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Affront e Hellskitchen afiam as armas e mostram qualidade em novos CDs

Combate Rock

21/12/2018 06h56

Marcelo Moreira

Quando o álbum "Angry Voices", do Affront, foi lançado, há quase dois anos, o músico carioca M. Mictian relutava em afirmar que sua banda anterior, Unearthly, estava em processo de hibernação e a caminho do fim. Afinal, o grupo estava no topo da lista das bandas de metal extremo do país.

Só que o sucesso do Affront surpreendeu a todos, a ponto de transformá-lo no principal projeto de Mictian. O black metal anterior deu lugar a uma mistura violenta de death e thrash metal, indicando novos caminhos para um gênero que parecia desgastado no Rio de Janeiro.

Com uma estreia de ótima qualidade, a questão foi logo colocada: o Affront teria fôlego para fazer músicas tão pesadas e extremas quanto em "Angry Voices"?

A resposta veio bem antes do esperado. "World in Collapse", o segundo álbum, recém-lançado, melhorou o que já estava bom no trabalho anterior.

Com uma produção melhor, o segundo CD traz as guitarras mais equilibradas, bem na frente, montando um paredão sonoro que faz tremer qualquer ambiente.

Se o baixo antes era uma base requintada para guitarras podres e pesadonas, agora ganha protagonismo e quase se transforma em uma guitarra base.

Diante de tamanho poder de fogo, eis que "World in Collapse" oferece ao ouvinte uma sequência de pancadas, começando pelo enganoso dedilhado de violão erudito na introdução, que logo é seguido pela destruição de "Dirty Blood", certeira e direta como um murro de um lutador peso pesado.

"Your Lies You Fall" é ensurdecedora, com um solos de guitarra e uma bateria monstruosa, assim como "Favelas, Senzalas". 

"Monument of Hate" e "There's No Tomorrow" são mais velozes e incandescentes, onde os arranjos mostram um grupo bastante entrosado na demolição sonora.

A violência arrefece um pouco em "Violence", dando lugar a um instrumental mais elaborado, embora o vocal seja destruidor, mas a violência sonora retorna com potência em "Ancestral".

"World in Collapse" é o ápice e apogeu de um grande álbum de música extrema, com um trabalho soberbo de guitarras, bem timbradas e com solos muto bem executados, um descalabro musical em forma de violência que antecede uma pela execução, em violão, de "Mazurka", baseado em peça composta por Heitor Villa-Lobos.

Em um momento onde temos várias bandas de metal extremo buscando ousar e novos caminhos, como a Nervosa, o Torture Squad, a Melyra e a Sinaya, o Affront assume a dianteira ao propor sonoridades diferentes no death metal, apostando em mais virtuosismo e arranjos complexos.

No campo do metal tradicional, temos mais uma banda que está transitando entre o hard rock e o stoner metal, como Shadow Legacy, do Mato Grosso do Sul, e o Motorcircus, do interior de São Paulo.

Hellskitchen é de Santa Bárbara D'Oeste (cidade entre Piracicaba e Campinas) e investe seu "capital" em um som característico de guitarras que lembram muito o Golpe de Estado e o Baranga.

O primeiro álbum, "We Are the Hells Crew", foi lançado há pouco e está repleto de boas ideias. É um trabalho com produção simples, o que, a certa altura, compromete um pouco em relação á timbragem do som de bateria, que precisa de mais cuidado em um próximo trabalho.

As guitarras, no entanto, são o destaque do CD. São doses cavalares de energia, mostrando duelos interessantes, solos inspirados e arranjos bem colocados, como na icônica "Public Enemy" e na contagiante "Keep Running", com seu toque de southern metal.

Esse clima de Black Label Society, do mago Zakk Wylde, permanece em faixas bacanas como "On Your Mind" e "Hellbound", assim como na quase power ballad "29112013".

No entanto, não há como não lembrar quase que imediatamente dos já citados Golpe de Estado e Baranga, assim como o Carro Bomba, nas pesadas "Killing Myself" e "The Answer", onde os guitarristas se esforçam para encontrar aquele timbre perfeito do metal oitentista.

Hellskitchen é uma banda promissora e que pode ascender a postos mais altos no rock nacional se conseguir acertar/melhorar a produção no próximo trabalho.

Tudo bem que o nome não ajuda muito, já que uma rápida pesquisa na internet revela pelo menos três outros grupos com o mesmo nome ao longo das décadas, mas os garotos de Santa Bárbara mostraram um bom poder de fogo em "we Are the Hells Crew".

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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