Houve 'comemoração' pela doença de João Gordo: o fosso está mais fundo
Marcelo Moreira
Existe uma crise política grave e duradoura no Brasil, que envolve questões éticas e de comportamento, mas que também se espalha para outras áreas, transformando-a em uma crise social.
Não existe mais cordialidade, nem condescendência, muito menos solidariedade. Sobrou apenas o ódio. É o que podemos observar nas redes sociais, que deram voz a gente incapaz e desprovida de bom senso.
As recentes manifestações a respeito do problema de saúde de João Gordo, vocalista dos Ratos de Porão, demonstram que o fosso em que a sociedade brasileira se meteu é profundo.
João Gordo foi internado pela segunda vez em 30 dias por conta de uma pneumonia que se mostra crônica, forçando a banda a cancelar shows e turnê europeia. O cantor tem um histórico de problemas de saúde neste século, mas tem demonstrado valentia e resistência.
No entanto, por seu notório engajamento antifascista e pelos direitos humanos/civis, virou faz tempo alvo de ativistas e apoiadores da extrema-direita, o que levou a manifestações de "comemoração" por sua internação nas redes sociais em muitos grupos.
Isso é algo extremamente nojento, revelando uma indigência intelectual e uma atitude calhorda de parte da sociedade brasileira – parcela expressiva dessa gente que torce pela morte de João Gordo é formada por músicos e apreciadores de rock e metal que se dizem "conservadores".
É uma atitude abjeta e condenável, da mesma estirpe daquela atitude nojenta tomada por dejetos humanos de extrema-esquerda que "comemoraram" a morte do filho do então governador paulista Geraldo Alckmin em um acidente de helicóptero anos atrás.
Não se trata mais de exigir algum tipo de sensibilidade e bom senso de gente que adotou o ódio como impulso de vida no cotidiano deste século. É apenas uma mera constatação de que a falência social brasileira e latino-americana é uma realidade e de que falhamos enquando sociedade civilizada.
Não dá para medir a profundidade do problema em outros países de nosso continente – exceto na Venezuela e a Nicarágua, que são países socialmente convulsionados e emprobrecidos por suas ditaduras de cunho esquerdista há alguns anos.
Argentinos com bom senso e bem informados insistem em dizer que o país está em um buraco tão profundo, social e politicamente, quanto o do Brasil. Algo parecido ocorre no Peru e no Equador, assim como em El Salvador. Fogem um pouco dessa realidade Uruguai, Chile e Costa Rica.
Vibrar pelo infortúnio de alguém é mais do que pobreza de espírito. É mau-caratismo em seu estado mais puro.
João Gordo tem um legado impostantíssimo no rock brasileiro e internacional, pra não falar de sua coragem política ao assumir posturas antifascistas e contra o autoritarismo em pleno período de ditadra militar e pós-ditadura, quando o aparato repressivo do Estado ainda estava bastante atuante seguindo os preceitos ditatoriais.
O fosso social no Brasil, de cunho político, aumenta cada vez mais e as chances de ser diminuído são nulas. A democracia é a primeira a sofrer com suas consequências.
Continuamos defendendo que a intolerância, de qualquer tipo, não pode ser tolerada em nenhuma circunstância. Intolerância se combate com intolerância para que a democracia seja preservada.
O problema é que o silêncio da maioria com bom senso, mesmo que tenha errado redondamente ao votar no atual presidente, se recusa a admitrir o erro e prefere a omissão em vez de propor a reconstrução de pontes. Infelizmente, não esperemos por dias melhores.
Sobre os Autores
Sobre o Blog
Contato: contato@combaterock.com.br
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.