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Por que Neil Peart era um monstro na bateria?

Combate Rock

11/01/2020 11h48

Neil Peart (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Instrumento fundamental para uma banda de rock, blues ou jazz, a bateria segura o ritomo e dita o tempo para que tudo ocorra de forma coesa e "normal", digamos assim.

Mas o que diferencia um baterista criativo de um que joga para o time? Como é possível que um Tony Williams lidere um grupo de jazz, tendo de tomar conta de tanta coisa? O memso pode ser dito dos mestres do jazz – Gene Krupa, Art Blakey, Max roach, Charlie Watts (Rolling Stones, com seu grupo de jazz) e muitos outros?

Vamos ver o que alguns bateristas têm a dizer sobre Neil Peart:

Eduardo Kaneco – crítico de música e cinema, baterista fanático pelo Kiss – "Ele era cerebral. Tocava com a precisão de um relógio. Para o baterista do Rush, até as improvisações deviam ser planejadas friamente. No palco, quando incluía trechos de jazz, o gênero musical fundamentado na improvisação, Peart calculava todas as batidas e as repetia com precisão em cada apresentação.

Mesmo nas composições mais simples e populares da banda, ele criava racionalmente como seu instrumento deveria soar. Por exemplo, em 'Tom Sawyer' suas viradas acrescentavam algum elemento adicional a cada repetição do mesmo trecho na música, instigando o ouvinte à rara atividade de prestar atenção no baterista.

Ao vivo, o segredo de sua precisão era sua concentração, como num transe, sem olhar para os lados, sem se importar com a reação da plateia. E Peart ainda escreveu as letras das músicas do Rush e publicou sete livros. Um gênio, precisamente."

Vitão Bonesso – radialista, apresentador do programa Backstage (Kiss FM) e baterista do Electric Funeral – "Ele foi o melhor, o maior, o mais disciplinado, uma das minhas maiores referências como músico e ser humano. Como eu gostaria de tê-lo conhecido pessoalmente. A aposentadoria do Rush já foi um baque, uma banda que eu acompanho desde 1975 quando eu comprei o álbum 'Fly By Night'.

Nunca mais parei, e sempre acreditei que o Rush poderia voltar a se reunir, mesmo que para alguns poucos shows, mas sempre respeitando a decisão deles e principalmente de Peart, que bravamente resistiu aos últimos anos com fortes dores nos braços por causa da tendinite.

Ele retirou, assim como seus companheiros de forma triunfante. Parece que ele sabia que tinha pouco tempo, e desde 2015 optou por ficar ao lado da família. Ele já havia perdido a primeira entre 1997 e 1998.

Sofreu muito com a partida precoce da filha Selena e logo depois da esposa, Jackie. Retornou à ativa de forma brilhante, voltou a se casar, e em 2000 foi pai novamente. Reconstruiu tudo de novo… que superação. Estou arrasado com essa perda."

Rolando Castello Júnior (Patrulha do Espaço) – "Tristeza profunda, um baita músico e sobretudo um ser humano gigante, um homem de Caráter e Honra com maiúsculas, gratidão e mais gratidão, muitíssimo obrigado por tanta música e sabedoria, por aqui admiração eterna Mestre dos Mestres."

Luiz Carlos Louzada – banda Chemical Disaster – "Há mais de 30 anos me dedico a ser vocalista de metal extremo, no entanto, há mais de 30 anos eu TAMBÉM me dedico a ser baterista de Música Extrema (mesmo que muita gente que acompanha meus lançamentos como vocalista, nem faça idéia que também gosto de espancar uma batera!). E hoje, um grande herói de minha adolescência se foi, um gênio das baquetas."

Amílcar Christófaro – baterista da banda Torture Squad – "Nesse mundo de fake news demorou para acreditar que realmente não te veremos mais em ação. Sua energia, sua música, sua arte, seu foco, seu bom gosto, suas poesias, sua pegada, sua precisão, sua força de vontade, sua luta pela vida, suas histórias ficarão eternamente cravadas na alma de todos que foram fisgados por você. Houve momentos que acreditei que essa hora nunca chegaria. Pois é. 'What a fool I use to be'…"

Roberto Capisano Filho – jornalista e baterista – Toquei bateria durante 15 anos da minha vida. Nesse período, nada era mais importante; a bateria era o que realmente direcionava meus passos. Neil Peart foi minha maior influência como baterista, principalmente no início. Muito do jeito que eu tocava tinha como inspiração o que ele fazia.

Ouvi o álbum "Exit…Stage Left", do Rush, incontáveis vezes, sempre tentando reproduzir cada groove, cada fill de Peart e me imaginando tocar ao lado de Alex Lifeson e Geddy Lee. Em um determinado momento, passei a dar mais atenção a bateristas de outros estilos, indo para o lado do jazz/fusion, mas o som de Peart já estava incorporado ao meu jeito de tocar, por mais que não fosse evidente.

Quem não é da música pode não entender, achar bobagem tanta reverência a um sujeito que está distante e pensar que isso não passa de tietagem. Não é assim, meus amigos músicos e amantes da música sabem do que estou falando.

Pessoas como Peart se tornam referências em seus campos de atuação. Nós precisamos ter nossos modelos e Peart foi esse cara para mim, como baterista.

Ao ler o livro dele, "A Estrada da Cura", em que ele conta como foi superar as tragédias que ocorreram em sua vida, passei a conhecê-lo e admirá-lo ainda mais. Inevitável recorrer ao clichê, porém, verdadeiro: Peart, com sua música e talento, é eterno e sempre poderemos ouvi-lo a qualquer momento. 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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