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Ricardo Vignini, o nerd da viola, expande possibilidades em novo CD

Combate Rock

07/03/2019 07h11

Marcelo Moreira

Ele se diverte tocando Led Zeppelin, Metallica e Sepultura na viola caipira, aquela de dez cordas, mas faz questão de ensinar seus alunos músicas de Tião Carreiro e Pardinho. Inventa arranjos inusitados para tocar Jethro Tull, mas desconcerta a plateia ao executar com maestria músicas de Índio Cachoeira e catiras do interior da cidade.

Ricardo Vignini, o paulistano roqueiro que um dia trocou a guitarra e pela viola caipira, costuma dizer que não tem tempo para reclamar, por mais que às vezes desabafe nas rede sociais.

Dividindo-se entre a carreira solo, o grupo de rock rural Matuto Moderno e a dupla Moda de Rock, com parceiro violeiro mineiro Zé Hélder, lança nesta semana "Viola de Lata", seu terceiro álbum solo, e 15º contando todas as suas participações.

O novo trabalho chega apenas um depois de "Rebento", elogiado trabalho em que mistura de tudo e inova ao buscar arranjos bem diferentes para passar por alguns gêneros musicais.

"Viola de Lata" será lançado no dia 10 de março com uma apresentação no Itaú Cultural, na avenida Paulista, em São Paulo. São dez composições autorais, uma releitura para "Rio de Lágrimas" (Tião Carreiro, Lourival dos Santos e Piraci) e uma canção com arranjo adaptado da tradicional melodia da cultura popular, a música "Galope na Beira do Mar". Esta tem letra da cantora e compositora Socorro Lira,com influências de música caipira, nordestina, folk, rock e blues.

Socorro estará na apresentação inaugural dessa nova fase na música "Um Arame Só / Marimbau Tietê" (Ricardo Vignini e Socorro Lira) e na "Galope na Beira do Mar". Tuco Marcondes, em algumas músicas, tocará um violão ressonador.

Ricardo Vignini (FOTO: DIVULGAÇÃO/MARCELO MACAUE)

Tocar mais alto

Aliás, esse instrumento é um dos que Vignini domina dentre uma variedade de violas e violões. Capaz de encontrar timbres diferentes e surpreendentes, o músico paulistano é um dos entusiastas do dobro, o violão de corpo de aço, muito popular no sul dos Estados Unidos entre artistas de blues e country music. 

A necessidade de ser ouvido mais alto foi que fez surgir os instrumentos ressonadores/dinâmicos no final da década de 20, quando surgiram os dobros (contração de DOpyera BROthers), inventados por John Dopyera, eslovaco radicado na California, buscando atender a necessidade do músico de "lap steel" (guitarra com cordas de aço geralmente tocada no colo) George Beaumont.

No Brasil,  em São Paulo, Angelo Del Vecchio, natural de Riposto (Sicília, na Itália) começa a atuar como luthier em 1902 e, no começo da década de 30, inventa o instrumento ressonador conhecido como "violão dinâmico". Mais tarde foram criados no país  também violas, cavaquinhos, bandolins e o violão tenor, muito popular no choro.

Como esses instrumentos eram antecessores da amplificação, fizeram muito sucesso em determinada época, mas com o surgimento dos captadores e amplificadores elétricos, tiveram expressivo declínio.

No Brasil quem adotou as violas dinâmicas com muito sucesso foram os repentistas nordestinos, pois suas vozes fortes casaram perfeitamente com o instrumento. Existem relatos de que os radialistas não gostavam que as duplas caipiras se apresentassem nas rádios com instrumentos dinâmicos, pois encobriam as vozes com seu imenso volume.

Os violões dinâmicos brasileiros chegaram aos Estados Unidos pelas mãos de uma dupla de índios autênticos, os Índios Tabajara, violonistas virtuosos que fizeram uma carreira de muito destaque lá. Hoje os dínamicos são bastante conhecidos no mundo todo por apreciadores dos violões ressonadores.

"Minha paixão por esse instrumento vem do começo da década de 90, onde eu consegui meu primeiro violão dinâmico para tocar slide. Já em 2003, trouxe ao Brasil um dos maiores especialistas de instrumentos ressonadores e slide do mundo, Bob Brozman, e tive o prazer de tocar com ele cinco shows", diz Vignini.

Relembrando uma paixão

"Viola da Lata" também tem  um valor sentimental para o músico por se tratar de um resgate, uma maneira de tocar que é uma das paixões de Vignini. "Amo tocar slide (modo de tocar conhecido por deslizar tubinhos de metal ou vidro no braço do violão).  Em 1991, conheci o marimbau nordestino (ou berimbau de lata), um arame esticado em um pedaço de pau, com latas fazendo o papel de ressonadores, tocado com um bastão/graveto de forma percussiva, e com um caco de telha, um garfo, faca ou qualquer outro objeto deslizante marcando as notas."

Para ele, era o legítimo "nosso lap steel", maneira do nordestino tocar que influenciou muito de seu estilo no slide. "Graças à tecnologia, conseguimos fazer uma gravação em parceria com um autêntico 'tocador' desse instrumento, o saudoso Gavião, tio da cantora Socorro Lira, na faixa 'Galope na Beira do Mar."'

O novo álbum é mais um passeio pela música instrumental de raiz do Brasil. "Se o ótimo "Rebento" continua músicas muito reverentes e, de certa forma, fiéis aos gêneros aos quais prestava mais homenagem, "Viola de Lata" vai além em termos de qualidade e ousadia.

Os timbres obtidos nas violas são impressionantes, assim como a execução impecável em canções como "Minuano", onde esbanja vitalidade e habilidade ao solar e fazer a base ao mesmo tempo.

"Metal da 12" vai na mesma toada, com uma viola de 12 cordas que preenche todos os espaços, em uma grande demonstração de virtuosismo, mas a serviço da música. "Rio das Lágrimas" e "Adaga de Prata" São músicas mais tradicionais, em que a vioa dialoga com a melodia de outros instrumentos e traz um Vignino um pouco mais contido.

Também são destaques "Rua Aurora", com sua dinâmica interessante e ótima condução da melodia, e "Do Ferro ao Pó", um pouquinho mais pesada e intensa.

Ricardo Vignini – Lançamento do álbum Viola de Lata

Itaú Cultural

Sala Itaú Cultural

Av. Paulista, 149, piso térreo – Bela Vista (170 metros da Estação Brigadeiro do Metrô)

Capacidade: 224 lugares (com espaços para cadeirantes, obesos e portadores de necessidade especiais).

Duração: 80 minutos aproximadamente

Domingo, 10 de março, às 19h

Classificação: Livre

Entrada gratuita

Distribuição de ingressos:

Público preferencial: duas horas antes do espetáculo (com direito a um acompanhante)

Público não preferencial: uma hora antes do espetáculo (um ingresso por pessoa)

Estacionamento: Rua Leôncio de Carvalho, 108

Bicicleta: Precisa ter cadeado próprio.

Veículos: R$ 10,00 / R$ 5,00 por hora adicional

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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