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Pop Javali e Fabiano Negri: sofisticação, peso e qualidade vindos do interior de SP

Combate Rock

06/07/2017 06h51

Marcelo Moreira

De um lado, sofisticação e melodias marcantes. De outro, a urgência do hard rock em canções rápidas, pesadas e virtuosas. E eis que artistas do interior de São Paulo estão produzindo alguns dos melhores rocks do Brasil na atualidade.

De Campinas o bardo Fabiano Negri, ex-vocalista do Rei Lagarto e atual da banda Dusty Old Fingers, volta com um EP ainda mais impactante do que o álbum "Maybe We'll Have a Good Time… For the Last Time", de 2015, e o projeto Z.3.R.O., de 2016.

Cantor versátil e multi-instrumentista, Negri acaba de lançar "When Nothing Is Right, Anything Is Possible", um trabalho recheado de mensagens positivas e carregado de otimismo.

Se nos dois trabalhos anteriores ele visitou o rock banhado de soul e rhythm & blues e as batidas eletrônicas e modernas com traços dark, agora opta por uma mistura de rock britânico dos anos 60 e 70 mergulhados em guitarras psicodélicas e arranjos calibrados, tudo temperado por um bom gosto e muitas referências históricas.

São cinco músicas que compõem um mosaico de timbres bacanas, exalando uma atmosfera de alto astral, quase como um tributo ao verão do amor de 1967, o que, de certa forma, podemos extrair da ótima "Dear Captain", a melhor da canções.

"Modern Old Times" é rica em texturas psicodélicas, que casam perfeitamente com a letra irônica e saudosista, além de guitarras bem entrosadas e que dialogam bem com a intrincada melodia.

"Absolutely" é outro destaque, mais reflexiva e com uma ambientação acústica perfeita, que serviram para que Negri desfilasse sua versatilidade vocal. Cinco canções apenas, que deixaram clara a necessidade de o artista lance mais coisas o mais rápido possível – e o legal é que o EP é apenas a primeira parte de algo maior mais extenso.

Fabiano Negri (FOTO: DIVULGAÇÃO)

De Americana, pertinho de Campinas, o power trio Pop Javali não perdeu tempo e coloca nas lojas ótimo "Resilient", o sucessor de "Game of Fate", coroando as celebrações de 25 anos de carreira.

Equilibrando-se entre a vida artística e os compromissos profissionais de suas carreiras, os três integrantes suaram para manter a banda na estrada e o esforço compensou: "Resilient", o terceiro álbum de inéditas, chega apenas um ano depois do lançamento de "Live in Amsterdam", que registra um show quente e cáustico realizado na capital holandesa.

O trabalho conta com a produção firme e sem firulas de Andria Busic (ex-Dr. Sin), que conseguiu extrair o hard rock direto e urgente do Pop Javali.

Se em "Game of Fate" houve uma preocupação maior com arranjos e uma produção mais limpa, no novo álbum as coisas estão mais pulsantes.

A guitarra de Jaéder Menossi não está menos virtuosa ou densa, mas está mais pesada e orgânica. Ela conduz a pancada em "A New Beginning" e "Hollow Man", que abrem o álbum de forma alucinante.

O baterista Loks Rasmussen consegue, por sua vez, um equilíbrio interessante entre a pegada pop quebrada de Stewart Copeland (The Police) e uma agressividade suingada de Carmine Appice (Beck, Bogert & Appice, entre outros), visível/audível em "Hollow Man" e na exótica "Shooting Star".

Em alguns momentos é possível observar certos tiques de Dr. Sin aqui e ali, cortesia da mão calibrada de Busic, e o trio soube muito bem aproveitar a influência de uma produção estrelada como essa.

Marcelo Frizzo evita maiores exageros nos vocais e consegue muito bons resultados quando se dedica a uma interpretação mais incisiva, como em "Reasonable" e "Show You the Money", onde o seu baixo, coincidentemente, ganha proeminência, em linhas que tornam o instrumento quase uma guitarra rítmica – ecos de John Entwistle (The Who), certamente.

O álbum atinge o ápice com as pesadas "Broken Leg Horse" e "Resilient", velozes e pesadas, despejando uma saraivada de referências setentistas, que vão de Uriah Heep e Judas Priest a Bad Company e Queen.

Frizzo não economiza energia e consegue com eficácia equilibrar agressividade e força em seu vocal agudo. O resultado é muito bom, transformando "Resilient" em um trabalho de alta qualidade e diferenciado dentro do panorama nacional atual.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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