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Folclore e blues na veia: Duca Belintani acerta no projeto para crianças

Combate Rock

08/05/2019 06h49

Marcelo Moreira

Blues para crianças, com jeitão de contação de histórias, só que com um som que tem muito daquilo que gente grande costuma amar. Um projeto desses poderia dar certo?

O guitarrista e compositor paulistano Duca Belintani achou que sim, e com isso cometeu um dos álbuns mais instigantes e interessantes lançados neste primeiro semestre.

"Blues na Floresta" é coleção bem bacana de temas elaborados cuidadosamente para atrair a criançada abordando temas importantes do folclore nacional, do Saci Pererê à Mula Sem Cabeça, entre outras histórias.

"Fazer blues para as crianças tem tudo a ver, principalmente pelos temas em que abordo. Eu já vinha pensando nisso há algum tempo e o processo de composição e gravação foi muito rápido. Estou muito satisfeio com o resultado", diz o guitarrista.

O trabalho conta ainda com a parceria do letristaOsmar Sant os Jr., com quem compôs as canções sobre as lendas e os personagens brasileiros, dentro do estilo musical afro-americano. A ideia foi criar um disco divertido para contar as históriasdo nosso folclore.

Embora saiba da existência de bandas que adaptaram sucessos do rock para o público infantil, como Kiss Fir Kids e uma que aborda as músicas dos Beatles, Belintani não usou essas experiências como inspiração.

"Existem muitas iniciativas que têm como foco nas crianças e em vários gêneros, mas eu sabia que não havia nada na área do blues, menos ainda com foco bem mais didático. Como dou aulas de música para crianças também, me pareceu natural criar o 'Projeto Blues na Floresta"', acrescenta;

O álbum foi gravado por Duca Belintani e sua banda formada por Benigno Sobral (baixo), Ulisses da Hora (bateria) e Ricardo Scaff (gaita), além dos convidados especiais Vinas Peixoto (percussão), Mateus Schanoski (teclado), Adriano Grineberg (teclado) e Beatriz Belintani (vocais).

Para interpretar algumas canções, Duca trouxe participações especiais de grandes artistas da música brasileira como Andreas Kisser, Graça Cunha, Paulo Freire, Suzana Salles, Theo  Werneck, e Vange Milliet.

Além das músicas, o projeto traz a criação artística de 11 ilustradores que retratam, cada um no seu estilo, os guerreiros da floresta para o encarte do CD. 

Para as apresentações ao vivo, cada músico se veste como um dos personagens do folclore para ampliar a interação com as crianças. As músicas convivem bem com as falas de Belintani, que é um artista expansivo e muito culto. "Claro que minha experiência lecionando ajudou, mas o blues é que move todo o processo ao lado da riquíssima cultura brasileira. Tudo casou tão bem."

Duca Belintani (de boné) e alguns dos músicos caracterizados para o projeto 'Blues na Floresta' (FOTO: Aline Belintani/Divulgação)

O álbum é uma delícia de se ouvir. Usando os principais ganchos do gênero musical, Belintani e banda constroem um mundo de conto de fadas movido a riffs e licks.

"Lobisomem" e "Saci Pererê" são as melhores canções, onde o músico demonstra toda a sua habilidade para disparar fraseados eloquentes e incisivos com o melhor do blues contemporâneo.

Outra curiosidade é "Cuca", um blues pesado que resvala no hard rock e com um vocal agressivo, em uma sacada genial, já que é isso mesmo o que o personagem requer.

"Blues na Floresta" é uma feliz fusão de blues bem feito e conteúdo didático simples, mas muito eficaz. Traz o melhor dos dois mundos e abre um mar de possibilidades dentro da música e da pedagogia. É um projeto que certamente será requisitado por iniciativas e empreendimentos da área da educação.

Para o pessoal que apenas quer saber do blues, a marca Duca Belintani é uma garantia de qualidade. É blues em outro formato e com outra finalidade, mas está tudo ali, dos riffs pegajosos e habilidosos aos arranjos de gaita de muito bom gosto. Dá para dizer que é quase uma continuação, em termos instrumentais, de "How Long", o mais recente álbum do guitarrista. É uma música muito gostosa de ouvir.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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