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The Who corre em busca da relevância adormecida com novo CD

Combate Rock

18/01/2019 06h34

Marcelo Moreira

Daltrey (esq.) e Townshend em São Paulo (FOTO: DIVULGAÇÃO/MERCURY CONCERTS)

Pete Townshend queria para e se aposentar, mas Roger Daltrey não deixou. Aquela megaturnê de 50 anos de carreira, que passou pelo Brasil no ano retrasado, deveria ser a última, mas o CD "As Long As I Have You", de Daltrey, lançado no ano passado, mudou os planos da dupla. Com isso, The Who continuará na estrada. Difícil cumprir a palavra, Pete?

"Movin' On" é o nome da turnê de 2019 em 31 cidades norte-americanas, que deverá ser coroada com um novo álbum a ser lançado no começo do segundo semestre. Será o primeiro de inéditas em 13 anos – "Endless Wire" que, por sua vez, foi lançado após 24 anos do LP "It's Hard".

Ao que tudo indica, Townshend e Daltrey trabalharam bastante em 2018 para gravar o recente disco solo de Daltrey, onde o guitarrista tocou em sete das 11 músicas, além de dar uma força nas letras.

O processo de composição e gravação do CD do companheiro foi o estopim para romper o bloqueio criativo de Townshend, que desandou a escrever novas canções durante o trabalho de "As Long As I Have You".

Em rápida entrevista para a revista norte-americana Rolling Stone, o guitarrista evitou falar em aposentadoria e disse que faltam apenas o vocais para terminar a gravação do Who, que deverá ter uma mistura de rock, blues, soul e alguma coisa de música eletrônica.

Será que precisamos realmente de um novo álbum do Who? Se não houve interesse dos dois músicos remanescentes nos últimos 13 anos pra lançar algo novo, por que haveria de ter agora?

"Endless Wire" até que foi um álbum decente, de boa qualidade, mas nada acrescentou à discografia da banda, ao contrário do ótimo álbum de Daltrey do ano passado, que mostrou um cantor revigorado, mas ainda voltado para o passado e para as suas influências sessentistas.

Se Townshend não compuser uma ópera-rock de novo, como foi o caso de "Endless Wire", em 2006, o que esperar de novas músicas de dois septuagenários à beira da aposentadoria, como o guitarrista fez questão de dizer várias vezes recentemente?

Neste século, Townshend praticamente abdicou de sua carreira solo, com parcas três gravações experimentais contidas em uma coletânea e na trilha sonora de um filme norte-americano. Milionário, preferiu engordar a conta bancária com intermináveis turnês nostálgicas.

O fato é que o Who poderia perfeitamente ter parado em dezembro de 1982, quando anunciou o fm da carreira. A volta, em 1989, parecia apenas temporária para uma turnê americana em comemoração dos 20 anos de lançamento de "Tommy", sua obra mais conhecida.

No entanto, não foram poucas vezes que o guitarrista declarou que as voltas em 1996 e depois, em 1999, ocorreram por motivos financeiros, principalmente para ajudar o eterno endividado baixista John Entwistle, que morreria em 2002.

Vivo defendendo músicos de rock quando eles são acusados de serem dinossauros. Se os mestres do blues são reverenciados por tocar e gravar até os 80 anos, então por que os roqueiros gigantes não têm esse direito?

A questão é não se arrastar nos palcos e tocar no piloto automático, como muitos veteranos roqueiros fazem. Não é o caso do Who, como pudemos comprovar por aqui em 2017.

É difícil cobrar relevância artística de grandes nomes que chegam aos 70 anos. É sempre bom ver Eric Clapton, Rolling Stones e Who ainda hoje, mas e o fôlego?

Será que Mick Jagger não tem razão ao dizer que não faz mais sentido no século XXI lançar músicas novas quando o público não dá a mínima, os querendo ouvir os grandes clássicos?

Será que a solução não é o caminho encontrado por Clapton e Stones – gravar álbuns com clássicos de blues e se divertir em vez do trabalhoso trabalho de compor e gravar material novo que corre o risco de ser massacrado por imprensa e fãs ou, pior, ser inorado?

David Bowie e Paul McCartney form exceções nos últimos anos, conseguindo criar obras de muita qualidade recentemente. Townshend aparentemente não se interessou em lançar material novo por mito tempo. Teria condições de se equiparar, novamente, a McCartney, por exemplo?

O anúncio de novo álbum e turnê do Who surpreendeu, embora Townshend não demonstre grande empolgação. Há quem desconfie de que a motivação financeira esteja sempre presente, em primeiro plano. Esperemos que não.

A questão é justamente a busca pela relevância escanteada pelo próprio Who nos últimos anos – não confundir a gigantesca importância histórica da banda.

Um álbum novo de um Who aparentemente enferrujado certamente será melhor do 97% do que é feito hoje no rock. Por serem gigantes do estilo, aparentemente, isso não será suficiente.

Entretanto, é de se louvar a coragem da dupla para se submeter a eventuais críticas destrutivas à beira dos 75 anos de idade, como ocorreu em 2006.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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