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Greta Van Fleet e The Brew: o futuro está cada vez mais no passado

Combate Rock

19/10/2018 06h42

Marcelo Moreira

O som é datado e remete a um passado idílico, onde todos os ouvintes da banda adorariam ter estado em alguma edição do festival britânico de Knebworth nos anos 70, viajando ao som do Led Zeppelin. Ou, quem sabe, curtindo adoidado Jimi Hendrix em seus estertores, seja nos festivais de Woodstock ou Ilha de Wright.

E então sacamos que, finalmente, temos o primeiro álbum dos caipiras norte-americanos do Greta Van Fleet e sua cópia descarada de todos os sons e vocais da banda de Jimmy Page e Robert Plant – ok, isso já era mais do que esperado. Pelo menos os ingleses de The Brew (também conhecido como The Brew UK) mostram mais personalidade em seu novo trabalho.

Os moleques do Greta são a grande sensação roqueira nova deste ano, por mais que seja irritante a imitação do Led Zeppelin. Transformaram essa "desvantagem" na grande força de seu trabalho, por mais paradoxal que seja.

Muitos vão dizer que é implicância de roqueiro velho – coisa de quem não tem argumentos sólidos sobre a questão -, mas o fato é que o som dos quatro garotos ultrapassa, e muito, a mera semelhança.

"Anthem of the Peacful Army", que chega neste final de semana o mercado, é uma grande evolução em relação aos dois EPs anteriores – que foram reunidos em um só no EP de oito músicas "From the Fires", do ano passado.

Os caras têm garra, isso é inegável. Canções fortes como "Safari Song" e "Highway Tune", do EP reunido, ganharam os serviços de streaming do mundo inteiro e transformaram um quarteto interiorano dos Estados Unidos em sensação roqueira mundial.

O primeiro álbum não tem, ainda, um grande hit potencial, mas já mostra um amadurecimento na composições, que melhoraram bastante. Eles encontraram soluções melódicas interessantes para canções versáteis e, de certa forma, simples. Só que a grande questão que fica é: tudo é muito, mas muito parecido com Led Zeppelin. Demais da conta.

A trinca que abre o disco define o que é a obra: força, garra, peso e trabalho de guitarras muito bom. "Age of Man" é uma canção forte e tensa, que mostra o que a banda está se tornando. "The Cold Wind" é um pouco mais lenta, só que levada que remete diretamente ao álbum "Houses of the Holy", o quinto do Led Zeppelin, de 1973.

"When the Courtain Falls", a primeira música a ser liberada para o mercado, é a melhor do álbum e, outro paradoxo, a mais zeppeliniana. As guitarras estão mais na cara e a letra faz algum sentido – em meio a um excesso de ode às namoradas, amantes, esposas e afins. Traz o melhor vocal entre as 11 músicas.

A imitação ao Led chega ao ponto de interferir na distribuição das faixas ao longo do álbum, remetendo aos cinco primeiros discos da banda inglesa.

A desaceleração proposital na segunda metade, com canções baseadas no violão, puxam o clima para o folk e para o country, com quatro baladas e semibaladas, como a bela "Mountain of the Sun" e a interessante "Anthem".

Greta Van Fleet não surpreendeu em seu álbum de estreia, fez exatamente aquilo que se esperava dos quatro garotos na casa dos 20 anos e apaixonados por Led Zeppelin.

Foram um pouco além, é verdade, com músicas um pouco mais maduras e com arranjos interessantes. A discussão agora é a seguinte: até quando vão se sustentar em cima dos riffs de Jimmy Page?

Esse tipo de problema não afeta o trio The Brew. Um dos pioneiros da onda revival dos anos 70, ao lado dos norte-irlandeses de The Answer, a banda bebeu demais no rock pesado e psicodélico de Jimi Hendrix, Cream e o início do Jeff Beck Group.

"Art of Persuasion", recém-lançado, o sétimo de estúdio, aponta para uma nova direção ao som do trio. Era um caminho lógico a seguir depois de "Shake the Tree", de 2016, o melhor do grupo até então.

O novo trabalho não supera o anterior, que tem músicas melhores e um clima mais hard rock, mais pesado. Essas características perdem um pouco de espaço para um aprofundamento no mundo psicodélico, com passagens instrumentais mais longas e solos mais elaborados.

O peso não foi abandonado, mas a velocidade abaixou. "Seven Days Too Long" abre o CD com uma porrada, dando a entender que a pegada do disco anterior seria a mesma, só que a segunda canção, a angustiante "One Line Crimes", já aponta para outras direções, seja na letra mais intimista, seja nos arranjos mais elaborados.

"Boomerang Fool" remete diretamente ao Jimi Hendrix Experience, com sua profusão de efeitos na guitarra e arranjos mais experimentais, algo que ocorre também em "Pointless Pain" e na quase desesperada "Excess".

"Carry the News" e "Ghost of the Nation", um pouco mais politizadas e pesadas, podem ser consideradas as melhores do CD, ao lado da música de abertura.

No final das contas, até pela experiência de mais dez anos a mais de carreira – os ingleses surgiram em 2005, e o Greta, em 2015 – colocam The Brew em vantagem na questão artística, embora os norte-americanos sejam a banda do momento.

São dois álbuns interessantes, que mostram visões diferentes de grupos que surfam na mesma onda setentista que muitos outros, como The Vintage Caravan (Islândia), Graveyard e Grand Magus (ambos da Suécia), Zodiac (França), Kadavar, Samsara Blues Experiment e Siena Root (os três da Alemanha) e The Answer (Irlanda do Norte), além de  mais alguns outros.

Poderão sustentar essa onda? Por mais algum tempo, sim, mas em algum momento terão de mostrar novas cartas – coisa que The Brew já se aventura a fazer e que The Answer já fez em seu ótimo CD mais recente, "Solas".

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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