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Artistas e jornalistas na mira: fascismo sai da jaula e ameaça a democracia

Combate Rock

05/05/2020 06h58

Marcelo Moreira

Cena do filme 'Democracia em Vertigem' (FOTO: REPRODUÇÃO)

Era para ser mais um momento de intensa interatividade com os fãs ao lado do marido, também músico, e um momento de relaxamento fazendo que mais gosta: cantar e tocar violão.

Tudo corria bem no 49º dia de isolamento social em casa, em Jundiaí, no interior de São Paulo, em pleno feriado de 1º de maio, quando subitamente lixos humanos fascistas e psicopatas invadiram a live do casal Érika Martins e Gabriel Thomaz, dos Autoramas, xingando os dois e fazendo várias ameaças.

Eram haters apenas? Eram somente babacas asquerosos querendo atrapalhar o evento? Dá para levar a sério as ameaças desses tipos de dejetos humanos?

Érika não pensou muito nisso. No dia seguinte, em uma postagem forte e melancólica, afirmou que tinha desabado e que não tinha mais ânimo para continuar fazendo a alegria dos fãs. Os xingamentos e as ameaças tinham colidido de forma muito pesada e ela não tinha mais condições de continuar as lives nas redes sociais.

No mesmo sábado em que a cantora foi ameaçada, lixos humanos que apoiam a excrescência que ocupa a Presidência da República fizeram carreatas criminosas e genocidas por várias cidades do Brasil e tiveram a coragem de cercar um hospital de campanha em São Paulo, onde fizeram um buzinaço.

O coroamento das patifarias dessa gente fascistas e asquerosa veio no domingo, 3 de maio, em Brasília, quando o criminoso que ocupa a presidência atentou novamente contra a democracia ao ameaçar as instituições e insinuar práticas golpistas em um rápido discurso em manifestação antidemocrática e criminosa. Alguns lixos humanos agrediram os jornalistas.

Desesperado e isolado, o incompetente e criminoso presidente sobe o tom e aposta em confrontos variados para afrontar as instituições e implantar seu projeto autoritário apoiado pela parte mais pútrida e podre da população, que anseia por uma ditadura militar com inspiração fascista e perseguição a qualquer tipo de adversário.

E então chegamos, lamentavelmente, ao campo das artes e, dentro, ao meio apodrecido do rock nacional, onde cada vez mais "fãs" e "músicos" saem do armário e assumem as suas facetas autoritárias e fascistas.

De forma vergonhosa, as agressões a jornalistas em Brasília foram comemoradas por vagabundos que perderam qualquer vestígio de decência. Não eram só músicos e roqueiros que fizeram isso.

Parte expressiva dessa gente, além de músicos e fãs de rock, também é jornalista e aplaude o degradante espetáculo de depredação da democracia e de destruição da liberdade de expressão.

Autoramas (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Houve quem dissesse que alguns dos agressores de Érika Martins também eram músicos ou que fazem parte do mercado musical, gente desconhecida, repulsiva e fanatizada que vive no esgoto e que não suportam a carreira bem-sucedida dos Autoramas e seu posicionamento social crítico sem que seja necessário escancarar um engajamento ideológico.

Que o bolsonarismo e a extrema-direita têm uma completa indigência intelectual e cultural não é novidade. A burrice impera nesses campos e suas excrescências sentem orgulho de sua burrice e de seu comportamento canalha, que envolve violência contra adversários de qualquer tipo, deformação de caráter e vários tipos de gangsterismo.

Estimulados pelo líder dessa gangue, que está no Palácio do Planalto, as milícias fanatizadas e acéfalas estão se sentindo empoderadas para tentar encurralar as instituições e a própria democracia, esticando a corda e testando os limites da governabilidade e da tolerância da sociedade às constantes agressões e ataques diversos.

É evidente que a imprensa e os artistas engajados ou ao menos críticos seriam os alvos primordiais, já que foram eleitos inimigos desde a campanha eleitoral de 2018. A dúvida era se haveria coragem suficiente para essa horda de animais passarem dos latidos nas redes sociais para os rugidos nas ruas.

Por enquanto é uma minoria de estúpidos, mas não tão pequena a ponto de ser ignorada ou desprezada. É ruidosa e sente-se incentivada a partir para o ataque, seja contra artistas, contra jornalistas e contra até mesmo profissionais da saúde.

E mais e mais seres podres dentro do rock sai em defesa do bolsonarismo asqueroso (redundância) e apoia ataques de todos os tipos contra os "inimigos do Brasil". É só observar os comentários de animais hidrófobos nas redes sociais em posts de artistas com cérebro e coragem para se posicionar.

Há muita milícia virtual por trás dos ataques, mas a quantidade de seres humanos execráveis que partem para a intimidação também é gigante, e muito maior do que imaginávamos dentro do rock.

É inacreditável que gente que se beneficiou do rock em diversas circunstâncias, mas principalmente por conta da intransigente defesa da democracia e da liberdade de expressão, se deixe cooptar (ou faça isso de forma deliberada, como parece ser o grosso dos casos) por um sistema corrupto por definição e que promova o ódio, a discriminação e todos os tipos de preconceitos.

Não nos iludamos ou nos enganemos: ontem foram os jornalistas, anteontem foram artistas. Quem serão as vítimas amanhã?

P.S.: A situação é desesperadora que duas mortes no meio artístico nesta segunda-feira exemplificam esse período de desesperança. O ator Flávio Migliaccio, um dos gigantes da TV e do teatro brasileiros, suicidou-se em seu sítio aos 85 anos de idade. A carta de despedida que deixou e que circula pela internet é de cortar o mais duro dos corações. Não aguentou os seguidos descalabros que assolam a população brasileira, o desamparo em que os idosos sem renda estão relegados e a total falta de assistência à população deste "triste país em que o ser humano não é valorizado". E a falta de assistência à terceira idade acabou por vitimar Aldir Blanc, um dos maiores compositores da história nacional, vítima do coronavírus e praticamente jogado em UTIs sem condições de operação no Estado do Rio de Janeiro. E o presidente e sua corja de seguidores seguidamente atentam contra o isolamento social…

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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