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Gravadora Secret Service encerra as atividades e deixa o rock mais triste

Combate Rock

06/08/2018 07h05

Marcelo Moreira

E mais um projeto relevante de rock encerra as atividades em meio ao tenebroso desenrolar do mercado musical desta segunda década do século XXI. O selo/gravadora Secret Service Records anuncia o encerramento das atividades após pouco mais de cinco anos trabalhando com artistas brasileiros, argentinos e franceses.

Apesar de ser um selo inglês, foi criado e dirigido por um brasileiro, Luiz A. Rizzi, radicado há 15 anos em Londres e fanático por heavy metal.

Foi dele a ideia de realizar coletâneas internacionais como tributo a bandas importantes somente com bandas brasileiras. Foram CDs duplos, cada um com 30 grupos brasileiros, em homenagem a Motorhead, Black Sabbath, AC/DC e Deep Purple – este último em versão simples, 15 músicas, apenas com bandas femininas.

Foram trabalhos importantes e corajosos, que tiveram que lidar com dificuldades logísticas e com a diferença grande de produção entre os materiais enviados para mixagem.

"Sabbath Brazil Sabbath – A Brazilian Tribute to Black Sabbath" é o melhor dos tributos, captando bem a versatilidade e a variedade do metal brasileiro em versões bem bacanas, envolvendo nomes importantes como Korzus , por exemplo. E o melhor, não há distância grande as melhores versões e aquelas que deixaram um pouco a desejar.

No adeus da Secret Service, em texto publicado nas redes sociais, Rizzi explica o porquê de ter jogado a toalha: "Infelizmente só o amor não é o suficiente para manter o sonho. Não é o suficiente para manter a Secret Service Records no mercado. Selos pequenos dependem exclusivamente da venda de material físico. Quando isso não ocorre ou ocorre lentamente, as coisas realmente começam a ficar difíceis."

Ele recorre ao saudosismo para lembrar que havia uma cultura de consumo de música que transcendia a simples aquisição de um vinil ou um CD.

"Para tudo é necessário investimento, e investimento sem retorno dificulta os trabalhos. O consumo caiu e a tecnologia vem matando o mercado da música. Hoje a garotada prefere o meio digital ou ouvir de graça nos downloads ilegais ou no YouTube."

Por fim, Rizzi admite que a Secret Service Records faliu. "Ela nunca conseguiu ser autossuficiente. Geralmente era necessário eu continuar colocando dinheiro do bolso para mantê-la ativa. Você pode ate fazer isto por algum tempo, mas não por muito, ao não ser que você seja rico, o que não é o meu caso. Simplesmente não deu mais, e a empresa faliu."

Por mais que houvesse alerta de que a empreitada era um risco, justamente em um momento onde a música e a cultura nunca estiveram tão desprezadas, é de se louvar a coragem do empresário em manter o sonho de disseminar música pesada brasileira na Europa e no próprio Brasil.

A Secret Service surgiu em 2013 em um mercado para lá de combalido, em um ambiente de severa competição pelas migalhas que sobraram.

Se a ideia de ter um diferencial era boa – lançar tributos com bandas brasileiras, entre outros projetos -, a execução dela sofreu justamente por conta de erros admitidos nas parcerias firmadas, por conta de uma concorrência feroz e predatória e da falta de um interesse maior pelos produtos.

A Secret Service Records era o último suspiro de um mercado que pretendia revitalizar o consumo de música, ainda que em pequena escala. Era um sonho, como Rizzi admitiu, mas um daqueles sonhos que valem a pena ser vividos e sonhados mais de uma vez.

Infelizmente as perspectivas para o negócio da música são ruins em quase todos os sentidos. Ninguém ainda descobriu novos modos de fazer da música algo suficiente que seja sustentável. Continuamos tentando, mas as chances estão contra nós.

Esqueçam os erros da Secret Service e o arriscadíssimo sonho de vender CDs na segunda década do século XXI. Celebremos a existência do selo/gravadora e a coragem empreendedora de Luiz A. Rizzi – devemos agradecê-lo por tornar a nossa existência e a de algumas bandas um pouco melhor.

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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