocidente. Quem diria que um dos mais "punks" protestos contra o sistema viria de um "dinossauro" execrado pelos punks.
"Quadrophenia" (1973), do Who, talvez a obra máxima da banda, ficou apenas em um sétimo lugar, quando mereceria, ao menos, estar entre os três primeiros. Menos pretensiosa em termos de conteúdo, mas mais ambiciosa em termos musicais do que o ótimo "Tommy" (1969, álbum também duplo e considerada a primeira ópera-rock digna do nome), traz todas as músicas compostas pelo guitarrista Pete Townshend, fato inédito na carreira do grupo. O guitarrista ainda se ressentia do fracasso do projeto anterior, "Lifehouse", de 1971, que só apareceu como obra, em fragmentos, nos anos 2000 e como trabalho solo de Townshend. O compositor foi elogiado pela crítica pela forma habilidosa como retratou a juventude inglesa de 1965 e como construiu a historia a partir dos "dados da personalidade" fragmentada de Jimmy, o personagem principal. "Quadrophenia" virou filme em 1979, tendo Sting, baixista e cantor do The Police, como um dos astros da fita.
O terceiro lugar caiu bem para "Exile on Main Street", a obra máxima dos Rolling Stones. Com músicas inspiradas gravadas em uma mansão na Riviera Francesa em 1971, o álbum duplo mostra o quinteto como aquilo que eles sempre quiseram: soar como uma banda suja e dura de blues eletrificado, passeando por várias tendências da música norte-americana, indo do blues quase rural ("Ventilator Blues") ao country ("Sweet Virginia), passando pelo soul ("Tumbling Dice") e pelo rhythm and blues ("Loving Cup"), além do rockabilly ("Rocks Off" e "Rip this Joint") e de uma sonoridade pop ("Happy") e mais hard ("Soul Survivor").
"Physical Graffiti", do Led Zeppelin, ficou em um honroso quinto lugar, mostrando igualmente a versatilidade e a variedade de temas que o quarteto já vinha demonstrando desde "Led Zeppelin 4". Por outro lado, "London Calling", do Clash, merecia uma posição bem melhor do que o nono lugar na escolha dos leitores – sem dúvida, a obra definitiva do grupo inicialmente punk, mas que se mostrou um dos maiores nomes do pop rock de todos os tempos.
1 – The Beatles – Álbum Branco (1968)
2 – Pink Floyd – The Wall (1979)
3 – The Rolling Stones – Exile on Main Street (1972)
4 – Bruce Springsteen – The River (1980)
5 – Led Zeppelin – Physical Graffiti (1975)
6 – Bob Dylan – Blonde on Blonde (1966)
7 – The Who – Quadrophenia (1973)
8 – The Allman Brothers Band At Fillmore East (1971)
9 – The Clash – London Calling (1979)
10 – The Smashing Pumpkins – Mellon Collie and the Infinite Sadness (1995)
Sobre os Autores
Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.
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