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Nazareth celebrará 50 anos de rock e sobrevivência no Brasil

Combate Rock

24/07/2019 06h54

Maercelo Moreira

Existem bandas que têm tudo a comemorar quando completam 50 anos de carreira, ou ao menos de sua criação. Nao existe melhor exemplo do que os Rolling Stones, que neste ano completam 57 anos de atividades sem que tenham acabado e retornado depois.

Só que, para algumas bandas,. mais do que comemorar, é necessário muito mais para marcar o cinquentenário em razão das dificuldades e dos obstáculos gigantescos que tiveram de enfrentar, como nos casos de Lynyrd Skynyrd (acidente aéreo que matou três integrantes) e Allman Brother (a morte do gênio guitarrista Duane Allman, entre outros prolemas).

Podemos encaixar os escoceses do Nazareth, que toca em São Paulo no fim do ano dentro da turnê do 50º aniversário de criação do quarteto.

Não é todo grupo que resiste ao trauma de ver um d seus integrantes morrer no palco, minutos antes do início de um show. Foi o caso do competente Darrel Sweet, que sofreu um ataque cardíaco fulminante em 1999, nos Estados Unidos.

A saúde também obrigou o vocalista Dan McCafferty a se aposentar em 2013 – justamente a voz marcante que tanto caracterizava o som do Nazareth teve de se aposentar ao descobrir uma doença pulmonar crônica que lhe dificultava demais a respiração.

A saída do cantor foi mais um buaque para uma banda que ensaiava a recuperação/ressurreição diante de um cenário favorável para bandas clássicas, como bem aproveitou o contemporâneo Uriah Heep.

Mais uma recuperação? Sim, já que o Nazareth precisou superar a aposentadoria de Manny Charlton, o cérebro criativo, em 1990 para se dedicar à produção musical (foi substituído pelo excelente Billy Rankin, que era o guitarrista da banda na primeira vez em que ela aportou em São Paulo, em 1991). E, obviamente, precisou de forças extras para ressurgir após a morte de Sweet.

Apesar do prestígio e do público fiel, o Nazareth sempre figurou numa espécie de divisão secundária do hard rock setentista, ao lado do Slade, do Humble Pie, do próprio Uriah Heep, do Mott the Hoople e de muitas outras bandas inglesas boas do período.

Praticamente descoberta por Roger Glover, então baixista do Deep Purple que iniciava a carreira de produtor, o Nazareth era considerada uma banda "caipira", com origem proletária e operária, muito assemelhada, para alguns críticos, ao inglês Slade.

Com seu som ríspido com a voz potente e rascante de Dan McCafferty, o quinteto chamou a atenção pelo som pesado e pelo forte senso melódico do guitarrista Manny Charlton, que moldou o som do grupo.

Glover deu um polimento necessário à energia musical do Nazareth, que engatou uma série de hits entre 1973 e 1977, entre eles "Hair of the Dog", "Razamanaz", "This Flight Tonight" (versão para clássico de Joni Mitchell) e o maior sucesso, a balada "Love Hurts".

Em busca da evolução musical, o hard rock feroz e urgente foi dando lugar a uma sonoridade mais suave e a músicas mais elaboradas e mais bem arranjadas.

O problema é que a nova leva de artistas do rock pesado que explodiu a partir de 1975 não tomou conhecimento e o Nazareth ficou para trás. Enquanto Kiss, Aerosmith, Bad Company, UFO e Scorpions voavam, o quarteto escocês ainda estava expermentando as novas possibilidades e caminhos.

Os anos 80 foram ainda mais difíceis quando a New Wave of British Heavy Metal, o hard rock californiano e o thrash metal tomaram conta das paradas musicais relegando as bandas setentistas ao ostracismo.

Quando o Nazareth fez a turnê conjunta com o Uriah Heep pela América do Sul, em 1995, estava em baixa e em busca de um renascimento com Rankin no lugar de Charlton – bem diferente da passagem por São Paulo cinco anos antes.

Os detratores do rock mais pesados, aqueles cérebros detonados por tanta bobagem que viriam, por algum tempo, a dominar a imprensa musical pop da época, adoravam chamar esse tipo de banda de dinossauros e ultrapassados, insinuando que somenteaqui, na periferia do mundo roqueiro à epoca, tinham público. Só teriam aceito vir à América do Sul já beirando os 50 anos de idade, em franca decadência e sem espaço no países de primeiro mundo.

oi assim que Deep Purple, sem Ian Gillan, foi tratad por aqui por alguns em sua primeira passagem pelo Brasil, em 1991. Essa visão distorcida e tosca, curiosamente, não foi estendida aos Rolling Stones em sua triunfal estreia no Brasil quatro anos depois – quando seus integrantes já tnham mais de 50 anos de idade.

Quem esteve no Olympia naquela noite mágica de 1995 vibrou com o guitarrista Mick Box e os clássicos absolutos do Uriah Heep como aperitivo para a avalanche sonora que veio em seguida.

O Nazareth esbanjou experiência e qualidade após um início nervoso, onde o som falhou algumas vezes e o microfone de McCafferty, com volume baixo na primeira música, deixou o cantor no vácuo.

Nada, no entanto, que preocupasse o quarteto, que superou os pequenos obstáculos para se transformar ora em um combo de pub barulhento e insano, ora  em uma grande agremiação de arena desfilando hits legendários.

Formação clássica do Nazareth: da esq. paraa dir., Pete Agnew, Dan McCafferty, Darrel Sweet e Manny Charlton

Os futuros problemas do vocalista com o pulmão poderia ser imaginados pela quantidade de cigarros que foram consumidos no palco, algo que parece fazer parte da existência da banda e responsável, em parte pela rouquidão característica de McCafferty.

Até então era 25 anos de palco, uma experiência e tanto, e isso se refletiu naquela noite de rock nostálgco e maravilhoso. Uma estreia em tanto, que inauguraria uma relação fantástica e duradoura com o país, tanto que em 2007 o grupo gravou em Florianópolis e Curitiba o DVD "Live in Brazil".

Por todos os percalços, é uma dádiva poder assistir novamente uma banda poderosa e histórica, ainda que com apenas um integrante original, o baixista Pete Agnew, que tem na bateria o filho Lee, que entrou no lugar de Sweet ainda em 1999.

O vocal certamente seria um problema, tanto que Linton Osborne, o substituto de McCafferty, só durou ano, Carl Sentnce, veterano músico do cenário inglês, assumiu o posto e mantém a força da banda – um acerto muito celebrado pelos fãs.

Ver o um show do Nazareth é testemunhar uma história edificante do rock inglês e uma tarefa extremamente prazerosa. Que bom que teremos mais uma oportunidade de curtir bom rock'n'roll.

NAZARETH 50th Anniversary Tour

Quando: 1 de Novembro – Sexta

Horário: 22h00

Local: Tom Brasil

Endreço: Rua Bragança Paulista, 1281 – São Paulo

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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