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O estranhamento de se ouvir 'Come Together', dos Beatles, com 'roupa nova'

Combate Rock

21/09/2019 23h51

Marcelo Moreira

Beatles de cara nova costuma envolver uma série de emoçoes distintas e difusas, e geralmente são conflitantes.

Quando Paul McCartney e Ringo Starr autorizaram o lançamento de "Let It Be…Naked" no começo do século, com as canções desprovidas da camada sonora do produtor Phil Spector, foi como se uma grande heresia tivesse sido cometida: várias das canções que aprendemos a amar por quase cinco décadas surgiam de forma dieferente – e muito interessante.

A edição comemorativa de 50 anos do lançamento de "Abbey Road", o verdadeiro último disco gravado pelos Beatles ("Let It Be" foi gravado antes, no começo de 1969, mas só foi lançado em abril de 1970), chegará ao mercado em outubro e trará uma série de bônus e raridades suculentas, embora a esmagadora maioria do material interessará somente a fãs empedernidos e colecionadores.

Duas versões de "Come Together", clássico de John Lennon que abre o álbum, foram divulgadas na internet neste final de semana e são uma amostra do tipo de material que está por vir.

A primeira é uma versão meio rústica e ainda por ser terminada – conhecida como "Take 5" em vários bootlegs (material pirata). Era uam espécie de ensaio gravado, vamos dizer assim – uma tentativa de ver se aquela versão ficava boa. Há algums comentários dos músicos a respeito do que deveriam fazer antes de começar a tocar.

A outra versão, mais interessante, ganhou uma nova mixagem, que ficou a cargo de Giles Martin, filho do produtor dos Beatles, George Martin.

Não há mudanças significativas, mas é possível perceber os backing vocals mais presentes e claros, assim como as guitarras de George Harrison surgem mais evidentes e cristalinas. O baixo de Paul McCartney aparentemente ganha mais proeminência ao longo da canção.

É bacana ver esse trabaho de arqueologia musical aparecer e mostrar algo diferente do que se conhece dos Beatles. No entanto, o sentimento não é de nostalgia e ou estupefação.

Ouve-se essa versão de "Come Together" com um nó da garganta: cadê aquele sm abafado e claustrofóbico que ficava tão evidente no vinil? Em alguns momentos, as coisas parecem não se encaixar, como da primeira vez em que ouvimos os Beatles em CD, nos anos 90, com os canais totalmente separados. Cadê aqueles Beatles que nós sempre amamos quando ouvimos todos os instrumentos juntos?

Giles Martin, assim como seu pai, é um grande ourives e pode ser considerado uma das maiores autoridades em Beatles no mundo. Tem o direito e o dever de desencavar as preciosidades que restam no baú da maior banda de todos os tempos. Entretanto, a sensação de sacrilégio, infelizmente, não nos abandona em nenhum momento.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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