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Com arte e cultura reduzidas a 'custos', sociedade ganha atestado de óbito

Combate Rock

02/03/2019 06h53

Marcelo Moreira

Flávio Guimarães e Xime Monzon (os dois ao centro) foram os destaques do festival BB Seguros de Jazz e Blues de 2017, no Parque Villa Lobos (FOTO: ARQUIVO PESSOAL/FACEBOOK)

Empresa pública deve patrocinar atividades esportivas e culturais ou fazer publicidade em camisas de equipes de futebol, vôlei ou basquete – para não falar em patrocínios de esportes olímpicos?

A discussão não é nova, mas foi arrefecendo ao longo dos anos por conta dos inequívocos e incontestáveis resultados que proporcionaram ao longo dos anos – formação de atletas de primeiríssimo nível internacional, ajudando na criação e produção de incontáveis obras de arte de muita qualidade e levando cultura e entretenimento a um público cada vez maior e antes carente de desse tipo de ação.

O desvirtuamento deliberado e criminoso do debate intelectual que tomou conta do Brasil a partir de 2013 conseguiu o efeito nefasto de reabilitar o pensamento conservador mais retrógrado e boçal que pode existir na sociedade brasileira.

Travestido de discussão democrática, o patrulhamento político-ideológico-cultural de inspiração fascista e ultraconservador, que explodiu na última eleição presidencial, contaminou de forma devastadora o ambiente social.

Como o conhecimento, a educação, a imprensa e as artes foram declarados os principais inimigos do governo Bolsonaro, era inevitável que os incentivos culturais promovidos por instituições da União sofressem cortes ou fossem suprimidos.

Já foram anunciadas as primeiras consequências das declarações desastrosas e inconsequentes do ministro da Economia, Paulo Guedes, de pretender promover um corte de até 50% das verbas federais do Sistema S, que incluem Sesc e Sesi. Se isso for mesmo implementado, toda a parte de patrocínios e incentivos culturais da instituição será extinta.

E quais são essas consequências? Os anúncios do fim do patrocínio da Caixa ao Cine Belas Artes e ao Cinearte em  São Paulo, além da extinção das verbas de incentivo a atividades culturais da Petrobrás, como a Mostra de Cinema do Rio de Janeiro. No caso dos cinemas paulistanos, a perspectiva é de que consigam operar por apenas dois meses após o fim dos repasses das estatais.

Para o governo conservador que está no poder e para o sacripantas iletrados conservadores que apoiam esse tipo de política, investimento em política e em esporte é "gasto".

Tudo o que tem vertente social e de entretenimento visando a cultura é "gasto", e a justificativa para o corte é o "ambiente de crise e de pouco avanço econômico existente, que teria como culpado o governo do PT, que jogou o país na recessão".

Como a mentira parece ser a tônica da política de governo na atualidade, esse é mais um engodo destinado a mascarar o ódio e o nojo que que essa onda conservadora tem da arte, da cultura e do entretenimento. É pura aversão ao pensamento crítico e à liberdade de expressão e de opinião.

Como o ambiente cultural e artístico foram das grandes esferas é degradado e carente, depende bastante dos incentivos e iniciativas das grandes empresas estatais, notadamente Caixa, Petrobrás, Eletrobrás e Banco do Brasil, vira presa fácil de administradores quem têm a "cabeça de planilha", para quem tudo se resume a custos a serem "equacionados", ou seja, cortados.

Para quem conhece como funciona o mercado de arte e entretenimento, em tempos de onda conservadora que justifica a crise econômica para todo e qualquer corte, o próximo ataque deverá atingir o Banco do Brasil, que mantém centros culturais em todo o Brasil e patrocina festivais importantes de música, como BB Seguros de Blues e Jazz, que ocorre em diversas capitais brasileiras.

Para alguns analistas políticos, toda essa movimentação em torno dos subsídios e incentivos à cultura faz parte de um cerco ao ambiente cultural com o intuito de restringir e reduzir o alcance de qualquer tipo de  contestação e crítica, mesmo que leve ao asfixiamento de um setor da economia que movimenta bilhões de reais e emprega muita gente – sim, ainda tem gente na área do entretenimento que tem emprego, por mais fortes e graves que sejam os ataques às leis trabalhistas.

Também é um cerco que prepara um ataque final à Lei Rouanet, a que promove o incentivo a atividades culturais por meio de   modalidades de renúncia fiscal. A mesma Lei Rouanet que a maioria desconhece como funciona e adora falar mal.

Como os benefícios em relação ao marketing e imagem são incontestáveis para as empresas estatais que sempre investiram em cultura e esportes, não resta outra explicação a não ser a "perseguição ideológica" para os cortes que estão sendo e serão promovidos nas verbas da Caixa, Petrobrás e Banco do Brasil.

Como a incompetência  e a indigência intelectual são marcas registradas de produtores culturais e artísticos conservadores e direita, sobra apenas rancor e ressentimento contra aqueles que possuem trabalhos de qualidade, algo que incomoda e muito gente como o ministro do Hino Nacional, a ministra da goiabeira e o presidente inepto e incapaz. Como já vínhamos alertando desde o ano passado, vai piorar, e muito.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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