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Metal tradicional ressurge no Brasil com Shadow Legacy e AnganT

Combate Rock

12/12/2018 06h43

Marcelo Moreira

Houve um tempo em que o metal tradicional conseguia competir em igualdade com outros subgêneros da música pesada no Brasil. Eram os intensos anos 90, quando Sepultura e Angra eram as maiores bandas nacionais e o metal extremo era grande, com Korzus, Genocídio e o iniciante Krisiun.

Para enfrentar a concorrência, Fates Prophecy, Seventh Seal, Kavla, Symbols, Wizards, Dark Avenger e muitas outras apostavam em um som que remetia diretamente ao hard rock, à NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal) e ao power metal para conseguir espaço.

Com o tempo, as vertentes mais modernas e pesadas avançaram, até como forma de as bandas se diferenciarem e buscarem um som próprio sem que as referências ficassem tão explícitas. E o metal tradicional ficou mais incrementado – e mais pesado -, como ouvimos nos discos do Noturnall, do Hangar, do Hibria e do Pastore.

Só que os ecos oitentistas chegaram aos ouvidos de duas bandas com sonoridades distintas, que resolveram buscar lá no passado os timbres necessários para chamar a atenção de um público mais exigente, mas um pouco esquecido.

Do Mato Grosso do Sul temos o grupo veterano Shadow Legacy, que explora bastante sonoridades à la Iron Maiden e Judas Priest – não poderia deixar de ser, já que o quinteto já tocou com Blaze Bayley, ex-vocalista do Iron que fez participação especial em um dos álbuns anteriores.

"Lost Horizon" é o novo álbum da banda, que resgata um som mais direto e aposta em guitarras bem timbradas e bem trabalhadas, em uma produção que abusou da simplicidade, mas acertou no equilíbrio das seis cordas.

É uma obra forte, com pegada pesada e sem muita preocupação com a originalidade. Não faria feio se tivesse sido lançado lá nos citados anos 90.

O álbum já começa com os dois pés afundados nos pubs do começo dos anos 80 de cidades como Sheffield e Birmingham, na Inglaterra. "Sea of Revenge" e "Tough Ain't Enough", deliberadamente, resgatam a atmosfera que Saxon e Iron Maiden respiraram nos primórdios: produção seca, guitarras diretas e precisas e solos virtuosos, mas nunca excessivos.

O olha que o Diamond Head aparece bem representado nas enérgicas "Minds Stalker" e "Dystopian Reality", enquanto que a inspiração em Judas Priest domina em "Restless" e "Back on the Road".

Shadow Legacy é uma banda que ousou olhar para o passado e acertou, já que faz um som nada original, mas que soa bem diferente do que temos ouvido por aí. O som da bateria ficou um pouco chapado em todas as faixas, algo que pode ser melhorado no futuro com uma mixagem mais encorpada.

Não busquemos também por originalidade na banda paulista AnganT, que é novata, mesmo que seus integrantes já tenham muito tempo de bagagem.

Todos os clássicos do metal serviram de inspiração para o caldo musical que forma "Deep and Far", o primeiro EP da banda. São quatro músicas que servem de cartão de visitas de uma galera que fez questão de incorporar Judas Priest, Iron Maiden, Van Halen, Metallica, Megadeth e pitadas de Black Sabbath e Deep Purple.

A afinação mais baixa utilizada, resquícios de projetos anteriores onde havia uma nítida influência de Mastodon e Lamb of God, é o diferencial do AnganT neste EP.

Fica nítido que a banda ainda está experimentando, buscando novas ideias para um eventual som próprio, ou característico. O resultado é interessante porque a música já apresenta coisas que quase ninguém anda fazendo.

As guitarras estão muito pesadas, com influência de Judas Priest na assustadora "Monster", que tem um trabalho de baixo muito bom.

As guitarras na cara de "Hipocrisies" fazem o som descambar em um quase thrash, enquanto o peso de um Pantera ressurge na dramática "Deep and Far", com pitadas de metal progressivo.

"The Race", a última, tem aquele clima de "viva rápido e morra mais rápido ainda", um hard'n'heavy bem legal e menos denso do que as outras músicas.

AnganT mostrou muita força em suas primeiras quatro músicas. São músicos versáteis e veteranos, que certamente estão no caminho certo para encontrar o seu som. O cartão de visitas já mostra que o potencial é bom, já que conseguiram mostrar algumas coisas diferentes.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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