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Ozzy mergulha na canção em novo CD, mas deixa o peso um pouco de lado

Combate Rock

24/02/2020 06h39

Marcelo Moreira

Ozzy Osbourne se tornou um crooner e abraçou de vez a canção. Será que foi a idade que o forçou a "mudar de hábitos"?

"Ordinary Man", o novo álbum do ex-vocalista do Black Sabbath, é o primeiro de inéditas em um longo tempo. Aos 71 anos e lutando contra o mal de Parkinson, Ozzy afirma que esgtá longe da aposentadoria, o que não é verdade.

Delicado, sutil e mais voltado para a melodia, o álbum traz um cantor centrado e focado, mas longe de seus melhores dias, o que não é necessariamente ruim. A questão é que o trabalho é apenas mediano.

Com isso, o que temos é um Ozzy mais mais comedido e quase soterrado por uma produção caprichada, mas excessiva, que remete a alguns de seus trabalhos dos anos 80, notadamente a partir de "The Ultimate Sin", de 1986.

Os arranjos de teclados deixaram o som um pouco chapado, quase que batalhando com as guitarras, muitas delas de atori de Slash (Guns N'Roses). O vocal passa pelo mesmo processamento de sempre, o que diminui a sensação de espontaneidade.

Os três singles divulgados anteriormente não deram pistas do que seria a obra. "Straight to Hell" e mais pesada do álbum, evocando as melhores composições do artista nos anos 90. É forte e tem pegada, mas falta aquele refrão e aquele riff de guitarra matador.

"Under the Graveyard" é o típico hard rock oitentista superproduzido, como quase o disco. O que faltou em punch de guitarra na faixa anterior sobra aqui, mas fica aquela impressão de termos ouvido isso em algum lugar na própria obra de Ozzy, e não faz muito tempo.

Foi o terceiro single, a faixa-título, que acaba dando o tom do disco. Uma pungente balada que poderia estar em um CD de John Lennon, é de uma delicadeza emocionante, contando com a preciosa colaboração de Elton John nos vocais e na confecção de alguns versos.

E é aí que percebemos o mergulho de Ozzy na canção. As baladas sempre foram parte indissociável de seus álbuns desde sempre, mas em "Ordinary Man" ele assume o seu lado quase "bardo".

"All My Time" é outra balada que abusa da sutileza e das influências dos Beatles, mas sem o mesmo brilho. E aqui ele retoma o tema do envelhecimento e inevitabilidade da morte, mas sempre por um lado mais positivo, ao contrário da melancolia da faixa-título.

Mas é em "Holy for Tonight" que o espírito do beatle morto baixa de forma indelével. É uma música que perfeitamente poderia levar a assinatura de Lennon e McCartney, com seus coros, backing vocais e arranjos que mostram um enorme bom gosto. No entanto, é Beatles demais, por mais que a sutileza chegue a emocionar.

"Eat Me" resgata o peso característico de sua obra, mas sem muita convicção. É uma canção comum turbinada por uma produção que deixou tudo muito alto, principalmente no caso das guitarras superproduzidas e distorcidas.

O madman derrapou quando decidiu inventar e chamar convidados pouco afeitos a colaboração com roqueiros, embora sejam artistas notáveis.

"It's a Raid" e "Take What You Want" são as duas últimas faixas, como se fosse surpresas ou bônus, trazendo as participações de Post Malone e Travis Scott, músicos de rap/hip hop/rhythm and blues. Não ficou bom.

"It's a Raid" é mais rápida, com um baixo ultradistorcido e alto. É pesada, mas é a cara do Body Count. Aliás, desavisados dirão que é o Body Count com a participação de Ozzy. A inserção de diálogos típicos de rap norte-americano reforçam a sensação de Ice-T e sua banda estiveram no estúdio. Mas, pelo menos, é um rock pesado e veloz.

No caso de "Take What You Want", o desastre é muito maior. Os convidados, na verdade, tomaram conta da música e a transformaram em uma canção bobinha de Kanye West, Legend e ou outros artistas do gênero, por mais que a letra seja interessante.

Todos os elementos possíveis encontrados em canções comuns de rap e r&B estão lá, com bases programadas, som artificial e guitarras soterradas. Aqui, certamente, Ozzy se tornou um convidado muito especial de sua própria música, em seu próprio disco.

É maravilhoso escutar um novo trabalho de Ozzy e saber que está na ativa e produtivo, mesmo endo problemas de saúde. Também é válido mudar um pouco os caminhos e enveredar por áreas surpreendentes. Os riscos são muito grandes, mas ele é um artista que pode se dar a esse luxo.

Só que o resultado ficou aquém do que gostaríamos e esperávamos. Ozzy é um cantor magistral e com um talento interpretativo sublime. Vai bem quando se mete a fazer uma canção, mas essa não é a praia dele.

É um disco que exala melancolia, mas também apresenta muitas passagens felizes e positivas. Ficou faltando aquela guitarra de Zakk Wylde para colocar sujeira e peso na parada. Quando ao rap e ao hip hop, era totalmente dispensável e desnecessário.

"Ordinary Man" foi gravado em Los Angeles, o álbum contou com Andrew Watt na guitarra (ex-Caifornia Breed e produtor da maioria das faixas), Duff McKagan (Guns N' Roses) no baixo, Tom Morello (Rage Against the Machine) nas guitarras e Chad Smith (Red Hot Chili Peppers) na bateria. Slash tocou em "Under the Graveyard".

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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