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Sesc Consolação inaugura importante exposição sobre o movimento punk

Combate Rock

19/01/2019 06h28

Marcelo Moreira

Foto: Divulgação

 

Observar o movimento roqueiro underground paulista e brasileiro sob um outro olhar, em especial para o segmento punk. Esse é o objetivo da exposição "Não Temos Condições de Responder a Todos", que tem a curadoria de Alexandre Cruz "Sesper", artista plástico e vocalista da banda Garage Fuzz, 

A ideia é trazer a público informações de artistas que normalmente são apenas mencionados quando se fala na explosão punk dos anos 80 em São Paulo.

Para isso, foi reunido um vasto acervo de fotos e textos de gente como o próprio Sesper, além de material colhido nas coleções do fanzine "Crude Reality", de Billy Argel (guitarrista da banda Lobotomia), Alexandre Bonfim (editor do fanzine "Verbal Threat"), Fabricio de Souza (Garage Fuzz), Giuliano Belloni, Antonio Almeida e Marcilio Lopes (ambos da banda Safari Hamburguers).

Todo o material expositivo é original dos anos 80 e 90, período em que a comunicação entre bandas, gravadoras e fãs acontecia através de cartas e fanzines, o que era vital para a divulgação de muitos artistas.

"Não temos condições de responder a todos" é uma frase escrita por Marcilio Lopes, publicada no fanzine "Crude Reality", que remete à realidade vivida no final dos anos 80 e início dos anos 90, quando o volume de cartas recebidas era absurdamente alto e impossível de ser respondido.

Sem os canais e as tecnologias atuais, todo conteúdo produzido pelas "bandas de quartos e garagens" como fitas, discos, adesivos, pôsteres, VHS, fotos, fanzines e camisetas, circulavam por meio de correspondência. Para muitos, essa foi a primeira "rede social" existente, além de um rico intercambio de conteúdo audiovisual.

"Na exposição, apresentamos todo o processo criativo que uma banda ou fanzine deveria passar para criar conteúdo audiovisual na época, como desenhos para camisetas e cartazes de shows feitos manualmente com nanquim e papel vegetal", diz Sesper.

Ele também menciona outras técnicas: "Releases datilografados e ilustrados com colagens e letra set, diagramações executadas através de técnicas de ampliação ou redução em xerox, se tornando nosso primeiro curso de design e criação autodidata, aprendendo como fazer apenas pelo processo de observação do que um amigo estava produzindo".

Neste contexto, durante as décadas de 80 e início de 90, as cartas (e todos os outros volumes enviados, que estarão expostos) desempenharam o papel do atual "door to door", onde uma transportadora retira o produto no fornecedor e entrega ao consumidor final.

"Dá até pra dizer que elas foram a versão física e original de plataformas como YouTube, Facebook e Spotify, responsáveis por reescreverem nossa história de como consumir música e informação", diz Sesper.

 

As dificuldades para se fazer música underground há quase 4o anos acabaram se tornando um trunfo para que a cena surgisse forte e unida, ao menos durante algum tempo.

Com poucos equipamentos, e muita precariedade, os grupos eram fundados em quartos e garagens. Sem orçamento para custear seus projetos, o "fazer" e o "criar" tornaram-se itens obrigatórios para aqueles que buscavam ingressar na cena punk, desenvolvendo seu próprio conteúdo e estética, com as ferramentas, técnicas e materiais disponíveis.

"Não Temos Condições de Responder a Todos" resgata o trabalho artesanal da época, por meio de cartazes, discos e fanzines confeccionados com pouca tecnologia, mas muita criatividade e disposição, num misto de arte e transgressão, características intrínsecas ao movimento.

 

Além do conteúdo expositivo, "Não Temos Condições de Responder a Todos" conta ainda com uma programação integrada diversificada, com oficinas criativas – para a confecção de material que remete à época – palestras e shows de bandas reconhecidas no cenário punk nacional e internacional.

SERVIÇO

EXPOSIÇÃO "NÃO TEMOS CONDIÇÕES DE RESPONDER A TODOS"
Com curadoria de Alexandre Cruz "Sesper"
Abertura: 24/1, quinta-feira, às 20h 
Visitação:  25/1 a 5/3, de segunda a sexta, das 10h30 às 21h30; e aos sábados e feriados, das 10h30 às 18h30.
Local: Sesc Consolação | Área de Convivência
Ingressos: Grátis
Classificação etária: Livre

Sesc Consolação
Rua Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque, São Paulo
Informações: (11) 3234-3000
Transporte Público: Estação Mackenzie do Metrô – Linha 4 – Amarela
sescsp.org.br/consolacao

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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