Massacre de Suzano: é claro que iria sobrar para o rock...
Marcelo Moreira
Não demorou muito para que o festival de bizarrice e de ignorância que assola as redes sociais chegasse ao rock após o massacre na escola Raul Brasil, em Suzano (SP). Foi só a revista Época dissecar o perfil do Facebook de um dos atiradores para que os imbecis outra imersos nos pântanos ressurgissem.
O atirador de 17 anos, chamado Guilherme, era fanático por armas e videogames violentos, além de se interessar por política de extrema-direita (participava de grupos que fazem apologia do nazismo), ser apoiador do presidente Jair Bolsonaro e gostar de rock, em particular da banda canadense Three Days Grace (bem fraquinha, por sinal), que faz algo próximo do metalcore.
Não faltaram acéfalos nas redes sociais para relacionar o fato de o garoto ser um desajustado por ouvir rock, "música degenerada e violenta", como escreveu um em algum fórum por aí.
Um cidadão, com o apelido de deadforever, vomitou uma série de "conceitos" a respeito de como o rock pesado é um indutor de "comportamentos nefastos" e "incitador à violência".
Curiosamente, deadforever é adepto de bolsonaro e prega a liberação total de armas, mas preferiu se concentrar no rock, algo que nem é marginal no caso para se traçar o perfil de um dos assassinos. Também é bastante curioso que ele sequer tenha aludido a questão da liberação de porte e posse de armas.
Também houve ataques estúpidos ao rock dentro de algumas comunidades evangélicas com alguma atividade na internet, segundo informam amigos e leitores. É a mesma ladainha de sempre, associando o gênero musical ao demônio, à degenração, à falta de caráter e outras bobagens, como temos nos acostumado desde os anos 80.
Nestes ambientes de cunho religioso, não foram poucas as menções de apoio ao presidente Bolsonaro – nenhuma crítica á questão da liberação das armas, já que o problema para essa gente é a "influência nefasta do rock"…
Por enquanto são atos isolados. Essas associações do rock pesado com a tragédia de Suzano são tão estapafúrdias que ainda podem ser confinados à ala das bizarrices do nosso dia a dia.
Mas não nos iludamos e nos enganemos: há conexão com a cruzada contra o conhecimento, a cultura e a educação promovida pelo governo obscurantista e medieval de Jair Bolsonaro. Em algum momento a música e o rock serão atacados com mais veemência por conta de suas mensagens e seu caráter libertário e de contestação.
Como foi dito durante a campanha eleitoral de 2018, o estímulo ao ódio e ao preconceito generalizado de origem na extrema-direita abriu os portões do inferno para todo tipo de bestialidade se manifestar em pleno século XXI. E situações como a do massacre de Suzano acaba sendo um terreno fértil para que os lixos humanos emerjam do lodo para nos assombrar.
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