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Rory Gallagher ressurge em boa coletânea de raridades e gravações ao vivo

Combate Rock

06/06/2019 06h39

Marcelo Moreira 

Rory Gallagher (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A maior banda do mundo perde um de seus guitarristas em meio a uma maré de baixa criatividade e abusos hométicos de álcool e drogas. Apesar de o guitarrista "demitido" ser excelente e um prodígio, ninguém se preocupa. Afinal, são os melhores e qualquer outro instrumentista de altíssimo nível bateria na mãe para assumir o posto.

Só que um irlandês maluco recusou e preferiu ficar tocando blues com seu trio em palcos menos nobres no interior da Irlanda e da Inglaterra. E garantiu até o final de sua vida prolífica que não se arrependeu de descartar logo de cara o que ele chamou de "sondagem". Muitios dizem que é uma lenda, mas é uma das mais interessantes do rock.

Rory Gallagher é o nome da figura. Se estivesse vivo, estaria completando 71 anos de idade em março passado. E agora recebe mais uma homenagem com o lançamento de mais um trabalho póstumo.

"Blues" é uma coletânea de shows ao vivo e raridades de estúdio – o baú está cheio e parece não ter fundo. São takes gravados em programas de TV, em palcos menores da Grã-Bretanha e e algumas jams com amigos estrelados, além de gravações demo. A versão deluxe, por sua vez, aparece em versão tripla.

Memso fazendo o mínimo, Gallagher é um monstro. Toca fácil e forte, como uma usina de riffs descontrolados e incandescentes. É blues rock em estado puro e bruto, mas com um virtuosismo estonteante.

As performances editadas neste álbum compreendem gravações feitas entre 1973 e 1986 privilegando as canções mas blues, mas nem sempre, como "As the Crow Flies", das sessões de preparação para registrar o álbum "Tattoo".

"A Millons Miles Away" é uma versão extraordinária feira para um programa da BBC, emissora de TV de Londres, em 1973, com o irlandês no auge da carreira, tovcando furiosamente e deixando todos petrificados.

Também são destaques canções registradas no estúdio mas que não foram editadas nos álbuns dos anos 70 (pelo menos não nestas versões, completamente diferentes), como a ótima "Don't Start Me Talkin'" e a clássica "Nothin' But The Devil". 

Não é a melhor coleção póstuma de Gallagher, embora "Blues" seja bem interessante – "Notes From San Francisco", de 2011, é mais abragente e consegue reunir o que o músico fez de melhor em sua curta carreira. No entanto, o novo CD serve para resgatar um pouco da genialidade do mito irlandês da guitarra.

E a lenda? 

A lenda diz que Gallagher foi convidado a substituir Mick Taylor nos Rolling Stones na virada de 1974 para 1975.

Keith Richards, o mestre das seis cordas da banda, estava irado com o que chamou de petulância de Taylor ao tentar "ensinar" aos outros membros como tocar.

Após a saída pouco amigável do colega, afirmou a uma revista inglesa que a banda tinha convidado Gallagher. Posteriormente, desmentiu e disse que os empresários dos Stones apenas fizeram uma sondagem.

O irlandês nunca gostou de tocar no assunto. Sempre afirmou que foi apenas sondado, mas em algumas vezes disse que recebeu um convite formal de Mick Jagger.

O maluco mas virtuoso guitarrista Rory Gallagher, um dos maiores talentos subestimados do rock, tem recebido justas homenagens ao longo dos anos, com lançamentos interessantes.

Um deles foi "The Beat Club Sessions", que é uma reunião de algumas das participações de Gallagher no famoso programa de televisão alemão, que esteve no ar entre 1965 a 1972 recebendo bandas como The Who, os próprios Rolling Stones e o Led Zeppelin para aparições ao vivo.

O guitarrista apareceu quatro vezes entre 1970 e 1972, sendo uma delas com sua primeira banda, o Taste. Logo abandonou o grupo para encarar a carreira solo, embora fosse tímido ao extremo.

E a compilação capta o melhor das perfomances de Gallagher, que era muito melhor ao vivo – ouça e adquira de qualquer forma os álbuns "Live in Europe", de 1972, e "Irish Tour", de 1974.

As perfomances ao vivo foram elogiadas por gente como Ritchie Blackmore e Roger Glover, do Deep Purple, Rod Stewart e Ron Woods, dos Faces (este último herdaria a vaga nos Stones) e por Pete Townshend, do Who.

Era um guitarrista de poucos efeitos, mas de muito feeling e muita energia, com um conhecimento absurdo de timbragens e amplificadores.

Foram 16 álbuns em 30 anos de carreira, desde o surgimento do Taste, em 1965, até a sua morte, em 1995, causa por uma infecção hospitalar após um malsucedido transplante de fígado – era um beberrão de primeira e alcoólatra assumido.

Quando de sua morte, a revista Rolling Stone norte-americana colheu alguns depoimentos de músicos não muito importantes na história do rock: "Rory foi um dos grandes guitarristas de todos os tempos e um grande cavalheiro, uma pessoa muito simples", declarou Bono Vox, líder do U2, outra banda irlandesa.

Correm pela internet textos com versões de uma suposta declaração de Jimi Hendrix a respeito do irlandês maluco. Ninguém nunca atestou a veracidade, mas é excelente com lenda.

Após a apresentação de Hendrix no Festival da Ilha de Wight de 1970, que também teve o Taste atração, um repórter perguntou: "Como é a sensação de ser o melhor guitarrista do mundo?" Hendrix não perdeu tempo: "Eu não sei. Vá perguntar a Rory Gallagher."

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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