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Há 50 anos surgia o Free, lenda do blues rock que quase deu certo

Combate Rock

04/02/2019 07h16

Marcelo Moreira

Parecia que tudo daria certo. Quatro jovens prodígios de 18 anos de idade foram reunidos, apesar de se conhecerem por alto, colocam na mesa as suas influências, percebem que tinham muito em comum e resolvem brincar de fazer blues de uma forma diferente.

Eles não sabiam, mas praticamente criaram o blues rock, indo mais além do que o Cream, que acabava no mesmo momento em que a banda deles nascia. Tinha tudo para dar certo, e deu por um tempo, mas os egos inflados não permitiram que a banda inglesa Free durasse mais do que cinco anos.

Há 50 anos, os quatro moleques se juntaram em um estúdio meio caído, e cometeram "Tons of Sobbs", um daqueles álbuns de estreia que marcam um gênero musical.

O baixista Andy Fraser era o cérebro e o principal compositor, aquele cara que pensava e que tinha as grandes sacadas. O vocalista Paul Rodgers era o dínamo, a mola propulsora, aquele cantor explosivo e líder nato que empurrava tudo para frente.

Paul Kossof era o protótipo do guitar hero – intenso, profundo, insano e com uma queda por excessos de todos os tipos. E Simon Kirke? o baterista era a solidez em pessoa e em forma de percussão, o cara que segurava as pontas e que mantinha o ritmo em qualquer situação. Tinha tudo para dar certo…

O Free mostrou ao mundo que o blues poderia seguir um caminho mais pesado e mais intenso, partindo do ponto onde o Cream tinha parado e de onde o Fleetwood Mac estava empacado.

A guitarra era a mola mestra, mas a cozinha precisava ser mais pesada, como a do Canned Heat e a do Cactus. Era blues, mas era muito rock também, com solos incandescentes de Kossof e um vocal versátil e forte.

As brigas começaram bem cedo, ainda o estúdio para a gravação do álbum de estreia, no finzinho de 1968. Rodgers encarava uma oportundiade de ouro com o fim do Cream, em outubro daquele ano. Achava que Kossof poderia mesclar a genialidade de Eric Clapton e Jimi Hendrix com o peso de Jimmy Page e de Jeff Beck. O difícil era convencer o irascível e indomável Kossof, admirador de John Mayall, Peter Green (Fleetwood Mac) e Mike Bloomfield.

Foi um parto, mas "Tons of Sobbs" acabou sendo lançado em fevereiro de 1969, em meio a fortes brigas entre Rodgers e Fraser sobre a liderança da banda e do rumos a seguir.. Não causou furor e nem sacudiu as paradas, mas chamou a atenção de muitos músicos importantes e de executivos de selos musicais ingleses. Tornaram-se a nova sebsção do blues rock inglês.

O Free, em 1970, em Amsterdã: da esq. para a dir., Paul Kossof, Andy Fraser, Simon Kirke e Paul Rodgers. Na extrema esquerda, o amigo Stevie Winwood, do Traffic (FOTO: WIKIPEDIA/ARQUIVO PESSOAL)

Das dez músicas, oito eram próprias, com destaque para os potenciais hits "I'm a Mover" e "Walk in My Shadow", para não falar na versão pesada e incônica de "The Hunter", imortalizada por Muddy Waters, entre outros.

Rodgers, que depois integraria o Bad Company, The Firm com Jimmy Page e o Queen, já nos anos 2000, conta sempre que pode que o Free era uma grande ideia e uma reunião de talentos que implodiu cedo demais por conta da juventude, das diferençaas musicais e dos excessos que o sucesso proporciona.

Quando o último álbum foi lançado, em 1973, a banda não existia mais. "Heartbreaker" tinha sido uma última tentativa para ressuscitar uma banda que acabara no ano interior. Sem Fraser e com Kossof mais ausente do que presente, a banda cumpriu o contrato, gravou e se desintegrou definitivamente.

Rodgers e Kirke se uniram a Mick Raphs (guitarra, ex-Mott the Hoople) e Boz Burrell (baixo, ex-King Crimson) e formaram o Bad Company em 1974, formação que durou até 1983.

Andy Fraser se tornou compositor em tempo integral e passou a produzir vários artistas, além de virar músico solo prolífico e de relativo sucesso. Morreu em 2015 em consequência de um ataque cardíaco.

Paul Kossof, mergulhado de cabeça na cocaína e no álcool, ainda tentou engatar uma carreira solo em paralelo à banda Back Street Crawlers, mas já tinha perdido a credibilidade no mercdo inglês. Em março de 1976, durante um voo entre Los Angeles e Nova York, sofreu uma embolia pulmonar fatal, agravada pelo frágil estado de saúde por conta do abuso de drogas e álcool.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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