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A independência de Eric Clapton completa 55 anos

Combate Rock

17/04/2020 06h36

Marcelo Moreira

Yardbirds em 1964, da esq. para a dir.: Keith Relf, Eric Clapton, Jim McCarty, Chris Dreja e Paul Samwell-Smith (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Continuando a série de resgates históricos sobre a carreira de Eric Clapton, que completou 75 anos de idade em março, chegamos aos Yardbirds, a banda que quase foi a terceira mais importante da Inglaterra na primeira metade dos anos 60 e que foi o berço dos gênios da guitarra – além de Clapton, passaram por lá Jeff Beck e Jimmy Page.

O ano de 1965 pode ser considerado o ano da "independência" de Eric Clapton. No começo daquele ano, o guitarrista ainda não era o "deus" pichado nas paredes, mas decidiu que queria tomar conta da própria carreira sem (muita) interferência de empresários.

O resultado foi a sua saída dos Yardbirds, a banda cultuada no circuito de blues londrino e que substituíra os Rolling Stones no ascendente clube Crawdaddy.

Para todos os efeitos, o já genial Clapton tinha "ganho na loteria", digamos assim, quando foi recomendado aos integrantes dos Yardbirds, cujo prestígio crescia rapidamente.

Conferida uma apresentação do jovem guitarrista no circuito de blues e jazz, os músicos não pensaram duas vezes: demitiram o esforçado Anthony "Top" Topham, que também tinha 18 anos, embarcaram para uma série de shows na região metropolitana da capital com o novo guitarrista.

Clapton se adaptou logo ao estilo blues elétrico com mais velocidade. Entendeu-se bem com o limitado guitarrista base Chris Dreja (que depois se tornaria um renomado fotógrafo em Londres) e passou a desfilar riffs e solos matadores.

Enquanto os Stones já seguiam os passos dos Beatles rumo ao sucesso no mundo pop, os Yardbirds encorpavam o repertório e ganhavam estofo nos clubes de jazz e blues dos arredores de Londres, ao mesmo tempo que o prestígio aumentava ao acompanhar astros norte-americanos em turnê pela Grã-Bretanha.

Ficaram famosos os shows que fizeram ao lado do bluesman Sonny Boy Williamson II em 1964, por mais que este estivesse sempre de mau humor e considerasse aqueles branquelos em êxtase "muito ruins".

O primeiro LP foi lançado ainda em 1964, uma gravação ao vivo com standards do blues com uma veia roqueira. Ali Clapton já disputava as atenções com o vocalista e gaitista Keith Relf e já começava a ganhar a fama como deus da guitarra".

Foto rara da formação dos Yardbirds com os dois magos da guitarra: em cima, Jimmy Page (esq,) e Jeff Beck; embaixo, Keith Relf (esq., vocalista), Jim McCarthy (bateria) e Chris Dreja (baixo) (FOTO: DIVULGAÇÃO)

E justamente quando as pichações "Clapton Is God" começaram a aparecer nas paredes dos bairros ingleses no entrono do centro londrino que o guitarrista surpreendeu a todos com o anúncio de sua saída.

Purista do blues e de sua arte, detestou ter de gravar o single "For Your Love", uma canção do compositor Graham Goldman e que em pouco tempo seria o passaporte da banda para o sucesso no mundo pop.

Na verdade, era o fim de um tempo de desgaste a respeito de tornar ou não o som mais acessível para vender mais e ganhar algum dinheiro, coisa que a banda inteira defendia ao lado do empresário Giorgio Gomelsky.

"For Your Love" é uma típica canção daquele período, curta direta e incisiva, rasa e simplesinha, mas com um refrão ganchudo e bem construído. Era tudo o que Clapton odiava. Ele tocou, mas seria a sua última contribuição para a banda e saiu no começo do ano de 1965.

Seu destino, meses depois de indefinição, foi a banda do pioneiro do blues John Mayall, onde gravaria um álbum espetacular. Também não ficaria muito tempo por ali, já que queria algo mais pesado e mais roqueiro, o que conseguiu a formar o Cream no final de 1966 com Ginger Baker (bateria) e Jack Bruce (baixo e vocais), que tinham tocadp na Graham Bond Organisation.

Quando aos Yardbirds, mantiveram a ascensão com a chegada do guitarrista Jeff Beck, uma indicação de Jimmy Page, renomado músico de estúdio e não quis assumir o posto para não se indispor com o amigo Clapton.

Um ano depois, em meados de 1966, Page finalmente cede e decide aceitar tocar baixo no lugar de Paul Samwell-Smith, que sai brigado e vira produtor musical.

Não demora muito para que Page convença Chris Dreja a trocar de instrumento e encara uma fenomenal dupla de guitarras com Beck, amigo seu de longa data. Só que o amigo estava cansado das limitações impostas pela música pop dos Yardbirds e meses depois decide abandonar o barco e criar o seu Jeff Beck Group com Rod Stewart nos vocais.

Após mais um baque, os persistentes Yardbirds seguem como um quarteto e aguentam até março de 1968, quando todo mundo debanda ainda em viagem nos Estados Unidos, sobrando apenas Jimmy Page e o empresário Peter Grant.

Foram necessários mais alguns meses para que os dois pensassem no que fazer e recrutar novos músicos e cumprir datas ainda em aberto para que finalmente um novo projeto fosse colocado em prática, uma banda chamada Led Zeppelin…

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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