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Slayer se despede com show digno e muito pesado em São Paulo

Combate Rock

05/10/2019 12h29

Flavio Leonel – do site Roque Reverso

Se você é fã de thrash metal e não estava no show do Slayer na quarta-feira, 2 de outubro de 2019, em São Paulo, perdeu um dos momentos mais importantes da história do heavy metal na capital paulista. Para um público de pouco mais de 8 mil pessoas que lotou e esquentou o Espaço das Américas, o grupo norte-americano fez sua última apresentação na cidade, dando sequência à turnê de despedida que vem passando pelo mundo desde maio de 2018 e deve terminar em novembro deste ano.

Digno, pesado e direto. Estes são os adjetivos que melhor se encaixam ao show do Slayer em São Paulo.

Mantendo a tradição de engatar um ritmo de show sem frescuras e com poucas interrupções, o grupo entregou ao público basicamente o que se esperava para o atual momento da carreira.

Quem estava no Espaço das Américas, sabia que aquela seria a última chance de ver ao vivo uma das bandas mais importantes da história do rock.

Os fãs de carteirinha, aqueles que não perdem shows do grupo, estavam todos ali, contemplando o momento histórico, mesmo com o preço do ingresso salgado (R$ 320,00 o valor inteiro para a Pista) para o atual momento de desemprego elevado no Brasil.

A boa notícia foi a ausência da horrenda Pista Vip, que costuma jogar muito fã de verdade para longe do palco, se este não tem o dinheiro suficiente para comprar as entradas tradicionalmente caras.

A noite era de calor em São Paulo e, uma meia hora antes do horário previsto para a entrada do Slayer (21h30), já era possível ver a fila gigante de fãs para entrar no Espaço das Américas já na Avenida Francisco Matarazzo.

Dentro da casa de shows, antes mesmo da apresentação norte-americana começar, a venda de cerveja acontecia num ritmo intenso, mesmo com o valor mais barato a R$ 10,00.

A abertura para o Slayer foi feita pela competente banda brasileira Claustrofobia, que não costuma decepcionar quem aprecia uma boa música pesada.

Gary Holt em São Paulo, no show do Slayer (FOTO: DAVIDMAZZO/DIVULGAÇÃO)

Momento da carreira

O último disco do Slayer foi o bom "Repentless", que chegou aos fãs em 2015 e marcou o primeiro álbum de estúdio da banda desde a morte do saudoso guitarrista Jeff Hanneman e desde a saída do grande baterista Dave Lombardo, que foi substituído pelo competente Paul Bostaph.

Após a morte de Hanneman, a banda ainda tentou dignamente se manter, mas todos sempre souberam que o guitarrista era a parte de maior criatividade do grupo. Com tantos anos de estrada e seus componentes com mais de 50 anos, o grupo anunciou sua última turnê final em janeiro de 2018.

Vindas

O Slayer tocou pela primeira vez em São Paulo e no Brasil, em 1994, no primeiro e histórico Monsters of Rock. Depois, voltou em 1998, tocando no mesmo festival na capital paulista.

O grupo retornaria apenas em 2006 para São Paulo. Na ocasião, fez dois shows solos inesquecíveis no Via Funchal e tocou pela primeira e única vez com sua formação clássica, trazendo Jeff Hanneman, Dave Lombardo e os membros remanescentes Tom Araya (vocal e baixo) e Kerry King (guitarra).  Retornou ainda em 2011, já sem Hanneman e pela primeira vez na capital paulista com Gary Holt na guitarra, numa exibição memorável também no Via Funchal.

Antes do show no Espaço das Américas em 2019, as duas últimas passagens do Slayer por São Paulo haviam sido realizadas em 2013, quando abriu para o Iron Maiden na Arena Anhembi, aproveitando a vinda das duas bandas para o Rock in Rio daquele ano, e, em 2017, quando reinou soberano com o melhor show do Maximus Festival, no Autódromo de Interlagos.

FOTO: COSTÁBILE SALZANO JR)

O último show em SP

O show do Slayer começou às 21h47. Depois de projeções de cruzes, pentagramas e o símbolo da banda numa cortina que ficava à frente do Palco, o grupo apareceu tocando a rápida "Repentless", gerando reação intensa e imediata do público.

A despeito da inacreditável notícia de proibição, por parte dos organizadores, da realização de rodas de mosh, elas apareceram em vários pontos do Espaço das Américas. Só não foram maiores porque a casa de shows estava tão lotada que era difícil se movimentar na Pista.

O desfile de clássicos começaria logo em seguida com três exemplos de discos distintos: "Evil Has No Boundaries", "World Painted Blood" e "Postmortem" foram perfeitas para mostrar três períodos diferentes da banda.

"Evil Has No Boundaries" representou o álbum de estreia, "Show No Mercy", de 1983, quando a velocidade da banda chocou o mundo do heavy metal.

"World Painted Blood" representou "God Hates Us All", de 2001, quando o Slayer retornou para um som mais agressivo depois de experiências diferentes com o bom e hoje esquecido "Diabolus in Musica" (nenhuma música tocada no show).

"Postmortem" representou o ultraclássico "Reign in Blood", de 1986, quando o grupo lançou um dos maiores discos da história do heavy metal. Foi dificílimo impedir que a cabeça se movimentasse, tanto na parte mais cadenciada da música como na parte pauleira master.

Tom Araya (FOTO: FLAVIO LEONEL/ROQUE REVERSO)

Após tocar "Hate Worldwide", que foi uma das três músicas da noite que poderiam ter sido trocadas por um clássico, Tom Araya anunciou "War Ensemble", gerando mais rodas de mosh espalhadas pelo Espaço das Américas.

O vocalista, que já havia soltado um "E aí, porra", em português, mostrou sua tradicional simpatia ao público, sorrindo com frequência e mostrando respeito em relação ao momento que estava sendo visto naquela noite. "Obrigado por terem vindo aqui hoje", disse, em inglês.

Depois da dispensável "Gemini", que serviu para o público tirar fotos e até respirar, mais três clássicos distintos e de épocas diferentes foram executados com maestria: "Disciple", com a plateia cantando o refrão a plenos pulmões; "Mandatory Suicide", com sua melodia e peso inconfundíveis; e "Chemical Warfare", com sua velocidade e peso que dão sensação de o fim do mundo se aproxima.

Após a terceira faixa que poderia ter sido trocada por um clássico ("Payback"), o Slayer emendou uma trinca de músicas do grande e indispensável álbum "Seasons in the Abyss". O disco de 1990 foi representado no show pela boa "Temptation", pela alucinante "Born of Fire" e pela ultraclássica faixa-título, que, de ponto negativo teve o solo fraco de Gary Holt, capaz de ter feito Jeff Hanneman se virar no túmulo.

A partir daí, só foi clássico até o final do show. "Hell Awaits", "South of Heaven", "Raining Blood" e "Black Magic" mostraram o porquê do Slayer ter a importância que possui no rock. Faixas complexas, pesadas e algumas vezes ultravelozes, tudo aquilo que fez os fãs apreciarem o som da banda durante os 38 anos de carreira.

O grand finale ficou com "Dead Skin Mask" e "Angel of Death", mais dois clássicos imprescindíveis em qualquer show do Slayer.

Foi então que caiu a ficha que ali estava terminando o último show da história da banda em São Paulo, gerando um sentimento misto de felicidade, por testemunhar aquele momento, e de tristeza, já que a sensação era de "fim de era" de uma das maiores bandas da história.

Chamou demais a atenção a postura de Tom Araya após o fim do show, com o vocalista se posicionando em pé, e em frente ao palco, para que os fãs pudessem tirar fotos e selfies daquela momente histórico. Esse misto de respeito, reconhecimento e humildade, mostrou o quanto as bandas de heavy metal se importam com os fãs e o porquê de o estilo sobreviver durante tanto tempo durante as várias fases de ascensão e queda do rock.

Para quem já havia visto o grupo anteriormente, o show de 2019 do Slayer em São Paulo esteve bem longe de ser o melhor da banda na capital paulista, mas nem por isso deixou de ser histórico. Se, em 1994, quando veio ao Monsters of Rock, foi possível ver marmanjos chorando de emoção, em 2019, olhos marejados também foram vistos no Espaço das Américas.

Este jornalista ainda considera a vinda da banda em 2006 com a formação clássica como a melhor passagem do grupo pelo País. De 1994 para cá, o Slayer jamais fez um show ruim e sempre entregou o peso e a rapidez que arrastaram os fãs ao longo da brilhante carreira.

Em 2019, não foi diferente e as cenas e sons do show deverão ficar semanas nas mentes daqueles pouco mais de 8 mil privilegiados que estiveram no Espaço das Américas.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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