As distrações que emperram a luta contra a 'máquina'
Marcelo Moreira
A expectativa era grande. Muitos esfregavam as mãos e aproveitavam para xingar prefeito, governador e quem fosse contra a quarentena. A vida precisa continuar e prosseguir, gente, mesmo que milhares e milhares morram… "É a vida, não é?", dizia um vendedor imbecil de tênis na Galeria do Rock. nesta sexta-feira, 12 de junho, Dia dos Namorados e segundo dia de funcionamento de parte do comércio.
Muita gente ansiava pela reabertura do comércio, mesmo que parcial, e entre esses lojistas e "frequentadores" da Galeria do Rock. Ao final do período permitido de funcionamento, um conhecido que trabalhou por lá, vendendo CDs, comentou via redes sociais: "As pessoas na verdade queriam passear e bater perna. Ninguém comprou nada. Tinha mais gente do que esperado, mas, até o horário em que fiquei, ninguém tinha vendido nada."
Então era esse todo o furor por conta da reabertura da Galeria do Rock? Aparentemente, um assunto não tem relação direta com o outro, mas me lembrei da ridícula polêmica envolvendo o Rage Against the Machine nos Estados Unidos, vítima de roqueiros burros que protestaram contra a veia "política" e de muitas de suas músicas – esses imbecis demoraram 25 anos para perceber isso…
As duas questões são marginais e desviam o foco do que realmente importa: vidas importam e muito mais do que economia (no caso do Brasil) e vidas negras importam muito mais por conta do histórico tenebroso da escravidão e racismo (no caso dos Estados Unidos).
Enquanto lojistas e roqueiros sem um centavo no bolso ficam bradando contra a quarentena e "denunciando" que tem comerciante e funcionário "morrendo de fome", o Brasil ultrapassa a marca de 42 mil mortos por conta da covid-19 em três meses e se aproxima do milhão de infectados.
Mais do que isso, ignora os seguidos crimes cometidos por um irresponsável presidente de extrema-direita, que incentiva a invasão de hospitais- "é mentira que as UTIs estejam cheias", brada o imbecil" – e ameaça a sociedade com golpe de Estado ao dizer que as "Forças Armadas não cumprirão ordens absurdas e e decisões de julgamentos de caráter político", ao se referir à possibilidade de cassação da chapa Bolsonaro-Mourão no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
O rock reacionário e burro está levando vantagem na narrativa atual porque está sendo desprezado. Não está sendo levado a sério, exatamente como a maior parte da sociedade em relação aos avanços dos radicais, que não passariam de um bando de celerados esbravejando, mas sem capacidade de ir além. Latem alto, mas não mordem, dizem alguns.
Com a falta de argumentos, os indigentes intelectuais que apoiam Bolsonaro e a radicalização, principalmente os que empesteiam o ambiente do rock nacional, já defendem abertamente a ruptura institucional.
Roqueiro defendendo intervenção militar e ditadura, louvando a censura e a eliminação física de "opositores", é o mesmo que judeus defenderem nazistas e Adolf Hitler e apoiarem políticas genocidas. É a burrice em seu grau máximo.
Assim como é absurda a discussão de reabrir ou não a Galeria do Rock e o comércio em São Paulo – uma decisão estapafúrdia, temerária e que esbarra em crime contra a saúde pública diante da gravidade da pandemia e da falta de leitos em hospitais.
Enquanto nos desviamos discutindo bobagens, a sanha autoritária de Bolsonaro contamina o ambiente político e ameaça a democracia, que é torpedeada diariamente.
Os roqueiros burros e indigentes intelectuais pregam abertamente a ruptura e a maioria da sociedade não consegue romper o estado de estupor e torpor. Flerta com o desastre, mas prefere focar nos músicos que tocam enquanto o Titanic afunda.
Neste momento, o que menos importa é a Galeria do Rock funcionando ou não – continuamos defendendo o seu fechamento e o do comércio até o fim da pandemia, e que ninguém compre nada lá presencialmente neste período para lojistas gananciosos e insensíveis aprendam.
Mais do que uma questão institucional, é um dever cívico lutar pela democracia, e devemos começar por limpar os ambientes das artes e da música, empesteados por gente nojenta que atenta contra as liberdades civis e que apoia o obscurantismo e as trevas.
Os protestos dessa parte da sociedade nem podem ser considerados tímidos. O silêncio da vida cultural brasileira incomoda demais. Notas de repúdios são tão eficazes quando a cloroquina.
É hora de ocupar todos os espaços para erguer muralhas e forçar o recuo das forças do atraso. É preciso demonstrar força para mais do que resistir – é para peitar e expulsar essa gente de inspiração fascista do palco principal.
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