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'Higway to Hell', a despedida de Bon Scott do AC/DC, faz 40 anos

Combate Rock

11/08/2019 06h46

Ricardo Gozzi – do site Roque Reverso

O AC/DC dos tempos de Bon Scott dispunha de um certo dom premonitório. Quem escolhesse o rock n'roll teria um longo a percorrer caminho se quisesse chegar ao topo, já cantava a banda desde dezembro 1975, data de lançamento de seu segundo disco, "T.N.T.".

Dinamite pura. Pé na porta. Desde "High Voltage", o AC/DC abria seu caminho rumo ao estrelato sem pedir licença. Depois de cinco álbuns de estúdio, a banda australiana lançaria em 1978 seu primeiro registro oficial ao vivo, "If You Want Blood".

É um petardo depois de outro, sem trégua. Trata-se de um dos melhores discos ao vivo da história do rock como um todo, e provavelmente o melhor da história do hard rock.
O AC/DC nunca negou querer dinheiro, sucesso, fama. Mas haveria um preço. E eles sabiam disso. Talvez não soubessem que seria tão alto.

A banda era pesada demais, incontrolável demais. "If You Want Blood" atingira o 13º lugar entre os discos mais vendidos na Inglaterra. Mas a Europa era apenas uma escala. Os australianos queriam mesmo era conquistar o mundo.

E uma encruzilhada se impunha desde que o braço norte-americano da Atlantic Records recusou-se a lançar "Dirty Deeds Done Dirt Cheap" nos Estados Unidos em 1976. A mensagem era clara: ou o AC/DC se enquadra e se torna mais radiofônico ou não entra na Degringolândia.

Ainda assim, a gravadora teve de engolir uma turnê de sucesso dos australianos em 1977 pelos EUA. Sem nenhum apoio de mídia, o AC/DC arrastava o público no boca-a-boca, obrigando a Atlantic a rever o comportamento esnobe com uma potencial galinha dos ovos de ouro.

Com o moral em alta, a banda decidiu então pagar o preço. No fim de 1978, a contragosto principalmente dos irmãos Malcolm e Angus Young, o AC/DC trocaria pela primeira vez de produtor. Para eles, o problema nem era tanto a demissão de Harry Vanda, mas a de George Young, irmão mais velho dos guitarristas e na prática o sexto membro da banda.

A Atlantic indicou ao AC/DC, o sul-africano Eddie Kramer, famoso por seus trabalhos com Jimi Hendrix e Led Zeppelin. A banda então foi para os Estados Unidos, mas a animosidade se impôs desde o início, especialmente com a implicância de Kramer com o vocalista Bon Scott.

Protagonista de um estéril processo de intimidação, Kramer tentava enquadrar a banda o tempo todo, provavelmente autorizado pela gravadora, mas os australianos sabiam ser arredios.

Certo dia, Malcolm liga para o empresário Michael Browning para desabafar e expor a situação. O empresário então entrou em contato com Robert Lange, conhecido por seu trabalho com o Boomtown Rats, enquanto o AC/DC dava um dia de "folga" para Kramer.

O dia de folga do produtor foi o bastante para a banda compor metade do disco e fazer uma proposta para Lange. A contratação do produtor novo acabou custando também o emprego do empresário que ajudou a intermediar o contato. O AC/DC trocou Browning por Peter Mensch, responsável por alavancar um tal de Aerosmith.

A banda seguiu então para Londres em março de 1979 e, depois de dois meses de trabalho árduo, com sessões que se estendiam por 15 horas, Lange e o AC/DC concluíam a gravação e a mixagem de "Highway to Hell", o sexto álbum de estúdio dos australianos e que neste sábado, 27 de julho de 2019, completa 40 anos de seu lançamento.

Tanto esforço acabou recompensado pela criação de uma obra-prima. "Highway to Hell" é o ápice do AC/DC com Bon Scott. O som seguia pesado, as letras continuavam sacanas e as rádios comerciais continuavam resistindo, mas algo havia mudado. Uma maturidade maior no som sugeria que a banda estava finalmente pronta para o estrelato.

As músicas "Highway to Hell", "Girls Got Rhythm" e "Touch Too Much" foram escolhidas como músicas de trabalho, lançadas em singles entre julho de 1979 e janeiro de 1980. Pela primeira vez, o AC/DC entrava no Top 100 da Billboard.

Mais do que isso, o álbum "Highway to Hell" chegou aos 13º lugar entre os discos mais vendidos nos Estados Unidos em 1979.

Além das músicas de trabalho, o disco contava com o registro de estúdio de "If You Want Blood (You've Got It)" e a blueseira "Night Prowler", que alguns anos depois se tornaria maldita ao ser usada pela polícia de Los Angeles como "inspiração" para apelidar um serial killer que teve como uma das características apontadas pelas "otoridades" ser um fã do AC/DC – e da música mais especificamente.

Falsas polêmicas e premonições à parte, o AC/DC havia percorrido a seu modo o caminho rumo ao estrelato.

A conta chegou em fevereiro de 1980. Angus e Malcolm Young já trabalhavam nos esboços do que viria a ser o outro clássico "Back In Black", de longe o disco de maior sucesso comercial da banda. Mas o processo de criação acabaria interrompido tragicamente.

Em algum momento entre a noite de 18 e a madrugada 19 de fevereiro de 1980, depois um porre homérico, Bon Scott foi deixado para dormir no carro de um amigo estacionado em uma rua do bairro londrino de East Dulwich.

Enquanto dormia, talvez por consequências do porre, da mistura com heroína, de um afogamento por vômito, talvez por hipotermia, Scott embarcou estupidamente em sua própria highway to hell – e ainda aguarda a chegada de parte de seus velhos amigos.

A banda por pouco não encerrou suas atividades por causa da morte do vocalista/amigo/irmão. E quem os poderia condenar se o fizessem? Mas o AC/DC havia escolhido o rock n'roll e ainda tinha um longo caminho a trilhar…

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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