Motorcircus e CaSch: a redenção do stoner metal no Brasil

Marcelo Moreira

O Brasil sempre teve bandas de stoner rock antes mesmo de o termo ter sido inventado na primeira década deste século. Por conta disso, nunca houve uma cena propriamente dita deste subestilo, o que não fez a menor diferença, já que bandas como Baranga, Carro Bomba, King Bird e até mesmo o Golpe de Estado nunca deram bola para esse tipo de coisa.

Se o próprio King Bird e o Silver Mammoth, bandas paulistas, representavam o melhor stoner rock nacional em 2016, dois anos depois o grupo ganha mais dois bons nomes: Motocircus e CaSch.

Completando dez anos de carreira, o Motocircus ainda saboreia o bom desempenho de "The Greatest Show on Earth", lançado no final do ano passado.

A banda de Catanduva deu peso maior às guitarras em composições muito boas, que soam bem diferente do que a concorrência.

É uma mistura de stoner, hard rock e southern rock com um tempero brasileiro, onde se sobressaem arranjos interessantes e ideias inusitadas, ora lembrando as bandas de hard setentistas, ora descambando para o blues.

"Die Young", que abre o disco, é um rockão vigoroso, totalmente hard, que dá o tom da obra, mas o maior destaque talvez seja a balada pesada "…Without Love?", com sua levada à la Neil Young e uma letra melancólica, mas intensa.

Ouça também as excelentes "The Devil Sings the Blues" e "Southern by the Grace of God", cujos títulos são autoexplicativos e representam bem a variedade de estilos que o álbum traz. É uma das boas novidades do ano

Já o CaSch é uma das boas novidades do rock pesado brasileiro. Power trio estrelado, conta com nomes importantes, como os irmãos Schevano (Marcelo, guitarrista do Carro Bomba e do Golpe de Estado, e Ricardo "Soneca", baixista do Baranga) e o baterista Rolando Castello Júnior, agora ex-Patrulha do Espaço.

Por enquanto é um projeto, embora a tendência é de que vire uma banda regular, por mais que os Schevano não tenham intenção de abandonar seus grupos principais.

"High Level Low Profile" é um EP com cinco músicas cantadas em inglês, com predominância do stoner metal.

Deliberadamente "sujo" e "estourado", o grupo guarda poucas semelhanças com bandas nacionais do segmento. O timbre de guitarra é gordo, denso, à la Corrosion of Comformity, sendo que a bateria de Castello traz um pouco da batida de Vinnie Paul, do Pantera.

A música que dá título ao EP surpreende por trazer um vocal forte de Marcelo sobre uma base instrumental básica e sem arroubos, um hard rock bem coeso, mas reto.

A coisa muda na segunda faixa, a excelente "God…", onde a guitarra faz toda a diferença. O baixo ganha proeminência e assume de forma interessante a condução, enquanto o som das guitarras preenche todo o resto em uma execução inspirada de Marcelo.

"Flesh" é pau puro, com uma pegada setentista que remete ao rock inglês pesado daquela década, com solos de guitarra bem bacana. "Earth Spinning Backwards" dá uma desacelerada, em uma quase balada que mostra o talento do trio nas composições.

Trabalho viabilizado por meio de financiamento coletivo, o EP mostrou o vigor de veteranos que resolveram se aventurar em um outro campo, com ótimo resultado.

Eles dizem que o CaSch vai prosseguir, o que torcemos muito, mas o fato é que só o desempenho das vendas do EP nos streamings poderá definir o futuro deste ótimo power trio.