Delicado e sutil, Jon Anderson 'abre as portas do mundo' em novo CD
Marcelo Moreira
Enquanto muita gente caiu na pegadinha de 1º de abril dando conta da reunião de todos os membros e ex-membros do Yes vivos em um álbum de "despedida", o cantor Jon Anderson, ex-vocalista da banda, lançava sem muito alarde seu novo trabalho, "1.000 Hands: Chapter One".
Às vésperas de completar 75 anos, o cantor de voz aguda, fina e delicada mergulha novamente em um de seus prazeres, a música do mundo.
Se em muitos de seus trabalhos solo predominavam sons étnicos árabes e asiáticos, notadamente os de inspiração indiana, no mais recente CD a ideia é escancarar as portas para o mundo, com toneladas de referências que viajam pela África, pelas raízes da América do Norte, pelo Brasil e muito mais.
Curiosamente, a ideia do álbum recém-lançado remete a sobras de um projeto abortado em 1990 pelo próprio cantor. Ele queria retomar a parceria com os então ex-companheiros de Yes Chris Squire (baixo) e Alan White (bateria) para crciar uma música que fugisse do rótulo de rock progressivo. Como Anderson sempre brinca, queria fazer a "música do mundo".
O projeto seria chamado de Uzlot, mas foi abandonado devido a um projeto muito maior, que era o retorno do Yes com oito integrantes. Anderson não teve como recusar.
Para relembrar: o Yes tinha acabado em 1981 e Squire e White quase se uniram a Jimmy Page e Robert Plant na banda XYZ. Não deu certo e começaram outro projeto, o Cinema, ao lado do ex-tecladista do Yes Tony Kaye e do guitarrista novato sul-africano Trevor Rabin.
Um dia Anderson vitisou os ensaios da nova banda e adorou o que ouviu. Ofereceu-se para fazer alguns arranjos de músicas e vocais de apoio. Duas semanas depois foi convidado a entrar na banda, que voltaria a se chamar Yes, nome de propriedade de Squire.
Deu tão certo que o disco "90125", de 1983, vendeu horrores e se tornou o maior sucesso do grupo. Quando o grupo se reuniu para trabalhar no álbum seguinte, "Big Generator", de 1987, velhos problemas surgiram, como as divergências musicais, e o álbum, que era ruim, fracassou. No ano seguinte, Anderson saiu e montou o Anderson, Bruford, Wakeman & Howe, com ex-membros do Yes.
Em 1990, quando o projeto Uzlor foi ventilado, Squire e seu empresário vieram com a ideia de unir o Yes da época com o Anderson, Bruford, Wakeman & Howe naquilo que veio a se tornar o álbum "Union", com uma turnê subsequente, entre 1900 e 1991. Eram oito integrantes, todos com passagem pela banda.
O projeto foi um sucesso de vendas e público nos shows, mas acabou sme deixar saudades, já que as brigas e desavenças nunca foram sanadas.
O Yes continuou como um quinteto com a formação clássica (com idas e vindas do tecladista Rick Wakeman) até que, em 2007, Jon Anderson ficou seriamente doente às vésperas da turnê de 40 anos de criação do grupo. Teve problemas respiratórios e na coluna.
Com o apoio do guitarrista Steve Howe, Chris Squire decidiu manter a turnê e demitir o velho amigo vocalista, contratando em seu lugar Benoit David, um cantor de banda cover do próprio Yes. Curiosamente, anos depois David ficaria doente antes de uma turnê da banda e seria substituído por Jon Davison, outro músico com passagens em bandas cover do Yes.
O resgate das músicas do Uzlot surpreendeu, já que Anderson é um compositor prolífico. Muita gente imaginava que ele fosse retomar a parceria com o guitarrista sueco Roine Stolt, líder da banda Flower Kings, que rendeu um ótimo CD há três anos, onde o rock progressivo predominou.
Com as portas abertas para o mundo, o cantor contou com um time estrelado para gravar as canções multifacetadas e diversificadas. Quem mais aparece é o violinista francês Jean-Luc Ponty, um amigo antigo que deu uma "cara" de world music para várias canções.
Outro Anderson brilha em pelo menos três canções. Contemporâneo do rock progressivo setentista, o líder do hoje encerrado Jethro Tull, Ian Anderson, tocou flauta e violão, além de outros amigos, como o tecladista Jonathan Cain (ex-Journey), Carmine Appice (ex-Vanilla Fudge e Beck, Bogert and Appice) e o guitarrista Rick Derringer.
Das gravações mais antigas foram aproveitadas performances de outros artistas importantes, como Bobby Kimball (vocais, ex-Toto), Billy Cobham (bateria), os jazzista Larry Corryel (guitarra) e Chick Corea (teclados), além do baixo de Squire e da bateria de White.
As canções mantêm um astral bem positivo, como "Where Does Music Come From?" e a oriental "Ramalama", além da dançante e festiva "Make Me Happy". As mensagens de esperança e de teor ecológico permeiam quase todas as letras, mas longe da pregação e de tornar o CD enfadonho.
Ponty vai muito bem em "First Born Letters" e "Activate", enquanto que Ian Anderson acrescenta sons interessantes em "Make me Happy" e "Now Variations"
É difícil encarar o Yes sem Jon Anderson, e fica complicado ouvir Jon Anderson sem o Yes neste século. Só que este álbum é muito bom, uma espécie de resumo da carreira solo do grande cantor de rock progressivo. É delicado, sutil e emocionante, reunindo muitas influências de world music e música erudita. Não é o seu melhor trabalho solo, mas é muito prazeroso ouvi-lo.
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