PM interrompe show na Av. Paulista no feriado por 'incômodo a escritórios'
Marcelo Moreira
Foram necessários apenas 25 dias para que as forças fascistas desabassem sobre a classe artística brasileira. Primeiro foi a abjeta censura do governo estadual do Rio de Janeiro contra uma exposição na Casa Brasil-França que abordava a tortura na ditadura brasileira.
No último final de semana, a censura baixou na avenida Paulista, que aos domingos fica fechada ao trânsito e aberta á cultura, ao lazer e à arte. De forma autoritária, a Polícia Militar decidiu expulsar um trio de músico de blues que tocava nas proximidades do Consulado da Itália. O detalhe é que a banda toca no mesmo lugar há quatro anos, desde que a avenida começou a ser utilizada como área de lazer. O caso ocorreu no dia 25 de janeiro, feriado em São Paulo.
A coisa é tão ridícula que foram mobilizadas ao menos quatro carros da PM para remover e intimidar os músicos para não só saíssem do local como parasse de tocar, sem, a possibilidade de se mudar para outro lugar da avenida naquela tarde. "As coisas agora mudaram", teria dito o tenente arrogante da PM ao músico Fábio Pagotto, integrante de uma fusão das bandas Os Perdidos e The Esquina.
"É inacreditável que a PM mobilize, com estardalhaço, quatro viaturas e ao menos policiais para intimidar músicos que supostamente estariam incomodando o cônsul e o embaixador, que estariam no local", diz Pagotto.
A explicação dos policiais é de que teriam recebido uma queixa do consulado de que o som produzido pelos três músicos estariam "incomodando" os trabalhos no consulado, apesar de ser um domingo.
O Combate Rock tentou contato com o consulado da Itália desde a sexta-feira, dia 25 de janeiro. Até agora não tivemos retorno – tomamos conhecimento do problema apenas no começo da noite do feriado.
As áreas de comunicação da Polícia Militar paulista e da Secretaria de Segurança Pública também foram contatadas para comentar a questão, mas até agora não obtivermos reposta, nem por telefone, nem por e-mail.
Os músicos filmaram parte da abordagem policial e contestaram a alegação de que estavam atrapalhando quem quer que seja. "Uma pessoa que afirmou ser funcionária do consulado, em suprema arrogância e acompanhada pelo tenente da PM, gritou que o cônsul e o 'embaixador' estavam incomodados com o o barulho. Em pleno feriado, na avenida Paulista tomada por centenas de bandas e artistas, para não falar na população em geral?", afirmou Pagotto.
O músico ainda relatou ter sido xingado e ironizado pelos policiais a respeito da ação. "Outros músicos não foram abordados, apesar de claramente intimidados. Fui chamado de vagabundo e arruaceiro, quando apenas estava tocando e tentando arrumar uns trocados. Foram várias as vezes em que disseram: 'Agora as coisas mudaram, vamos colocar todo mundo na linha'. Estavam adorando essa situação."
Desde a campanha eleitoral de 2018 vimos alertando sobre a escalada autoritária e fascista que visava o conhecimento, as artes, a cultura e a educação. Foram muitos os "incidentes" que visavam a censura, a intimidação e o cerceamento das liberdades de imprensa e expressão. Com a vitória da pessoa que ocupa atualmente o Palácio do Planalto, declaradamente preconceituosa, incapaz e disseminadora do ódio, as coisas pioraram muito.
Considero a atitude intimidatória da PM contra os músicos gravíssima, do mesmo porte da censura protagonizada pelo governo estadual do Rio de Janeiro.
Desde a campanha eleitora – e principalmente após a sua vitória em 2018 -, o governador João Doria (PSDB) tem se esforçado por se mostrar "conservador" além da contam, esbarrando nas ações autoritárias, especialmente ao liberar policiais para portar armamento pesado no dia a dia e decretar novas normas absurdas para coibir qualquer tipo de manifestação popular e de protestos.
Nós avisamos que não tardaria para que o rock e a música em geral fossem alvo da sanha autoritária e fascista das autoridades das forças policiais. Não demorou para que isso acontecesse.
Assista abaixo o vídeo gravado pelo músico Fábio Pagotto sobre a ação policial que decretou o fim de sua apresentação musical na avenida Paulista, no dia 25 de janeiro:
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