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Sem concessões, King Crimson experimenta e encanta no Rock in Rio

Combate Rock

07/10/2019 10h00

Marcelo Moreira

O ambiente estava até meio quieto, exatamente como se espera para um concerto que todo mundo sabe que vai ser magnífico, até mesmo quem nada sabe sobre a banda. E eis então que os incautos surtaram na plateia e na internet quando viram três baterias no palco, e à frente.

E foram os três bateristas – Gavin Harrison, Jeremy Stacey e Pat Mastelotto – que deram início à aula de música com seus duelos em "Drumzilla". A "missa" do King Crimson estava só começando.

Muito se falou sobre a inconveniência de se escalar uma banda como essa para um megafestival pop como o Rock in Rio, mesmo no palco Sunset. Realmente, não faz sentido. Poucos que estavam na plateia entenderam realmente o que estava acontecendo.

O King Crimson, que fez 50 anos de carreira em 2019, certamente deslocado no festival – não que tenham demonstrado isso no palco, mas era evidente que a postura deles mudou e havia uma certa apreensão.

"Quem será que teve essa maldita ideia?", pensou o guitarrista e líder Robert Fripp escondido atrás de equipamentos no canto direito superior da plataforma elevada, atrás das baterias.

Algo bem diferente do que ocorreu dois dias antes, no Espaço das Américas, em São Paulo, quando fez um show só seu (quase três horas) e no seu hábitat, uma casa fechada para a plateia qu sabia exatamnte o que estava acontecendo.

Tensão e apreensão diante de um território desconhecido, mas que o trio de bateristas tratou de desanuviar rapidamente com a fúria de solos e duelos.

Jeremy Stacey brilhou na bateria sob os olhares atentos de Jakko Jaszyk (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Mastelotto toca coma banda desde 1993, quando a banda voltou pela segunda vez e engatou uma série de projetos dentro da banda – trio, dois quartetos dferentes e por aí vai. Sabe de cor e salteado como tocar no Crimson.

Já Harrison é uma aquisição recente, só que sua passagem pelo extraordinário Porcupine Tree, da Inglaterra, o credenciou para subir à embarcação, já que sua ex-banda é um dos mais notórios filhos do King Crimson.

Stacey é o "novato" da formação, um cara versátil e eclético, com passagens por bandas de jazz, blues e pop, mas que não teve dificuldades em se adaptar ao rock progressivo-experimental de Fripp.

Com Fripp enclasurado em seu canto, com fones de ouvido e ladeado por uma série de equipamentos tecnológicos de efeitos sonoros e musicais, coube a Jakko Jaszyk, guitarrista e vocalista, conduzir o concerto, mas seguindo à risca as instruções do chefe: nda de interação com a plateia, foco total na música e ignorância total do ambiente no entorno.

E então foi isso: uma apresentação curta de uma hora repleta de rock progressivo, jazz de vangaurda e música experimental, além de uma qualidade estonteante das performances individuais – e sem a necessidade de exibições vituosas/de entreter a plateia com falas dispensáveis.

Talvez uma novidade ter de fazer um show de uma hora, a banda foi muito feliz na escolha do repertório, privilegiando temas viajantes, mais antigos e conhecidos do público.

Portanto, a primeira obra da banda, de 1969, foi representada por três músicas onde Jaszyk comandou o show. "In the Court of the Crimson King" surgiu mais concisa, menos dramática e mais pesada, perdendo um pouco de sua intrincada dinâmica.

"Epitaph", com seu clima etéreo e viajandão permeado por filosofia – cortesia do poeta Pete Sinfield -, agradou por escancarar os anos 60, enquanto que a enigmática e sufocante "21st Century Schizoid Man", a mais conhecida da história do King Crimson mostrou-se o perfeito "Grand Finale" em uma versão mais extensa que incluiu solos de guitarra, de saxofone e de bateria.

Que bom que a banda também achou espaço para que o extraordinário baixista Tony Levin mostrasse sua imensa qualidade no stick na faixa "Indiscipline", dos anos 80. Como já era esperado, muita gente pirou naquele instrumento "esquisito" que faz às vezes de baixo e de um teclado por conta dos sons digitais.

Os mais exagerados afirmam que foi o melhor show já realizado em toda a história do Rock in Rio. Foi um ds mais excêntricos e diferentes, e disso ninguém terá dúvida, assim como será difícil achar alguém que não o considerou sensacional.

Ao final do show, mesmo sem uma única interação da plateia, o King Crimson foi ovacionado e teve o nome gritado por um público que, possivelmente, não estava ali para vê-lo e que não esperava a avalanche de música e informação que emanou em apenas uma hora.

Mesmo deslocada, a banda nao fez concessões e fez o que tinha de fazer: tocar, encantar, incomodar e surpreender, tendo sucesso em todos os quesitos. O Rock in Rio, um pouco por vias tortas, acertou em cheio na escalação da cinquentenária banda inglesa.

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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