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Oitão e Black Pantera puxam nova de rock de protesto

Combate Rock

05/06/2020 17h42

Marcelo Moreira

Enquanto as passeatas de protesto pró-democracia e por uma nova política escolhem desde 2013 a música "Até Quando Esperar", da Plebe Rude, que tem 35 anos de idade, como trilha sonora, pouco se ouviu no rock coisas dignas e relevantes capazes de embalar um novo surto de civilidade e solidariedade nas ruas.

Diante das ameaças reais contra a democracia que nos afetam desde a eleição do nefasto presidente da República, algumas canções de protesto surgiram aqui e ali, mas desgarradas de um momento e de uma certa organicidade. Acabaram passando meio despercebido.

Com os fascistas bolsonaristas aumentando as apostas e testando os limites da democracia, a sociedade que pensa e que preza pelas liberdades civis começa a despertar, por mais que os partidos de oposição, majoritariamente de esquerda, joguem contra essas iniciativas.

Oitão (FOTO: DIVULGAÇÃO)i

"É tudo o que Bolsonaro quer, que haja protestos e 'ameaças' à ordem pública. É uma armadilha", dizem alguns covardes de plantão e supostos estrategistas políticos, como se essa horda de gente burra fosse recuar só porque resolvemos não "provocá-los".

Duas bandas underground estão puxando uma onda até então bem escondida de canções de protesto em tempos de pandemia e de intimidações bolsonaras.

O Oitão, banda paulistana de hardcore/punk, acaba de lançar a música "Proteste". Tendo como vocalista Henrique Fogaça, um dos mais conhecidos chefes de cozinha do Brasil, o grupo é um dos mais furiosos da atualidade, bradando contra a desigualdade social, a extrema pobreza, a corrupção endêmica e o autoritarismo de inspiração aA fascista do governo federal.

A nova música é um grito de indignação e um estímulo para que o povo vá às ruas. "A música traz à tona uma indignação de anos, cada vez mais voraz. Vamos questionar juntos, juntos somos mais fortes, independente se você é do rock ou de qualquer outra tribo", diz Fogaça na divulgação da faixa.

O cantor e mestre de cozinha foi cobrado anos atrás por conta da militância considerada de "esquerda": como pode um profissional estrelado e bem remunerado, com aparição em programas de TV, ter moral para "pagar de engajado" em banda de hardcore? O que realmente ele faz para justificar esse engajamento, escreveu anos atrás um cidadão nos comentários de uma rede social?

Discreto e concentrado, Fogaça começa a divulgar o projeto "Proteste por um Mundo Melhor". A ação é voltada às pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade social por meio de arrecadações de alimentos, cobertores, roupas e produtos de higiene pessoal no restaurante Jamile, na capital de São Paulo.

Tudo que for arrecado será entregue no mesmo dia da ação "Marmita do Bem".  "A banda tem como objetivo expressar a liberdade de expressão, nosso cotidiano, sermos livres de qualquer tipo de preconceito, discriminação e desigualdade. É o resultado de participação de anos em muitas ações sociais", afirmou à coluna Nos Bastidores, do portal Terra.

De Minas Gerais vem a banda Black Pantera, que faz uma interessante mescla de heavy metal e hardcore regadas com forte apelo social e letras contundentes de protesto.

Mostrando uma agilidade absurda, compôs gravou e lançou em menos de uma semana "I Can't Breathe", inspirada no assassinato do negro americano George Floyd por um policiai branco em Minneapolis, nos Estados Unidos.

A expressão "I can't breathe" (eu não posso respirar) foi repetida várias vezes enquanto o policial o sufocava com o joelho em seu pescoço. Floyd, acusado de passar nota falsa em um comércio, estava algemado e imobilizado no chão.

Black Pantera (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Chaene da Gama, baixista da banda, não suportou o que viu nas imagens de TV. "Tudo isso veio do impacto do vídeo, assim como de outras coisas que vêm acontecendo não só nos Estados Unidos, mas como no mundo inteiro. Aqui no Brasil, inclusive, não é muito diferente."

O trio criou em conjunto os arranjos e assina a autoria da faixa, produzida por Ricardo Barbosa. O clipe foi dirigido por Leonardo Ramalho, da Pajé Filmes.

Sua simbologia é evidente e incisiva ao retratar Charles sendo enforcado por uma única mão branca, representando que, mesmo sendo minoria frente a negros e pardos na população mundial, os racistas brancos ainda conseguem impor sua violência.

Há seis anos na estrada, o Black Pantera tem seu nome inspirado no revolucionário Partido dos Panteras Negras norte-americano.

"Sabemos da importância de dar voz àqueles que não conseguem ser ouvidos, além de cantar — mesmo que de modo mais duro — sobre igualdade, respeito e união e contra qualquer preconceito; principalmente o racial", afirmou Chaene.

Para os paulistas da banda Surra, urgência é a palavra-chave da carreira veloz e impactante da banda. Com o mais novo CD, "Escorrendo Pelo Ralo", de 2019, o trio chutou a mesa e colocou na mesa todas as cartas do engajamento e do protesto contra as políticas lesivas aos trabalhadores brasileiros e as ameaças contra a democracia.

Um ano depois, "Escorrendo Pelo Ralo Ao Vivo" coloca mais peso e pancadaria no discurso da banda. É um autêntico punk/hardcore com doses cavalares de thrash metal. Muito peso e fúria para escancarar a indignação com o avanço do fascismo e a pasmaceira da sociedade diante das constantes intimidações que partem da extrema-direita.

Também da capital paulista vem a banda Desalmado, que está lançando o EP "Rebelião". São duas músicas, "Rebelião" e "Esmague os Fascistas", que explicitamente dão a letra do que se trata.

Totalmente engajada na luta contra a opressão e contra as tendências antidemocráticas que ameaçam nossa sociedade, abusa da música extrema para incomodar e estourar os tímpanos em mistura de death metal e grindcore. É um som devastador.

É de esquerda? Pouco importa. A mensagem é destruidora e vai direto ao ponto. Assim como o Surra e Oitão, faz uma defesa explícita e apaixonada da liberdade de expressão, da democracia e investe pesado contra as mazelas sociais e as desigualdades que nos envergonham diariamente.

É maravilhoso ver o renascimento de um rock de protesto em tempos tão difíceis e perigosos. O rock nacional ficou em silêncio por muito tempo e lentamente parece acordar. Que esse despertar seja consolidado com mais engajamento de bandas de todos os gêneros nas manifestações contra o fascismo e a favo da democracia.

Para ajudar com doações para os projetos do Oitão e de Henrique Fogaça basta ir nos links abaixo:

Marmita do Bem: https://bit.ly/2MuqYyr
Cobertor do Bem: https://bit.ly/2AHDIPu

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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