André Christovam, 60 anos: a guitarra elegante e precisa do blues nacional
Marcelo Moreira
Ele fazia blues pesado nos anos 70 muito antes de surgirem Joe Bonamassa, que nem era nascido, e o Gov't Mule. De repente, ele estudou música nos Estados Unidos, virou tradutor e intérprete de astros em passagem pelo Brasil e, logo em seguida, aspirante a astro pop do rock nacional ao lado do amigo Kid Vinil. Só que o coração estava no blues.
André Christovam é uma referência internacional na guitarra blues e ajudou a popularizar o gênero no Brasil nos 80 quando já tinha se afastado da banda Heróis do Brasil e abandonado o pop rock.
O mestre da guitarra brasileira completa 60 anos de idade muito longe da São Paulo que tanto encantou com seus solos precisos e de bom gosto, assim como pela fidelidade com que se atinha ao blues de verdade, como sempre fez questão de dizer. "O blues é o gênero musical mais fácil de se tocar errado", decretou certa vez com toda a autoridade que a música lhe conferiu.
Atualmente morando na Escócia, o guitarrista ainda celebra feitos de uma carreira ímpar dentro da música brasileira, embora demonstre não ter muito mais paciência para essa história de "pioneiro do blues" no Brasil.
Ele prefere celebrar o momento diferente na vida, mas também um momento importante: no final de agosto chegou ás plataformas digitais o sexto e mais recente CD de sua carreira "André Christovam & Hubert Sumlin Live in POA", um show gravado em Porto Alegre, em 2002, ao lado de uma das grandes lendas do blues norte-americano, Hubert Sumlin, que morreu aos 80 anos de idade em 2011.
É difícil um álbum ao vivo entrar em qualquer lista de melhores do ano, mas o CD, lançado oficialmente em 2012, frequentou várias delas, inclusive a do Combate Rock naquele ano. É o registro de uma apresentação soberba e emocionante.
Muitos gostam de dizer que ele tão generoso quando irascível e até ranzinza. Como anfitrião de Sumlin em 2002, esmerou-se em deixar o ídolo à vontade e foi de uma generosidade imensa.
Mas ele também sabe ser mordaz e irônico, resvalando na rabugice quando disse a este jornalista, em meados dos anos 90, que não tolerava "oportunistas" que caíram no blues depois que ele, Blues Etílicos, Celso Blues Boy e outros "pioneiros" desbravaram aquele terreno. Muito provavelmente ele se referia ao sucesso que Alceu Valença obteve com a música "Andar, Andar", que estourou no finalzinho dos anos 80 e até foi incluída em trilha sonora de novela.
Seja como for, foi a generosidade que lhe granjeou a maior parte da simpatia que angariou, da mesma forma que a franqueza e a sinceridade lhe renderam algumas rusgas e narizes tortos.
"Faz parte. Nunca consegui disfarçar por muito tempo minhas contrariedades em relação às imensas hipocrisias do dia a dia. Talvez seja por isso que nunca tenha conseguido um grande contrato com gravadoras na minha época com o Kid Vinil e o Heróis do Brasil. Eu falava mesmo, não dava para tolerar certas coisas", disse o músico a este repórter.
Autêntico, franco e sincero, Christovam comemora a chegada do mais recente trabalho no streaming e curte o autoexílio na aprazível e industrial Glasgow.
Por mais que ele não goste, ou não se sinta confortável, não dá para fugir dos clichês: o pioneiro do blues nacional chega aos 60 anos de idade cada vez mais relevante, com sua guitarra elegante e virtuosa. Que o exílio não dure muito!
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