Ennio Morricone colocou a música como protagonista no cinema
Marcelo Moreira
O guitarrista e cantor Phillipe Seabra costuma enveredar pelo cinema nas horas vagas da sua Plebe Rude. Admirador da sétima arte, já brilhou em várias trilhas sonoras compostas para filmes e seriados de TV.
Em uma entrevista ao Combate Rock anos atrás, detalhou o seu trabalho na composição de música para imagens e lembrou o argentino Lalo Schifrin, autor do tema de "Missão Impossível", como um exemplo: "A música no filme não é apenas algo para preencher espaço. Faz parte da obra, integra o contexto e é um elemento fundamental pra compor cenas. Muitas vezes, é até protagonista."
O conceito se aplica totalmente a Ennio Morricone, maestro italiano considerado um gênio na arte de unir música e imagens no cinema europeu. O artista morreu nesta segunda-feira, aos 91 anos, em Roma.
Morricone deu vida própria a suas canções e temas em muitas das obras do amigo de infância Sergio Leone, um dos gigantes do cinema italiano, ao lado de gente como Luchino Visconti e Federico Fellini. Muita gente pode não ter visto os filmes de Leone, mas certamente reconhece as músicas do maestro.
O senso comum manda que se ouça e veja filmes emblemáticos como "Três Homens em Conflito", com Clint Eastwood, Eli Wallach e Lee Van Cleef, e "Era Uma Vez no Oeste", com Robert de Niro, só que o catálogo de Morricone é mais vasto.
"The Ennio Morricone Anthology – A Fistful of Film Music", de 1995, é a melhor coletânea dos trabalhos do mestre para quem deseja iniciar a viagem por sua música. É uma condensação de 400 trilhas sonoras compostas em pelo menos 100 filmes impostantes na Europa e nos Estados Unidos.
A diversificação de sua obra é tanta que ele compôs e gravou um LP com Chico Buarque nos anos 70, embora o brasileiro afirme que é mais uma obra do italiano do que dele.
Fazer trilha sonora pra cinema e televisão é algo que pode ser lucrativo porque são poucos os profissionais gabaritados. Não basta saber fazer trilha e encaixar a música nas imagens, que já é bem difícil. Tem de saber colocar a música certo no lugar certo, como declarou certa vez Danny Elfman, líder da banda Oingo Boingo e requisitado compositor em Hollywood.
Para outro mestre do rock que atua no ramo, o compositor tem de captar o sentimento da imagem e de todo o conceito da obra, ou seja, necessita de imersão total no trabalho. Por isso é que o guitarrista sul-africano Trevor Rabin também é tão requisitado na Europa e em Hollywood. Ele deixou o Yes em 1994 para se dedicar às trilhou e ficou rico.
Mais uma vez, Ennio Morricone aparece como a síntese de como fazer a música no cinema crescer e interagir de forma magistral com o gênero principal, tornando-a, como já mencionamos, protagonista e parte indissociável do conjunto artístico.
Na memória recente, nada é mais mágico do que "Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornatore, um dos últimos trabalhos no cinema realizado por Morricone.
Não bastasse a leveza e a suavidade do roteiro e da direção, a trilha sonora é um primor de delicadeza e inteligência, praticamente conduzindo a história de um filme sobre o próprio cinema.
O maestro italiano é um daqueles profissionais que se tornaram sinônimo de seu ofício e de excelência na art da composição musical. Precisa ser estudado minuciosamente para que alguém consiga desvendar um pedacinho de sua genialidade.
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