Comentários aleatórios sobre o Rock in Rio - parte 3
Marcelo Moreira
– O que não é rock no Rock in Rio não merece a minha atenção, por isso me recusei a perder tempo com DJs e artistas deslocados fazendo samba e axé para uma plateia que achava que estava na Disneylândia, e não em um festival de música. Alcione teve a petulância de cantar "Não Deixe o Samba Morrer" (!!!!!!) em um Rock in Rio, o que considero um sacrilégio e um sintoma de decadência do evento.
– Entretanto, é impossível não deixar de mencionar a imensa repercussão do discurso de Elza Soares contra o genocídio da população negra, contra a violência contra a mulher e o lamentável caos político-econômico do Estado do Rio de Janeiro, com a prisão em massa de políticos corruptos. Uma mulher corajosa e com um discurso forte e contundente, por mais que estivesse totalmente deslocada em um festival que deveria ser de rock. A cantora Iza também fez uma apresentação marcadda pelo apoio à diversidade e em protesto contra o discurso de ódio que predomina no Estado do Rio de Janeiro e no governo federal. Foi uma mensagem importante de empoderamento da mulher e da população negra.
– Enquanto isso, a postura dos poucos artistas nacionais de rock que se apresentaram até agora foi a de sempre: evitaram ao máximo as polêmicas e preferiram não se arriscar em nenhum momento – nem no repertório, nem no comportamento. Coube ao samba e à abjeta música eletrônica travestida de funk da pior espécie mandar uma mensagem de resistência contra o período de trevas em que estamos vivendo, sob o jugo de um governo de ultradireita em várias esferas que quer impor uma agenda medieval ao país que passa pela censura, pelo autoritarismo e pelo estínlo à violência. Os roqueiros não só não mandaram nenhuma mensagem de resistência como fizeram o contrário. O sempre combativo e relevante Tico Santa Cruz, cantor do Detonautas, preferiu apaziguar quando o público de seui show xingou o presidente Jair Bolsonaro (PSL). Talvez preocupado em despolitizar sua apresentação, prefetiu interromper os xingamentos e falar de amor, desarmando espíritos e esfriando ânimos. Houve comentaristas que explicaram a postura do cantor pelo medo de que ocorressem tumultos entre críticos e apoiadores de Bolsonaro. Seria mais um sintoma de decadência – não só do festival, mas do rock mas do rock nacional como um todo, cada vez mais distante da juventude e de seu público? É irônico que o discurso apaziguador tenha vindo de um artista que fez discursos fortes e inflamados em participações anteriores no Rock in Rio.
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