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Galeria do Rock: mais uma boa ideia desperdiçada

Combate Rock

16/11/2018 06h31

Marcelo Moreira

Um dos símbolos do rock no Brasil, a Galeria do Rock, parece fadada à decadência enquanto ícone cultural do gênero musical que moldou a cultura ocidental.

A cada mês o comércio de música no local – CDs, DVDs, instrumentos musicais – vai sendo substituído por lojas de roupas e de quinquilharias que pouco ou nada tem a ver com o rock ou música.

É um processo que avança bastante rápido desde 2008 e 2009, quando grandes lojas de CDs fecharam ou se mudaram para a Galeria da Nova Barão.

Os poucos comerciantes de música que ainda resistem vivem às turras com a administração do local, seja por questões típicas de problemas de condomínio, seja por questões de cunho cultural.

A situação mais recente diz respeito a um palco que montado na frente da galeria, na avenida São João, 439, no centro de São Paulo, onde "shows" musicais são realizados de vez em quando, sem qualquer aviso ou participação dos lojistas na definição de tal evento ou na curadoria.

Fausto Mucin, um dos proprietários da Die Hard, um dos gigantes que ainda resistem na Galeria do Rock, publicou nas redes sociais mais um desabafo a respeito da falta de diálogo que ocorre neste outrora importante ponto turístico da capital paulista. Ele relata uma ideia que poderia ser muito melhor aproveitada, onde todos sairiam ganhando, mas não é isso o que ocorre. Reproduzimos abaixo o texto:

Palco ao lado da entrada principal da Galeria do Rock (FOTO: DIE HARD)

"Vergonha alheia. Sabemos que estamos falando de músicos que merecem todo o respeito, mas essas apresentações na frente do Cine Art Palácio, na calçada da Galeria do Rock, bem do lado, causam isso mesmo a muita gente: vergonha alheia.

Uma estrutura de primeira, equipamento de som profissional, a calçada pública sendo usada com certeza de forma adequada, ou seja, com autorização e documentação… Ouseja, tudo isso está ok.

Só que o uso é inadequado: uma banda ruim tocando apenas covers (versões) de Legião Urbana, Titãs, Capital Inicial e Roberto Carlos…

E não é a primeira vez, e com esse mesmo repertório. Barracas de comida na frente da Galeria, aí sim, bem na frente, e ninguém lá no show, quase o tempo todo ninguém lá.

Clientes entrando na loja e rindo, questionando, comentando, ironizando… Mas nós não sabemos o que acontece, nunca sabemos, não participamos das reuniões, é verdade, mas o que custa avisar aos lojistas?

Ou melhor, o que custa questionar os lojistas, principalmente os que vendem MÚSICA e trabalham com músicos?

Chega um sábado qualquer, acordamos, abrimos a loja e pronto, tudo lá fora já rolando, tarde pra opinar, sugerir, participar…

Centenas (sim, centenas) de bandas pra colocar pra tocar, você mesmo que está lendo, ou tem uma banda, ou conhece uma, ou deve ter alguma sugestão.

Nós, da Die Hard, temos um monte de sugestões, temos um catálogo gigantesco de bandas maravilhosas, trabalhamos diretamente com um montão delas, temos sob contrato mais um montão delas, tem banda de verdade até na nossa equipe.

A pioneira Baratos Afins do amigo Luiz Calanca, vizinha ilustre e inspiradora da Die Hard, com dificuldades em achar espaço para as suas bandas, só pra citar um exemplo, e o negócio rolando lá na rua.

A imprensa vira e mexe, ainda que rancorosa, equivocada e muitas vezes odiosa, vive dizendo do desmonte da Galeria, isso não é verdade, ao menos ainda não, mas os organizadores de eventos como esses se esforçam pra ser verdade – e como se esforçam.

A Die Hard está vendendo mais do que nunca, isso não é novidade pra quem nos acompanha – lançamentos em profusão e todo um cenário preparado. Só temos a acrescentar a esses eventos, a somar, nunca dividimos.

É com tristeza que vemos isso acontecer dessa forma. Essa foto ilustra o "sucesso" do evento, poderíamos aproveitar essa estrutura toda e colocar bandas que trouxessem o nosso público pra Galeria, o nosso público de verdade, somar, talvez até teria de desviar o trânsito, mas não, consultar ou ao menos avisar as lojas de música não fazem. Nunca farão. Uma pena, um escorregão atrás do outro.

Nosso estilo não permite eventos fake, cremos que daí essa falta de público- para não dizer que foi em vão, ao menos vimos alguns transeuntes e moradores de rua dando o ar da graça, e isso é legal pra eles, tem o lado social, mas não é o foco, se é que há um foco.

Vale repetir o que dissemos no início desse texto: nada temos contra as músicas que tocaram lá, obviamente que não, e muito menos temos algo contra os músicos e profissionais que foram contratados para esses eventos.

Não é sobre eles ou sobre o talento ou capacidade deles que se trata esse texto. Parabéns à toda a equipe de profissionais envolvidos, parabéns a todos os músicos de todos os estilos, tocaram direitinho, fizeram sua parte, porém, sem público, e isso é ruim pra eles também, com certeza.

Aos organizadores, cremos que seja a administração da Galeria do Rock, a estes sim, nosso profundo pesar, agindo assim, sem saber oferecer ao público certo o produto certo, em algum tempo vocês não terão mais a Galeria do Rock, só lhes sobrará a Galeria. E será bem feito.

Estamos à disposição, como sempre estivemos e estaremos, para ajudar a fazer um evento de verdade na frente da Galeria do Rock, um evento memorável, que possa até ter participação desses músicos que tocaram, e até com essas músicas, mas não só.

Finalizando, a Galeria do Rock deveria cuidar do que faz de melhor, no que são os melhores, cuidar da segurança, sensacional e, parabéns também, da limpeza, parabéns idem para a administração burocrática e estrutural (Prefeitura, Energia, Água….), e só! Deixa a música e a arte pros que entendem disso!"

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
Contato: contato@combaterock.com.br

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