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Eric Clapton e o ano de 1970: o despertar de uma estrela

Combate Rock

15/04/2020 06h21

Marcelo Moreira

Eric Clapton (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Ele queria se esconder de todas as formas possíveis. Queria ficar lá atrás, fazendo solos e curtindo a música. O problema era convencer as pessoas de que ele não estava lá, já que seu timbre de guitarra e seus solos eram reconhecidos a quilômetros de distância. O que fazer?

Com relutância, Deus (odeio escrever essa palavra, e odeio escrever essa palavra com letra maiúscula) resolveu assumir a liderança e seguir em frente.

Eric Clapton é um personagem fascinante do rock por sua entrega, sua qualidade e sua visão diferenciada da vida na estrada e do próprio rock'n'roll.

Amante do blues e purista ao extremo, abandonou aos 19 anos o posto de guitarrista de uma das bandas londrinas mais incensadas, os Yardbirds, por causa do abandono dos princípios e adesão ao chamado comercialismo.

Retrocedeu em termos de visibilidade e possibilidades de ganhos financeiros ao aceitar tocar com John Mayall and the Bluesbreakers, mas a inquietação e a vocação para gênio da guitarra vieram a partir de 1967 com as bandas Cream e Blind Faith.

Mas Clapton era difícil de contentar e em menos de dois anos detonou tudo, se enfurnou em um sítio nos arredores de Londres com uma namoradinha aristocrata e se entupiu de drogas, mas ainda assim encontrou tempo para ajudar um amigo – Delaney Bramlett – e se meter a fazer um álbum solo e outro com um pseudônimo, já que não suportava, à época, encabeçar uma banda de rock.

O ano de 1970 mudou tudo na vida e na carreira de Eric Clapton. Com mais prestigio do que dinheiro no banco, ele se digladiava internamente a respeito do que fazer a partir do fim do projeto grandioso do Blind Faith, ao lado de Ginger Baker (bateria, com quem tocou no Cream) e o moleque prodígio Steve Winwood (teclados, guitarra e voz, ex-Traffic, para onde voltaria rapidinho).

Eric Clapton era um gênio sem rumo rumo, o primeiro músico fora dos Beatles e gravar oficialmente uma música com a banda ("While My Guitar Gently Weeps", do álbum branco, graças a sua amizade com George Harrison).

E eis então que, antes de embarcar em um autoexílio de dois anos, o guitarrista decide embarcar em uma carreira solo ao mesmo tempo em que tenta se esconder atrás de um pseudônimo e tentar se esconder como uns bons amigu membro "comum" de uma banda de rock.

Ele gravou "Eric Clapton", seu primeiro álbum solo, ao mesmo tempo em que chamava alguns bons amigos para brincar de banda de rock garageira e estradeira em Derek and the Dominos, que produziu ou excelente "Layla and Other Assorted Love Songs",s  uma coleção definitiva da grandes canções que o elevavam ao topo do rock como instrumentista e como intérprete.

"Eric Clapton" é uma experiência que visava estabelecer o guitarrista como protagonista e verificar a sua viabilidade como artista potencialmente vendável, apesar de suas restrições a respeito do rock e da música como negócio dentro do entretenimento.

O blues predomina, embalado por suas colaborações do Delaney Bramlett e uma tentativa de mostrar que poderia transitar também pela country music e pelo folk de viés americano.

Das 11 canções, 6 tem Bramlett como coautor , com destaque para "Bottle of Red Wine" e o inesperado "Let It Rain". ó que as joias são duas canções emblemáticas e indissociáveis da carreira de Clapton: "Blues Power", um blues acelerado coescrito com Leon Russell, e a versão mais gingada e grooveada de "After Midnight", de J. J. Cale, de quem pescaria outras pérolas.

Como cantor, Clapton mostrava evolução e se sentia mais à vontade, enquanto a guitarra enveredava por outros caminhos obscuros, mas instigantes.

No entanto, com a banda Derek and the Dominos, onde era o líder e dono, mas queria a todo custo se esconder, que ele se sentiu bem mais à vontade.

A equipe era praticamente a mesma que gravou o primeiro álbum solo e excursionou com a trupe da dupla Delaney e Bonnie Bramlett – baixista Carl Radle, o pianista Bobby Whitlock e o baterista Jim Gordon.

Assim como fez com o Derek and the Dominos, o projeto paralelo, Clapton buscava novos rumos para uma vida artística reconhecida como de qualidade, mas ainda carente de uma chancela definitiva de "gênio", ao menos na visão do próprio guitarrista.

A fama o oprimia, sentimento bem de acordo com o jovem purista que abandonou os Yardbirds, cinco anos antes, para assumir a persona de "god", como as pichações nas periferias de Londres o denominavam.

"Eric Clapton" é um produto de sua época, que evidenciava a extrema qualidade do trabalho do guitarrista, que ainda relutava em assumir o total controle da carreira, tanto administrativa como artisticamente. "Layla", o álbum de mesmo ano do Derek and the Dominos, é um trabalho mais maduro e focado, ainda que difícil de ser gravado e divulgado, por razões que veremos mais adiante, em outro texto.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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