Sistema S sofre novo ataque do governo eleito
Marcelo Moreira
O maior temor de quem não votou no presidente eleito, Jair Bolsonaro, era o de que ele e seus apaniguados realmente estivessem falando sério e que realmente cumpririam as suas promessas, principalmente as mais retrógradas e absurdas.
Pois os temores são completamente justificados, principalmente de quem trabalha com cultura, arte e entretenimento.
Durante a campanha eleitoral, Paulo Guedes, o futuro ministro da Economia, tinha afirmado que haveria uma profunda reforma no sistema S, que engloba Sesc, Sesi e Senai.
Para ele, como forma de "desideologizar" entidades que recebem dinheiro público, seria necessário que elas se ativessem estritamente a sua finalidade original, ou seja, a instrução e o ensino técnico.
Traduzindo: chega de financiar arte, cultura e entretenimento "ideologizados"; chega de dar dinheiro para artistas degenerados, que "fazem arte da pior qualidade".
Guedes voltou à carga nesta segunda-feira, 17 de dezembro, em evento na Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro). Em seu discurso, afirmou sem rodeios que "tem de passar a faca no sistema S".
Ele fazia alusão à necessidade de fazer cortes nos gastos públicos em toda a estrutura do Estado brasileiro. "Todos vão ter de contribuir. Não faz sentido cortar no governo todo e não mexer no Sistema S. Tem de cortar até 50% das verbas [para este sistema]."
O Combate Rock já havia alertado para o perigo de o novo governo federal implantar tal descalabro, mas até então a ameaça recaía apenas sobre as atividades culturais. Agora o próprio sistema de ensino do Sesc, Sesi, Senai e outras entidades do gênero está comprometido.
Paulo Guedes é o mesmo cidadão que desconhecia coisas básicas do funcionamento da vida pública brasileira, como o rito de aprovação do Orçamento da União para o ano seguinte por parte do Congresso Nacional.
Portanto, não é surpresa que desconheça completamente o funcionamento do Sistema S e, mais ainda, a sua importância educacional e cultural.
Em um país que pouco valoriza a cultura e que enfrenta crises econômicas periódicas e frequentes, entidades como Sesc são um oásis e inteligência, sabedoria e cultura de qualidade.
Ao patrocinar mostras de fotografia, artes plásticas, teatro e shows musicais de todos os gêneros, cumpre um papel fundamental que deveria ser obrigação do Estado.
Uma coisa temos de reconhecer: o governo Bolsonaro nunca escondeu suas intenções de travar uma guerra contra a arte, a cultura e o conhecimento. Isto sempre esteve explícito desde sempre. A cruzada contra os "valores degenerados" começa a sair do programa de governo.
Muita gente está tentando adivinhar o tamanho do impacto no caso da extinção da verba cultural-artística do Sistema S. Ninguém conseguiu ainda fazer uma estimativa, seja por constrangimento, seja por pavor, seja por incredulidade.
Entretanto, já se sabe que será uma tragédia – e apenas a primeira delas, já que está claro que o componente político-ideológico está claríssimo nas intenções Guedes e do governo Bolsonaro.
A palavra resistência nunca foi tão necessária e urgente. As perspectivas para 2019 são bem ruins, o que reforça a questão de lutarmos com tudo contra as forças do obscurantismo e da ignorância. A manutenção do Sistema S e de sua contribuição para a cultura é só a primeira batalha.
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