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Os 40 anos de 'Boy', do U2: um caminho alternativo ao punk

Combate Rock

16/02/2020 06h45

Marcelo Moreira

U2 em Dublin, em 1980 (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Não passa de mais uma banda punk irlandesa. Assim um crítico musical inglês classificou o U2 após um show em Londres no finalzinho de 1979, quando o quarteto tinha somente uma demo com quatro músicas circulando pelo Reino Unido.

Alguns meses depois, o álbum "Boy" chegava às lojas com uma recepção bem fria na capital inglesa e em Dublin, a cidade natal.

O som mudara um pouco, ainda continha resquício de punk rock, mas já apontava para outros caminhos, incorporando elementos do hard rock e do pop e até mesmo do rock progressivo, com a medieval e climática "An Cat Dubh".

Quarenta anos atrás o U2 era uma banda em busca de um som, como tantas e tantas surgem todos os dias.

Ambiciosos e corajosos, achavam que poderiam escrever uma nova página do rock, mas não contavcam com a astúcia do Clash, que destruía tudo lançando o maravilhoso "London Calling" em dezembro de 1979.

Ali os ingleses começavam a abandonar o punk e a mergulhar no reggae, no pop norte-americano e nas experimentações eletrônicas, entre outras coisas. Como fazer algo diferente depois daquilo?

Qualquer músico punk ou pós-punk ficou tenso depois que o Clash estabeleceu novos parâmetros. Tal qual uando do lançamento de "Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band", dos Beatles, em 1967, todo mundo parou e refletiu sobre os novos caminhos a seguir.

"A guitarra é o caminho", decidiu a banda, e então The Edge iniciou a jornada em busca de seu timbre e seu som. E o U2 começou a mostrar que um som punk poderia casar com algo mais versátil e mas pesado.

"Boy" não foi um divisor de águas, nem um disaco de estreia marcante. Teve o mérito de conter "I Will Follow", um clássico da new wave nascente daquele periodo, mas foi só. Conseguiu posições medianas nas paradas de sucesso inglesas, embora tenha se tornado um hino para os fãs.

Como álbum de estreia do U2, apresentou boas ideias e algumas tendências, além de coragem para fazer canções difíceis como "An Cat Dubh" ou "Another Time, Another Place".

Alguns indícios de messianismo de Bono Vox, o vocalista, podem ser apreciados na potente "Twilight" ou na balada pungente "Shadows and Tall Trees".

O punk está lá, com "The Electric Co.", uma canção ganchuda que certamente inspirou bandas como Green Day 15 anos depois.

A mistura de rock de arena com hard rock aparece em "Stories For Boys" e na intensa "Out of Control", provavelmente a melhor do disco.

Ainda que não tenha estourado e catapultado a banda, "Boy" mostrou que o pós-punk tinha alternativas e que dava pra fazer boa música sem ser original ou bombástico.

Esse álbum e o próximo, "October", de 1981, tiveram praticamente a mesma gênese e procuravam estabelecer um conceito, ou pelo menos indicava que a banda rocurava um conceito, ainda que não conseguisse muito impacto.

Por isso é que "War", de 1983, foi um estrondo quando a sonoridade mais definida e madura tomou conta do disco, puxado pelos libelos pacifistas de protesto "Sunday Bloody Sunday", "New Year's Day" e "Second".

A estreia em disco do U2, há 40 anos, pode não ter tido o impacto que a banda viria a ter anos depois com seus lançamentos, mas é o melhor exemplo da música de seu tempo: incipiente, agressiva, com certa ousadia e, de certo modo, indicativa de uma variante interessante que o pós-punk tomaria a partir de então.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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