Inquieto e 'maldito', Walter Franco definiu rumos no underground nacional
Não é todo mundo que se sente confortável com a alcunha de "artista maldito". Itamar Assumpção, mortoem 2003, se divertia com isso e angariou um grupo enorme de seguidores. Walter Franco, por sua vez, nunca demonstrou contrariedade, mas não se sabe se tomou alguma medida para rebater tal coisa.
Morto aosd 74 anos de idade na últrima quinta-feira, em consequência de um AVC (acidente vascular cerebral), era considerado um dos mais roqueiros da MPB dos anos 70 e 80. Quem não se lembra da música "Canalha", um de seus grandes hits?
Regravada por muitos artistas brasileiros, acabou aparecendo no álbum de estreia da banda de rock Cheap Tequila, nos anos 90.
"Eu sabia onde ele morava, perto da estação Ana Rosa do metrô, em São Paulo", conta o violeiro e guitarrista Ricardo Vignini, integrante da banda. "Eu me enchi de coragem e foi aom prédio e deixei o CD na portaria. Para miha surpresa, o porteiro me disse que ele queria falar comigo. Subi e ouvimos a nossa versão de 'Canalha'. eu estava envergonhado, especialmente depois do silêncio constrangedor. Ele sussurrou: 'Estou lisonjeado".
Uma boa definição do que representou Walter Franco para a MPB foi a bela reportagem do jornalista Alberto Bombig no jornal O Estado de São Paulo nesta sexta-feira.
Um pouco desse texto foi postado nas redes sociais do jornalista, que reproduzimos um trecho a seguir:
No ano da graça de 1975, Walter Franco criou uma obra-prima: Revolver (álbum relançado em vinil pela Polysom na sua série de clássicos da MPB). Experimental, sofisticado, vanguardista e palatável, o disco empurrou o autor diretamente do circuito alternativo para o pelotão de frente da produção nacional, puxado naquela altura por Caetano Veloso e Gilberto Gil, "repatriados" após o duro exílio.
(…) Seu impacto foi grande no meio musical, basta olharmos a produção de Caetano e Gil na parte final daquela década: mais flertes com a poesia concreta, mais experimentalismos formais e menos blablablá retórico. Porém, o eldorado prometido pela linha evolutiva da MPB, que ensinaria as massas a comer finos biscoitos, nunca passou de delírio.
O jabaculê imperou nas rádios, os refrões fáceis e malandros continuaram seduzindo as gravadoras e Chacrinha balançou sua pança nos anos seguintes para o rock nacional, para os sertanejos, etc. (…)
Em 2017, o escritor Joca Reiners Terron produziu extenso perfil de Walter Franco para a revista Zumbido (selo Sesc), síntese lírica de um crepúsculo belo e radical: "No começo de abril de 2017, conversei longamente com o cantor Walter Franco pelo telefone. Precisei reunir coragem antes de ligar. Mas, ao ouvir aquela voz cálida de radialista (coisa que ele realmente foi em 1965 na Rádio Marconi, antes de gravar seu primeiro compacto, Tema do Hospital, trilha da novela Hospital, transmitida pela TV Tupi em 1971), de imediato senti meu coração se tranquilizar".
Tudo, afinal, é questão de manter a mente quieta. Mais uma vela aberta que, tristemente, se afasta pelo mar de saudades em tempos de perdas.
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