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Virada Cultural redescobre bandas brasileiras clássicas dos anos 70

Combate Rock

17/05/2019 07h06

Marcelo Moreira

Casa das Máquinas (FOTO: DIVULGAÇÃO)

A pobreza roqueira nas últimas edições da Virada Cultural de São Paulo, aliada à lista dos supostos cachês das principais "estrelas" do evento, tem desestimulado debates a respeito do espaço destinado ao gênero musical.

A chiadeira é grande e tem as suas razões, mas ao menos a edição deste ano surge com alguma surpresas, como a escalação do Sepultura como atração principal e uma homenagem mais do que justa a bandas importantes dos anso 70 que ainda estão na ativa ou que se juntaram há pouco para encarar um "revival".

Ok, muitos vão falar que a homenagem veio tarde, já que esperou a Patrulha do Espaço acabar e deixou de lado o Made in Brazil, justamente agora que seus fundadores, os irmãos Celso e Oswaldo Vecchione, chegaram aos 70 anos de idade.

Mas é muito bom saber que será possível ouvir no Sesc Santana bandas importantes como o Som Nosso de Cada Dia, O Terço e Casa das Máquinas, que integraram um movimento, vamos chamar assim, de rock progressivo nacional na segunda metade dos anos 70, que incluía também a Patrulha do Espaço, o Bacamarte e mais uma série de artistas que exploravam outros tipos de sonoridades.

O Som Nosso de Cada Dia é aquele talvez mais mergulhou na seara progressiva, incorporando elementos do rock inglês mais experimental.

Com quase 50 anos de atividade, passando por diversas formações e caminhos musicais e poéticos distintos, além de vários hiatos no período, o grupo foi formado em 1972 por Pedro Baldanza, o Pedrão, Pedrinho Batera e Manito.

Seu grande momento foi o lançamento do LP "SNEGS", em 1974, considerado por muitos um dos maiores clássicos do rock brasileiro. O grupo tocará o álbum na íntegra às 18h de sábado, dia 18 de maio.

Às 23h será a vez da reformulada Casa das Máquinas subir ao palco, agora com o ótimo vocalista João Luiz, que também canta no Golpe de Estado, a melhor banda de hard rock do Brasil.

Estreando um novo show e nova formação, a banda alia psicodelia e muito peso, com clássicos como "Casa de Rock", "Vale Verde", "Lar de Maravilhas", "Vou Morar no Ar", bem como novas canções.

São apenas seis discos em sua discografia,de uma longa carreira de 46 anos. A banda começou quando José Aroldo Binda (Aroldo) e Luiz Franco Thomaz (Netinho), dois ex-integrantes da banda Os Incríveis, juntou-se a Carlos Roberto Piazzoli conhecido como Pisca, Carlos Geraldo Carge, ex-integrante da banda Som Beat, que tocava baixo e guitarra, e Pique, ex-integrante da banda de Roberto Carlos que tocava órgão, piano, saxofone e flauta.

No começo ficaram conhecidos como "os novos Incríveis", fazendo shows por todo o Brasil. Seu repertório incluía músicas de Elvis Presley, Paul Anka, Chubby Checker, Neil Sedaka, entre outros. Nas apresentações vestiam figurinos, se maquiavam e davam grandes performances teatrais no palco.

Em 1974 entraram em estúdio e gravaram seu primeiro LP, intitulado "Casa das Máquinas". Neste primeiro disco a banda seguiu um padrão mais hard rock, que lembrava muito o estilo dos Incríveis.

Com a saída de Pique, logo depois da gravação disco, a vaga se abriu para um virtuoso tecladista da época, Mario Testoni Jr., que trouxe Marinho Thomaz (bateria), irmão de Netinho, ambos deram um grande vigor para a banda na época, foi uma das primeiras bandas de rock a usar dois bateristas. Entraram em estúdio em 1975 e gravaram "Lar de Maravilhas", onde foi adotado um estilo mais progressivo. 

Nos anos 80, a banda perdeu espaço, ainda que tenha mantido o pique por um bom tempo. Na década seguinte, junto com a Patrulha do Espaço, do baterista Rolando Castello, liderou o "revival" das grandes bandas progressivas e de hard rock setentistas.

O Terço (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Comemorando 50 anos de atividade, O Terço toca no Sesc Santana no domingo, dia 19, às 18h. É o começo de uma turnê de aniversário que vai reunir artistas importantes que já passaram pela banda.

Flávio Venturini, Sérgio Hinds, Sérgio Magrão, Sérgio Melo e Cezar de Mercês vão tocar os principais sucessos dos 21 discos gravados.

O Terço originou-se basicamente de dois grupos, o Joint Stock Co. (que integrava Jorge Amiden, Vinícius Cantuária, Cezar de Mercês e Sérgio Magrão) e Hot Dogs (que integrava Sérgio Hinds). Todos eles fariam parte da banda em diversas ocasiões.

O grupo tomou forma no final da década de 1960 e a primeira formação foi tinha Sérgio Hinds no baixo, Jorge Amiden na guitarra e Vinícius Cantuária na bateria. Esta formação gravou o seu primeiro LP em 1970, com uma mistura de rock dos anos 50, folk e música clássica.

Com a canção "Velhas Histórias", composta por Renato Côrrea e Guarabyra, o grupo ganhou o Festival de Juiz de Fora. Em um festival universitário, a banda ficou em 2º lugar defendendo a música "Espaço Branco" de Vermelho e Flávio Venturini (que mais tarde viria a integrar o grupo).

A banda também classificou as músicas "Tributo ao Sorriso" (3º lugar) e "O Visitante" (4º lugar), em duas edições do Festival Internacional da Canção (FIC), o que levou a banda a se tornar o grupo revelação pela mídia especializada, com destaque para o vocal trabalhado em falsete, que era uma das características da banda.

Nos anos 80, a sonoridade saiu do rock calcado na MPB e no progressivo para enveredar pelo hard rock, influenciando uma geração de garotos que partia para um som mais pesado – galera que viria a criar anos depois o Harppia, o Golpe de Estado, o Centúrias e muitas outras.

Mais atrações do Sesc Santana na Virada Cultural:

Bonifrate | 18/05, às 20h30

Após dois anos longe dos palcos, Bonifrate apresenta ao vivo novas composições e faixas dos álbuns "Um Futuro Inteiro", "Museu de Arte Moderna" e dos EPs "Toca do Cosmos" e "Lady Remédios". No novo formato, reconstrói suas canções sozinho no palco sobre camadas de loops e mantras envolvidos por violão, harmônica, percussões e teclado.

Local: Deck do Jardim. Livre. Grátis.

Bike | 18/05, às 21h30

Há três anos na estrada, a BIKE segue em turnê com seu terceiro álbum, "Their Shamanic Majesties' Third Request", mergulhado em um universo exótico e soturno – que vai além das guitarras psicodélicas e os tradicionais vocais reverberados. Nesse momento, à sonoridade psicodélica do grupo se juntam o toque dos tambores, percussão indígena e o experimentalismo, apontando para um caminho musical mais sereno e maduro.

Local: Solário. Livre. Grátis

Homenagem a Júpiter Maçã | 18/05, às 22h30

O cantor e compositor gaúcho Júpiter Maçã (1968-2015) foi um dos ícones do rock independente brasileiro nas décadas de 90 e 2000, com sua sonoridade que remetia ao psicodelismo dos anos 60 e 70, aliado às suas letras com imagens surrealistas. Para homenagear sua trajetória, músicos que colaboraram e fizeram parte da banda que acompanhava o artista nas mais diversas fases, executam versões emocionantes e emocionadas da obra de Jupiter Maçã.

Local: Deck do Jardim. Livre. Grátis

Olho Nu | 18/05, às 18h e às 22h

Olho Nu é um espetáculo de dança que discute Hip Hop e fragilidade, ressaltando as fragilidades deste corpo potente e, ao mesmo tempo, revelando todo o potencial criativo existente por trás destas fragilidades. Olho Nu oferece ao expectador um olhar diverso e aproximado do universo Hip Hop e de sua dança.

A Companhia Híbrida foi fundada em 2007 pelo diretor e coreógrafo Renato Cruz, dentro do projeto social 'Arte É o melhor Remédio' (patrocinado via Lei Federal de Incentivo à Cultura desde 2012), sua composição básica era de alunos das oficinas de danças urbanas ministradas nos anos anteriores.

Local: Área de Convivência. Livre. Grátis

Jorge K | 18/05, às 19h e às 21h

Jorge k é camelô e arteiro viajante e como tal se comporta perante a plateia tentando impressionar, divertir e chamar atenção para o produto que vende: o "remédio para a alma e o espírito" – a Arte. Na performance ele conta como surgiu sua criação – segundo ele "o 1º Food Truck de Arte do Brasil", a oitava maravilha do mundo contemporâneo, e apresenta ao público o grande circo da arte onde "Nada se cria, tudo se apropria".

Jorge Luiz Fonseca trabalhou como professor do Departamento de Artes da UFJF e diretor de criação e produção de grupos de artesãos. Sua formação artística é autodidata com diferentes vivências e experiências profissionais como: maquinista de trem, marceneiro, designer de móveis, designer de moda e arte-educador.

Local: Deck de Entrada. Livre. Grátis

Mescalines | 19/05| domingo, das 15h às 16h

Com sua narrativa sonora, o Mescalines constrói uma ambientação preenchida por influências orientais e batidas africanas, regadas a improvisos e melodias criadas pelo duo. Um ritual onde o transe toma conta do espetáculo e coloca o ouvinte frente a frente com o seu primitivo.

Local: Deck do Jardim. Livre.  Gratuito. Sem retirada de ingressos.

Ema Stoned | 19/05, às 17h

Formada em 2011, Ema Stoned é um trio feminino instrumental fortemente influenciado por rock psicodélico, noise, jazz e experimentalismo. A banda teve passagens arrebatadoras com a sua "Around Galaxies Tour" por expressivos festivais em São Paulo, Santa Catarina, Goiás e Pará. Com o lançamento do seu primeiro álbum em 2019, a banda segue experimentando novas sonoridades e formatos.

Local: Deck do Jardim. Livre. Grátis

Vitor Araújo | 19/05, às 16h

O novo trabalho de Vitor Araújo traz fortes influências de The Knife, Björk, Animal Collective e Radiohead, e é completamente diferente de tudo que Vitor já lançou, com forte presença percussiva e o casamento entre elementos eletrônicos e orquestrais. Em sua versão ao vivo foi mantido o caráter orgânico das percussões, mas agora os elementos acústicos e orquestrais dão lugar a uma formação de banda experimental. Guitarras, samples, synths, e computadores se unem ao piano de Vitor e tomam conta do palco.

Local: Solário. Livre. Grátis.

SERVIÇO

18 e 19/05. Sábado das 18h a domingo às 18h.

Grátis. Recomendação etária: Livre.

Local: Solário, capacidade: 500 lugares.

Av. Luiz Dumont Villares, 579 – Jd. São Paulo

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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