China Lee, do Salário Mínimo, ensaia um 'longo' adeus dos palcos
Marcelo Moreira
China Lee é uma pessoa que não costuma deixar nada sem resposta ou explicação. Afável, mas contundente, faz questão de deixar seu recado, e sempre de forma cordial. Ganha muito mais fãs e amigos do que perde em tempos de polarização política exacerbada – não teve medo de expor nos últimos tempos ao apoiar candidatos conservadores em eleições recentes.
Entretanto, o China Lee que nós nos acostumamos a ver, como vocalista do Salário Mínimo e do Extravaganza, além de produtor incansável de shows do rock nacional, surpreendeu a todos quando informou nas redes sociais que estava prepaando o seu adeus dos palcos e do rock em si.
A repercussão foi grande e deu um susto no músico, e ele tratou de detalhar os seus planos daqui para frente. "Ser pioneiro também cansa", diz o cantore brincando em entrevista ao Combate Rock.
Muito articulado e consciente da qualidade de seu trabalho, afirma que sua jornada que hoje chega a 37 anos nos palcos vai chegar ao fim por conta da idade e de certo desencanto com o cenário artístico e musical da atualidade.
O bom humor fica de lado quando ele comenta a sua tristeza por um mercado tão degradado que predomina atualmente. "Estou triste também, não vejo perspectivas de melhora. O público sumiu dos shows de heavy metal muito por conta da crise econômica, mas também porque perderam o gosto pela coisa."
Ele continua: "Temos de ser profisisonais e manter as apresentações com um mínimo de qualidade, mas fica complicado quando a média de público não ultrapassa 100 pessoas quando produzimos shows de bandas nacionais de rock pesado. O público escasseia e vejo poucas bandas se desdobrando para mudar esse cenário. É legal quando Shaman, Edu Falaschi e Angra conseguem lotar casas de porte médio, mas infelizmente esses eventos são exceção."
A retirada da vida musical ainda não tem data marcada. China Lee disse que ainda tem vários contratos em vigor para cumprir e tem de conversar com bandas e produtores para estabelecer como pretende proceder.
"Pode ser que eu consiga fazer tudo em um ano, ou em quatro dependendo do que eu conseguir viabilizar até lá. Tenho algumas coisas em mente, como uma grande coletânea do Salário Mínimo, editar um dois DVDs com parte da minha trajetória. Será uma saída em grande estilo", afirma o músico.
Os projetos para os próximos anos – torçamos para que ele adie ao máximo o seu adeus – inclui também um projeto acústico ue vai envolver o grande amigo Ricardo "Micka" Mickaelis, guitarrista e vocalista da banda Santuário e que hoje trabalha como publicitário e diretor de vídeos.
É de sua autoria o projeto "Brasil Heavy Metal", um extenso documentário sobre a história do heavy metal no Brasil, com grande foco nos artistas dos primóridos do gênero. Micka está finalizando um álbum do Santuário, que pode ser o último da banda.
Uma coisa que se enquadra na chamada "tristeza" que o afeta quando fala do mercado nacional é o projeto chamado "Sper Peso Brasil", que rendeu um minifestival e um DVD anos atrás reunindo grandes bandas pioneiras do metal nacional, como Taurus, Stress, Centúrias, Metalmorphose e o próprio Salário Mínimo.
O evento ocorreu em novembro de 2013 e tnha tudo para engatar uma sequência fenomenal de shows, mas a conjuntura não favoreceu, como a crise econômica a partir de 2015 e a desarticulação dos próprios artistas.
"Estive diretamente envolvido com o evento e realçmente foi um marco para a música nacional reunir aquelas cinco bandas. A mudança de André Bughinzoli (músico do Metalmorphose) para a Europa atrapalhou a possível retomada, mas ainda assim eu percebi que não havia entusiasmo de grande parte daqueles que poderiam se envolver, desde artistas e público até a infraestrutura para fazer a coisa rolar. A verdade é que é bem dispendioso produzir um evento como esse e ter como garantia financeira somente a bilheteria. O risco de prejuízo é muito grande", lamenta China Lee.
Incansável, o cantor garante que não diminuir suas atividades ligadas à música até o seu adeus final – e olha que ele ainda cuida de uma empresa familiar que atua no ramo alimentício. "Tenho imenso orgulho do que fiz em minha carreira, inclusive dos erros e dos problemas por que passei", diz rindo de satisfação. "Quem sabe ao não chego aos 40 anos de palco para enfim descansar? Quero que os últimos projetos estejam à altura do que fiz e que se tornem um legado bacana de alguém que sempre lutou pelo rock nacional."
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