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Uriah Heep mantém o 'sonho vivo' 50 anos depois

Combate Rock

14/10/2019 07h11

Marcelo Moreira 

Uriah Heep, em sua formação atual (foto: divulgação)

Até hoje tem gente que não consegue se livrar do "neologismo" setentista "rock pauleira" para se referir ao heavy metal ou ao som de Led Zeppellin, Deep Purple, Juda Priest e Black Sabbath. E tem mais gente que credita o termo depois que as músicas do Uriah Heep chegaram ao Brasil naquela primeira metade dos anos 70.

Na comparação com as quatro bandas citadas, o Heep pode ser considerada a de menos prestígio, apesar dos 50 anos ininterruptos de carreira e da enorme influência que teve dentro do hard rock e do heavy metal, principalmente em relação à conjugação da guitarra estridente e pegajosa de Mick Box e dos teclados classudos e imponentes de Ken Hensley.

O Uriah Heep é mais uma instituição britânica do rock. Aos 50 anos, mitas vezes é uma banda subestimada em razão do som nem tão palatável e, com alguma frequência, considerado hermético e pedante, o que é uma tremenda bobagem.

De formação instável desde sempre, tinha seus pilares fincados na trinca Box, Hensley e o vocalista Davd Byron na maior parte dos anos 70. O baixista Gary Thain era genial, mas totalmente imprevisível por conta do abuso nas drogas e álcool, tanto que morreu em 1974.

Byron era venerado por parte do público inglês que gostava de rock pesado, mas também se perdeu no caminho a partir de 1976, quando abandonou o barco para tentar uma errática carreira solo – o mergulho nas trevas das drogas cobrou o seu preço, levando-o à morte em 1985.

O sucesso que insistiu em não aparecer foi atrapalhando a carreira do Uriah Heep até que Ken Hensley se cansou  partiu para a carreira solo, deixando Mick Box sozinho para carregar o fardo de uma banda que tinha mais prestígio do que público e discos vendidos (azar de quem não comprou os seus discos).

No comecinho dos anos 90, Uriah Heep e Nazareth fizeram uma turnê conjunta pelo Brasil. Era a primeira vez doU Uriah Heep no país (o Nazareth já tinha vindo antes, em 1990), e bem longe de seus melhores dias. Ainda assim, encantaram milhares de pessoas que foram ao Olympia, na zona oeste de São Paulo, nos três dias de shows.

Em rápida entrevista no saguão do hotel, Box não cabia em si diante do esgotamento dos ingressos nos showes paulistas. Exultante, dizia que havia muito tempo sso não acontecia e que não tinha ideia da popularidade da banda na América do Sul.

Mick Box (esq.) e Bernie Shaw no bom show do Uriah Heep na Virada Cultural de 2014 (FOTO: LEANDRO CHAPELLE/DIVULGAÇÃO/VIRADA CULTURAL)

"Todas as comparações com Led Zeppelin e Deep Purple são injustas", afirmou ele com um sorriso no rosto. "São gigantes do rock e mereceram o status qe conseguiram. Mas o Uriah Heep sempre foi meio 'ousider', com um som que não se encaixava muito bem naquilo que se chamou de rocxk dos anos 70. Tenho orgulho de minha trajetória e da banda e por isso que estamos aqui hje, no Brasil."

Injustiçada ou não, a banda sempre mostrou qualidades que a diferenciava, que iam além dos já citados timbres de guitarra e teclados. As letras das canções flertavam com o realismo fantástico e também tinham um viés antibelicista.

Para os puristas do hard rock, o Uriah heep tinha um grande pecado: os mergulhos ocasionais no rock progressivo, então um gênero odiado pelos rockers.

"Salisbury", por exemplo, uma das mais belas obras da banda, tinha quase 18 minutos de duração e uma série de mudanças de tempo e de emendas que enlouqueciam aqueles que desprezavam essas manifestações de virtuosismo e de qualidade musical.

Apesar da sensação geral de banda "outsider", o grupo teve um sucesso, ainda que efêmero, entre 1972 e 1974, epoca em álbuns como "Look at Yourself", "Demons and Wizards" e "Magician's Birthday" frequentaram várias listas de mais vendidos.

Também era muito fácil, inclusive no Brasil, ouvir nas emissoras de rádio canções muito bacanas como "Easy Livin"', "July Morning" e "The Wizard". O Uriah Heep tinha seu público e enmes méritos, mas não explodiu.

São 50 aos de carreira com altos e muitos baixos, mas o grupo está aí, firme e bem forte, apesar da morte do baixista Trevor Bolder há quatro anos e do afastamento do baterista Lee Kerslake em 2016 por conta de problemas de saúde.

O último álbum é "Living the Dream", do ano passado, que ainda traz um certo brilho, especialmente por conta da música "Grazed by Heaven" que é muito boa.

"O título do álbum remete ao verdadeiro sonho que é continuar vivendo de música e vendo as pessoas curtirem o nosso trabalho mesmo após 50 anos. Jamais podera sonhar em situação parecida quiando gravamos nossa primira música e ouvimos a gente no rádio pela primeira vez. Continuamos vivendo um sonho e somos abençoados por isso", declarou Mick Box durante a divulgação do último álbum.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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