Amor e psicodelia transbordam nos CDs de Vento Motivo e Pepe Bueno
Marcelo Moreira
Uma busca frenética pelo que perdemos na correria de 30 anos loucos e insanos. Nostalgia ou homenagem? Acho que não tempo para os integrantes da banda paulistana Vento Motivo pensarem nas motivações de "Obras Cruéis", o novo álbum da banda.
Certmente, não é o caso da banda Pepe Bueno e Os Estranhos. A sonoridade foi toda calcada e planejada para ser uma viagem bem maluca aos badalados anos 70: é psicodelia pura que serpenteia nas melodias nostálgicas.
A Curumim Records veio com tudo no seu primeiro ano de atividades e mostra as cartas diante de um mercado em constante mutação, onde o rock nacional ainda busca se recolocar diante da nova onda.
O selo/gravadora é uma associação entre dois músicos experientes e bastante criativos da cena paulistana – Pepe Bueno (baixista também da banda Tomada) e Fernando Ceah, vocalista e guitarrista do Vento Motivo.
"Obras Cruéis" já está praça e faz uma ponte elegante – e dramática – entre o rock e a MPB, aquele limbo interessante que marcou o comecinho dos anos 80.
Ao celebrar o amor em "tempos de cólera", onde o mundo dividido ameaça implodir em pancadarias entre "nós e eles", o Vento Motivo aposta todas as fichas em uma nostalgia quase inocente e ingênua, entre canções autorais e releituras interessantes para clássicos do cancioneiro popular. É rock, mas é também "música de radinho de pilha".
Fazia tempo que uma banda não acertava a mão ao investir diretamente no pop rock radiofônico em um momento em que até essa vertende se tornou totalmente uinderground.
O trio paulistano formado por Fernando Ceah (voz, guitarra e composições), Binho (bateria) e Ivan Isoldi (baixo) mergulhou nos anos 80 e resgata um mundo perdido que explodiu há mais de três décadas com Léo Jaime, Lulu Santos, Ritchie, Eduardo Dussek e mesmo com as canções pueris de recreio cantadas pela Blitz.
É pop, é clichê, mas é agradável e não soa forçado, como uma banda cover tentando emular o original. Como bem descreve Ceah no material de divulgação, o Vento Motivo aposta no "romance, falta, sexo, desejo, ciúme, traição, saudade, perdão e resiliência, que são alguns caminhos do labirinto sentimental da vida".
"Sonhos" é um clássico improvável de Peninha que ganhou ma versão improvável do Vento Motivo. Mais acelerada, está mais urgente e candente, acrescentando uma pitada de melancolia punk.
"Eu e Você Sempre", de Jorge Aragão, é outra coisa improvável do repertório. Virou outra música, e ficou bem interessante, assim como "Entre a Serpente e a Estrela", versão de Amarillo By Morning com letra de Aldir Blanc, conhecida na voz de Zé Ramalho.
"Aproveitamos a tônica das novas composições, que tratam basicamente de conflitos amorosos contando uma história rica em detalhes, sensações e poesia, pra regravar algumas músicas do cancioneiro brasileiro com a mesma temática, que eu sempre quis cantar na nossa pegada. São versões surpreendentes, mas que conservam a alma das gravações originais", diz Fernando Ceah.
Nas canções autorais, "O Seu Refrão" é a mais legal, com um clima de melancolia que marcou o começo da carreira rodos Paralamas do Sucesso em relação às baladas. É pungente e doce, mesmo que a originalidade não seja o forte da canção.
"Fogo e Lágrimas" e "Talvez Amanhã" seguem na mesma toada: a simplicidade predomina, com levadas de guitarras retas e pouco surpreendentes, mas que fazem sentido diante do conceito de pop rock grudento e palatável.
"Canção da Baleia Azul", por seu lado, gravação em voz e violão que fala das angústias da depressão, sai um pouco do formato, remetendo aos trabalhos mais modernos de bandas como O Terno.
"Obras Cruéis" é um trabalho diferente em um momento em que os roqueiros nacionais buscam espaço e também buscam uma mensagem para se destacar em um cenário depredado. É um caminho difícil, mas o Vento Motivo arriscou e se deu bem.
Pepe Bueno lança seu terceiro disco solo,"Preces e Tentações", e agora acompanhado pelos Estranhos. Em uma direção oposta à do amigo Ceah, finca os dois pés no rock setentista e abusa, em alguns momentos, do experimentalismo sonoro. Difícil nao lembrar de Mutantes, Bacamarte, Patrulha do Espaço, O Terço…
Com a participação de uma constelação de amigos – integrantes e ex-integrantes de bandas como Golpe De Estado, Baranga, Patrulha do Espaço, Vento Motivo, Som Nosso de Cada Dia, Guilherme Arantes, Carro Bomba, 8080 e Tutti, o disco respira psicodelia o tempo todo, além de flertar em todas as faixas com o rock progressivo.
Bueno é baixista, mas tem um ouvido sensacional para encontrar as melodias perfeitas na guitarra. "Respira" é Tutti Frutti puro, enquanto os Mutantes o encontram em "Vida", onde os solos de guitarra são memoráveis.
O Golpe de Estado parece ser a inspiração de "Esconderijo", sendo talvez o principal brado do chamado rock urbano que predomina no álbum.
A delicada "Calma" é um oásis dentro do mundo caótico que Bueno aborda, enquanto que a energa roqueira dá as caras em "Cá, entre nós", desembocando depois na bela balada "Último Dia de Verão".
Duas vertentes, dois mundos diferentes, mas o rock nacional ganha, e muito, com os dois novos trabalhos lançados pela Curumim Records.
PARA ESCUTAR O ÁLBUM "OBRAS CRUÉIS" NO YOUTUBE, CLIQUE AQUI.
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