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Power Blues, uma usina sonora movida a rock'n'roll

Combate Rock

24/08/2019 07h00

Nelson Souza Lima – especial para o Combate Rock

A noite do último sábado, 17 de agosto, lá no Madame, foi inesquecível. A casa que já chamou Madame Satã é um templo da música paulistana e recebeu o rock and roll porrada da Power Blues que fez as pedras rolarem.

Verdadeira usina sonora a banda é liderada pelo guitarrista Daniel Gerber e lançou o clipe "Mentes Criminosas" e, de quebra, fez um grande show que trouxe a presença ilustre dos irmãos Oswaldo e Celso Vecchione ,do Made In Brazil.

Os Vecchione não estavam lá por acaso, já que a brodagem entre eles e Gerber vem de décadas, desde a época em que o guitarrista integrava as fileiras madenianas.

Sendo assim, é natural que o som da Power Blues remeta a bandas bacanudas dos anos 70, entre elas, Rita Lee & Tutti Frutti, Mutantes e Secos & Molhados, além de gigantes da gringa, como Stones.

Completam o grupo a vocalista Paula Mota, o baixista Daniel Kid Ribeiro, que já tocou com Walter Franco, Ronaldo e os Impedidos e Tony Tornado, e na batera destruindo os cascos o excelente Roby Pontes, do Golpe de Estado.  

Pra tornar a festa do tal rock and roll ainda mais louca a abertura ficou a cargo da Santa Gang, banda emblemática que não se apresentava há mais de trinta anos. 

No palco, a Power Blues é um organismo vivo, segundo Daniel Gerber. Riffs contudentes, solos nervosos, bateria porrada e baixão pesado, marcado e swingado dão a base para que Paula Mota mostre um vocal cristalino e arrasador como um rolo compressor.

Canções como "A Vida me Espera", "6ª Feira", "A Coisa é Dura", "Chega de Chorar" e "Mentes Criminosas" são um belo cartão de visita que mostram o quanto a estreia do grupo é merecedora de aplausos.    

A instrumental "Berço da Terra" inicia com um delicioso Hammond B3 se transformando num turbilhão sonoro na qual os músicos mostram técnica apurada. Enfim Power Blues é rock raiz que vale a pena curtir. 

Após o show fui trocar uma ideia com Paula Mota e Daniel Gerber.

Foto: divulgação23

Combate Rock: Paula, fale para nós como foi o show?
Paula Mota – Tô muito feliz. Foi uma noite muito importante e especial pra gente. Pela festa, pela reunião de amigos que não se viam havia muitos anos. Acho que toda a nata do rock and roll estava aqui para prestigiar a Santa Gang que não tocava há três décadas e pra nós foi uma honra propiciar isso e fazer uma festa tal legal. Tô muito emocionada.

Como é o processo de composição da Power Blues. Daniel escreve as letras e depois os arranjos são feitos pela banda. O Franklin Paolillo estava no começo do processo de arranjos e, infelizmente, teve que se afastar por problemas de saúde, entrando o Rob Pontes no lugar. 

PM – O Daniel compõe e faz os arranjos. Nós finalizamos os arranjos e as músicas vão criando vida. Às vezes mudamos alguma coisinha no meio do processo. Bom, com relação ao Franklin: quem tocava com a gente no começo era o Fernando Rapolli, que ajudou na criação da maioria das músicas. Infelizmente o Rapolli teve que deixar a banda e o Franklin assumiu o posto pra gravar o disco. Ficamos muito felizes com a entrada dele e topar gravar o disco, pois todos sabem que ele é um puta baterista, com muita história. Aprendeu as músicas imediatamente, pondo os arranjos de batera dele. Tocou do jeito dele. Contudo, com o problema de saúde teve que se afastar também.
Por sua vez, o Rob Pontes toca no Golpe de Estado e é meu amigo há muitos anos e tá sendo muito legal em ficar no lugar do Franklin, enquanto nosso batera se recupera. E nesse momento tinha que ser um amigo nosso, pois não colocaríamos uma pessoa estranha na banda. O nome disso é união. Sinto que essa união tá voltando. Tem muita banda autoral boa e temos que ir juntos nesta pegada.

Quais os próximos passos da Power Blues?
PM – Temos que lançar o disco. Pois depois do que aconteceu com o Frankilin demos uma parada. Mesmo com o disco gravado ainda não conseguimos lançar e estamos esperando uma data ainda a confirmar. Mas tá pra sair.

Daniel, o show foi orgânico, intenso. A brodagem que existe entre vocês da Power Blues e os convidados contribui pra que o rock role solto
Daniel Gerber – A gente leva o rock a sério. A gente faz o que a gente é. Alguns conseguem se dedicar a vida inteira pra isso. É difícil. Mas nos juntamos  e para levar o rock a sério tem que ser verdadeiro. Tem que ter dedicação pra tudo na vida. Tenha um sonho e corra atrás trabalhando duro. Não adianta ficar esperando sentado o telefone tocar pras coisas acontecerem. Eu acredito em trabalho sério. Ensaiar, se dedicar, cuidar do instrumento., trabalhar o tempo que for nas músicas o quanto for necessário. Cada palavra, cada nota, o timbre de cada uma. Os músicos de rock que tão trabalhando ai, já se conhecem há anos ou décadas e trabalham sério. E quem é sério, é sério.

Essa união com a Power Blues é aquilo que faltava em outras bandas? Não que você não tenha tido nas outras, mas agora é plena na sua integralidade?
DG – Na época do Made eu me dei muito bem com o Oswaldo. O MIB gravou quatorze músicas minhas, que fiz em parceria com ele, são nossas músicas. Sai , fui morar nos Estados Unidos, voltei e gravamos mais cinco parcerias, havia empatia musical e pessoal. Agora como diz a frase de "Louca de Pedra" (música dele). "Se o tempo anda pra frente, porque viver do passado?" Vamos em frente. O som do Power Blues é atual, bebemos na fonte do rock paulistano e do blues, que tem 100 anos, mas não é coisa velha, nem abandonada. Escuto muito Gary Moore, Jonnhy Winter, Eric Clapton sempre.

Como se renovar buscando referências do passado?
DG – Em minha opinião a referência do passado é o que dá base pra gente tocar. O músico tem que conseguir uma independência do instrumento a ponto de conseguir soltar o que sente dentro de si e executar. Isso é renovação. Tocar o que sente. Esse é o som da Power Blues. Quando estamos no palco não tocamos com partitura. Nós somos muito ensaiados, sabemos a estrutura das músicas. Há uma relação muito importante entre a música, harmonia, execução e letra. A gente toca curtindo. Por isso que é muito importante, principalmente os grupos novos ensaiarem muito. Porque se na hora do show você sabe que tá ensaiado você consegue liberar o sentimento, assim a banda se torna uma coisa só. A banda tem que respirar junto.

Costuma circular nas redes sociais que não existe brodagem entre as bandas de rock. Mas essa noite aqui com tantas participações no show da Power Blues, mostra que existe sim uma união entre os músicos e grupos . O que você acha disso?
DG – Muito bom ponto. Vou te falar a minha impressão disso tudo. Não é que não é unida em termos de amizade. Em termos de amizade sim, existe uma conexão muito grande. Não é unido em termos de produção, em termos de trabalho. Para mim o rock ganhou a guerra, mas perdeu a batalha, ou o contrário. Hoje em dia todo mundo se veste como roqueiro, usam jeans, camisetas. Se você vê um show sertanejo ou música baiana, parece um show de rock. A estrutura de palco, tipo de instrumento, jogo de luzes. O espetáculo em sim é como um show de rock dos anos 70. Os outros gêneros pegaram este  jeito rocker na maneira de vestir, tocar e se apresentar. Nos anos 80 o rock brasileiro teve essa produção e hoje em dia só tá um pouco perdido. Há músicos excelentes, pois o Brasil sempre exportou música de qualidade, vide bossa nova e o samba e o rock brasileiro é excelente também. Temos vários Sepulturas por aqui. O que falta é organizar. Falta produção e espaço. Pois fica assim: ou toca num barzinho, com uma estrutura modesta e tenta inovar voltando a tocar em casas noturnas como foi hoje aqui no Madame, que é o CBGB paulistano. rssssss. Aqui é um amálgama de punk, rock and roll, tudo. Não à toa escolhemos o Madame pra gravar nosso primeiro clipe, por causa da vibe do lugar. Foi legal, porque parceria é uma coisa rara e aqui teve tudo: técnicos de som e luz.

 O roqueiro no Brasil é preguiçoso, pois vive dizendo nas redes sociais que não têm banda nova, e não tem a capacidade de sair de casa pra prestigiar os grupos que ralam pra caramba pra mostrar o trabalho sem muito retorno de público. O que acha disso?
DG – Vamos dar um desconto pros nossos roqueiros. Por que quais são as opções? Ou vai num show gigante no Allianz Parque ou Carioca Club ou vai no barzinho ver as bandas tocarem numa condição muito ruim. Por isso que acho que na medida em que conseguirmos fazer shows possíveis pros grupos produzir e encarar a produção, principalmente através de parcerias o público vem. É isso.

O CD da Power Blues deve ser lançado até o final do ano?
DG – Bom, devemos lançar em 5 de outubro no SESC Belenzinho (a confirmar). O SESC tem feito um trabalho muito bom, mas são muitas bandas, às vezes a espera é de dois anos pra tocar. Esperamos só alguns meses e somos gratos por isso.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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