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Monkees, a primeira boy band da história, surgiu há 50 anos

Combate Rock

14/09/2016 06h38

Marcelo Moreira

Eles foram a primeira "boy band" da história, e também a pimeira criada especificamente para a televisão – e existem dúvidas de que possam ter sido o primeiro grupo de rock artificial. só que, também, foram a primeira banda "artificial" a se rebelar contra os seus "criadores" e mostrar que tinham talento e dotes artísticos.

Os Monkees estão comemorando 50 anos da estreia do programa de televisão que ficou famoso na TV americana entre 1966 e 1968 – e que foi intensamente reprisado nas emissoras do Brasil e do mundo ao longo dos anos 70 e parte dos anos 80.

As comemorações incluíram uma turnê pelos Estados Unidos com os três músicos ainda vivos – os norte americanos Michael Nesmith (guitarra e vocais), Peter Tork (guitarra, baixo e vocais) e Micky Dolenz (vocal e ocasionalmente bateria), todos septuagenários. Davy Jones, que era vocalista, era o único inglês e morreu aos 66 nos de idade em 2011, vítima de um ataque cardíaco. Nesmith, em princípio, não participaria da turnê, mas os produtores informaram recentemente que existe a possibilidade de o guitarrista subir ao palco em alguma socasiões

A efeméride também está sendo marcada pelo lançamento de um disco de músicas inéditas com produção de Adam Schlesinger, produtor musical da série "Crazy Ex-Girlfriend". "Good Times" tem Nesmith tocando e compondo.

As duas músicas mais legais também são os dois primeiros singles, que foram lançados no primeiro semestre, e que são bem interessantes.

"Me and Magdalena" é uma composição de Ben Gibbard, músico da banda Death Cab for Cutie, e tem os vocais de Nesmith. É uma faixa que remete diretamente a Crosby, Stills,  Nash & Young e à própria carreira solo de Mike Nesmith. É um country-folk honesto, bem executado, mas sem brilhantismo.

O segundo é "You Bring the Summer", com vocais principais de Micky Dolenz e de apoio de Peter Tork. a qualidade já melhora um pouco, fazendo referência direta ao pop básico da banda nos anos 60 – o tema de verão e sol não foi escolhido à toa. a canção é de autoria de Andy Partridge, da banda XTC.

Estreia em alto nível

O seriado estreou na rede norte-americana NBC no dia 12 de setembro de 1966. De acordo com as sinopses da época, a ideia era mostrar uns moleques meio abilolados, mas simpáticos – inadvertidamente, serviram de contraponto à juventude contestadora e psicodélica da época.  Afinal, os Monkees eram simpáticos demais, divertidos demais, inofensivos demais.

A história diz que a banda surgiu de uma ideia da rede de TV para, por meio de jovens bonitinhos e "boa pinta", para criar um grupo que "rivalizasse" com os britânicos Beatles.

Bem direto e sem nenhuma sutileza, os executivos queriam imediatismo e não tinham nenhuma preocupação artística: não era necessário saber tocar nenhum instrumento, apenas cantar as músicas que eram elaboradas e compostas por compositores especialistas em criar hits fáceis e grudentos – o que, mesmo assim, garantiu que alguns clássicos surgissem na voz dos Monkees, como "Daydream Believer", "I'm a Believer", "Last Train to Clarksville", entre outros

Quando foi ao ar, "The Monkees", a série, foi um sucesso, assim como os dois primeiros álbuns, lançados entre 1966 e 1967, em que os quatro intehrantes –  Mick Dolenz, Michael Nesmith, Peter Tork e Davy Jones – apenas cantavam sobre a base de uma banda de estúdio contratada entre os melhores músicos de Los Angeles.

Apesar do sucesso e de índices de audiência satisfatórios, eram muitos os problemas que envolviam os projetos. Havia briga feia nos bastidores pelo controle artístico e administrativo da banda. A direção da NBC também criticava fortemente os roteiros dos episódios, que considerava ora infantis demais, ora avançados demais, dependendo do tema.

Rebelião

E aí aconteceu o impensável, o que ninguém esperava: a rebelião dos quatro integrantes da banda, que queriam mais autonomia e direito de influir nos roteiros, na escolha das músicas e na seleção dos compositores.

Não bastasse isso, veio a suprema heresia: eles queriam tocar tanto ao vivo como no estúdio, embora Dolenz e Jones soubesse apenas os rudimentos de alguns instrumentos. O resultado: ao final da segunda temporada da série televisiva, o programa foi cancelado.

Fora das garras da NBC e dos empresários ligados à TV, os quatro partiram para gravar os álbuns "Headquarters" (1967) e "Pisces, aquarius, capricorn & Jones Ltd." (1968).

Com composições próprias e novo direcionamento musical, os Monkees cresceram artisticamente, mas desabaram em termos de vendas.

Enquanto Beatles, Rolling Stones, The Who, The Doors e outras bandas explodiam em criatividade e lançavam obras maravilhosas, os Monkees começaram a ser vistos, ao final de 1968, como uma excrescência, representantes de um som antigo, do século anterior, aferrados a um esquema de canção pop que fazia sentido cinco anos antes, e não mais em um mundo convulsionado e dividido entre a paz e o amor da psicodelia e o radicalismo do blues rock pesado – a gênese do heavy metal.  os quatro não seguraram a barra e, com isso, foi o início do fim.

 

The Monkees (FOTO: DIVULGAÇÃO)

The Monkees (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Banda artificial?

Apesar da origem complicada e que enseja restrições pelos puristas, os Monkees foram uma banda bem legal, com um apelo pop estupendo, estando cercado por uma produção gigante, que se encarregava de tudo, incluindo músicos de apoio e compositores especializados – fatos que irritaram, e muito, o quarteto no final dos anos 60, e que contribuiu para a deserção dos músicos e o fim oficial, em 1971..

Após o fim do grupo, em 1971, o Monkees tentou retomar as atividades em diversas outras oportunidades.

Foram vários os retornos nos 40 anos seguintes, o último em 2013, já sem Jones e com Nesmith de volta. Foram somente dois álbuns com músicas inéditas neste período, "Justus" e Then and Now", ambos muito ruins

Apesar de nitidamente surgir como uma resposta aos Beatles, o sucesso extrapolou as mais altas expectativas.  No início, deveria ser apenas uma atração de TV – começou como um seriado -, com a realização de shows ocasionais.

Os músicos/atores (mais atores do que realmente músicos) foram selecionados em 1965 a partir de audições específicas e concursos.

Os quatro selecionados começaram a gravar os episódios da série no ano seguinte em um ritmo frenético, enquanto gravavam músicas pop de vários compositores, alguns contratados exclusivamente para abastecer os álbuns.

Entre os milhares de candidatos a monkee que participaram da seleção estava Stephen Stills, que futuramente tocaria no Buffalo Springfield e no maravilhoso Crosby, Stills, Nash & Young.

Dos quatro selecionados, Nesmith e Tork eram músicos dce formação. Dolenz foi ator mirim na TV norte-americana nos anos 50 e, nos anos 70 e 80, se tornou um respeitado ator de teatro na Inglaterra e nos Estados.

Já Jones era ator de formação – e ficou famoso no futuro por ter "obrigado" um certo cantor David Jones, de Londres, a trocar o seu nome em 1966, quando do lançamento de seu primeiro álbum – tornou-se David Bowie.

Como atores, o ritmo de trabalho era intenso, e piorou com o aumento do número de shows, quando se apresentavam com uma banda de apoio.

No estúdio, eles apenas cantavam, com uma série de músicos de estúdio participando das gravações, sempre com músicas escolhidas a dedo pelos produtores, mas aos poucos começaram a enfiar algumas composições próprias, como "You Just May Be the One", de Nesmith, o melhor instrumentista deles. a canção é uma das melhores já gravadas pela banda.

Sucesso e respeito

A "armação" deu tão certo que os shows e os álbuns ficaram tão importantes quando o seriado de TV, e os Monkees se tornaram de fato uma banda de pop/rock no verdadeiro sentido da palavra, fazendo turnês extensas com músicos de apoio.

Tanto que o seriado acabou depois de três temporadas, em 1968, mas a banda continuou existindo sem vínculos com a emissora de TV – e sem as amarras que os impediam de gravar suas próprias composições, brecadas pelos produtores musicais. O programa televisivo acabou e 1968.

Foto promocional da banda no lançamento do seriado, em 1965 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Foto promocional da banda no lançamento do seriado, em 1965 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Ironicamente, o fim do seriado na TV foi o início do declínio, já que o tipo de pop bobinho, açucarado e inofensivo havia muito tempo estava fora de moda, atropelado pelo movimento hippie, pela psicodelia e pelas canções de protesto. Ainda houve tempo para um projeto ambicioso, a filmagem de um longa-metragem, "Head", que fracassou nas bilheterias.

Os álbuns deixaram de vender como antes e os desentendimentos entre os quatro se tornaram mais frequentes. Peter Tork saiu em 1969 e Nesmith, no seguinte. Dolenz e Jones até tentaram levar adiante a banda como um duo, mas o fim foi inevitável em 1971.

Ao longo dos anos os quatro fizeram turnês solo com o material dos Monkees, até que houve uma tentativa de volta da formação original nos anos 80, sem sucesso. A partir de então Nesmith decidiu não mais participar de qualquer reunião oficial – comparecia apenas a eventos específicos, em shows esparsos de celebração.

Os Monkees foram uma armação? Sim, uma banda inventada por um produtor e fabricada em um estúdio de televisão, mas ganhou vida própria, e teve muitos méritos nisso – inclusive para romper com "pais" da ideia e seguirem caminhando por si só, mesmo com o risco – enorme – de insucesso.

Tiveram coragem e pulso para encarar esse desafio e superaram, ainda que por pouco tempo, a pecha de "banda artificial" – injustamente, era considerado algo como um Menudo ou New Kids on the Block da vida.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

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