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'When Dream and Day Unite': a estreia do Dream Theater completa 30 anos

Combate Rock

07/02/2020 07h01

Marcelo Moreira

Nem os próprios músicos se esforçaram muito para lembrar a data, demonstrando o pouco apreço pela obra, mas o Dream Theater vislumbrou a passagem do 30º aniversário do lançamento de seu álbum de estreia, "When Dream and Day Unite".

De geniozinhos da Berklee School, uma das maiores escolhas de música dos Estados Unidos e berço de muitos roqueiros famosos, Mike Portnoy (bateria), John Petrucci (guitarra) e John Myung (baixo) conseguiram se livrar da música derivativa de seu Majesty para transformá-lo em uma banda de respeito.

Ok, eles ainda eram muito moleques, com 20 anos de idade, mas tinham uma bagagem absurda de horas de estudo e de palcos secundários e ruins. Camelaram bastante para deixar seu hard rock com aspirações mais pesadas mais palatável e acessível, embora bem mais pesado e progressivo.

Com a adição do tecladista Kevin Moore e do esforçado vocalista Charlie Domenici, o Dream Theater conseguiu chamar a atenção na Costa Leste dos Estados Unidos e fez certo nome, mas os resultados ainda estavam aquém do esperavam os chefões, Petrucci e Portnoy.

"When Dream and Day Unite" é um disco interessante para uma estreia de banda de moleques talentosos e arrogantes, mas naquele momento, o auge do auge do hard rock de estilo californiano, tudo o que eles não queriam eram ser rotulados como hetal ou hard – e foi justamente o que aconteceu: o mercado cismou que era mais uma banda de hard rock farofa e os jogou no meio do saco do subgênero.

A banda percebeu logo que tinha futuro, mas que precisava mudar e encontrar um som próprio que os distinguisse da maçaroca hard'n'heavy que pipocava no final dos anos 80. E resolveram pisar fundo demais, a ponto de se tornarem conhecidos como músicos nerds e obcecados.

Tanto sofrimento e dedicação presentearam a banda com o tão almejado som próprio em 1992, com o extraordinário álbum "Images and Words", uma pérola do prog metal.

O que era incipiente no primeiro álbum, mas imerso em um mar de referências oitentstas do hard rock se tornou um som robusto, característico e recheado de técnica e virtuosismo.

Entre os "sofrimentos" necessários para atingir o patamar desejado estava a demissão de Dominici (que era bem mais velho que o restante dos garotos), um cantor razoável, com alguns boins recursos, mas limitado demais para as ambições de Portnoy e Petrucci. Para substituí-lo, acertaram em cheio ao convidar o canadense James LaBrie, da banda Winter's Rose..

O disco "When Dream and Day Unite", em si, é bom e chamaria a atenção para a banda, por ser um disco de estreia, em qualquer época. Teve o azar de chegar ao mercado no auge maior do hard rock e dos grandes medalhões redivivos dos anos 80 e passou quase despercebido, embora tennha ganhado fãs entre músicos e DJs de rádiso da Costa Leste norte-americana.

Uma música excelente como "A Fortune in Lies" tinha de ter recebido mais atenção, já que reúne as principais características do Dream Theater logo na abertura.

"Status Seeker" e "Afterlife" mostram que o grupo tinha talento para compor peças fortes e com bons riffs, por mais que se assemelhem a um heavy mais tradicional, mas "The Killing Hand", longa e dividida em cinco partes, já exibia as ambições de John Petrucci, enquanto Portnoy ainda lutava para se encaixar no grupo.

O batersta soa mais contido e menos exuberante, enquanto o domínio total de Petrucci se esparrama por todas as músicas. Curiosamente, Portnoy não assina nenhuma faixa, enquanto Dominici coescreveu uma e emplacou outra de sua autoria, sozinho: a interessante "Afterlife".

Uma das pérolas do álbum é a robusta e insinuantye "Only a Matter Time", que fecha o álbum, uma canção de Kevin Moore que tenta reunir em uma única trilha as influências da banda.

Há duas maneiras de se observar a importância e a qualidasde de "When Dream and Day Unite": no contexto geral de um álbum de estreia e, em perspectiva, comparando com o que o Dream Theater se tornou.

Isoladamente, é um disco legal e que normalmente chamaria a atenção para uma banda iniciante recheada de bons músicos. Teria tido um desempenho comercial e de público melhor se não estivesse em meio a um turbilhão de lançamentos de hard rock e heavy metal de muita boa qualidade.

Dentro da carreira do grupo, entretanto, acaba por destoar um pouco por conta do que o Dream Theater fez e se tornou. É um punhado de boas ideias que poderiam ser melhor aproveitadas se houvesse orçamento para uma produção melhor e um produtor mais calejado. E, claro, se James LaBrie estivesse desde o começo no grupo.

Uma rápida ouvida em "Images and Words" e "Awake", os dois álbuns seguintes, evidencia que as mudanças foram providenciais e fundamentais para que o Dream Theater se tornasse o gigante e a referência que se tornou.

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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