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Bebendo cerveja e falando sobre história do blues com Blues Etílicos – 3

Combate Rock

25/06/2018 07h00

Eugênio Martins Jr. – do blog Mannish Blog

Blues Etílicos (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Na última parte das entrevistas com integrantes da banda carioca Blues Etílicos, falamos com o guitarrista Otavio Rocha e com o novo baterista, Beto Werther, ex-Big Allanbik.

EM – Como surgiu a ideia de fazer os Blues Groovers que ainda tem o Ugo Perrota?
OR – Eu, Beto e Ugo sentimos que havia espaço pra uma banda com um senso ritmo forte. A gente achava que faltava no blues uma enfase no ritmo, fica tudo muito em cima de solos, daí o nome, Blues Groovers. E a gente sempre associa a música negra com uma cozinha forte, no funk, soul, samba. E no blues não, é sempre o solista. E a ideia é oferecer aos artistas interessados uma cozinha sólida que desse uma boa base.

EM – E o pessoal do Rio já conta com vocês, nao é isso? Eu tenho várias gravações com vocês fazendo o suporte.
OR – Em 2007, o Charlie Musselwhite veio ao Brasil e o Flávio Guimarães montou uma banda para acompanhá-lo que era eu, o Ugo e o André Tandeta, um superbatera. A partir daí surgiu a ideia. E com a saída dele veio o Beto. Surgiu o selo Delira Música que tinha vários artistas, o disco da Rodica (Weitzman), o ao vivo do Flávio que, quando ouvimos, achamos a qualidade muito boa e lançamos.
Beto Werther – E o surgimento do Delira foi perfeito. Um trio para acompanhar artistas aqui do Brasil e de fora. Daí veio o Alamo (Leal), o Maurício (Sahady), o (Cristiano) Crochemore.

EM – E ainda está na ativa?
OR – Sim, o Ugo Perrota saiu e entrou o baixista Cesar Lago, uma amigo nosso lá do Rio, de uma banda antiga chamada Beale Street. Hoje tocamos com o Cristiano Crochemore e Alamo Leal.

EM – Voltando um pouco no tempo, gostaria que falasse sobre o Big Allanbik. Quando formaram já tinha a influência do Blues Etílicos?
BW – Com Certeza. O Big Allanbik surgiu de uma banda chamado Gato Negro lá de Niterói, que era o Ugo Perrota, o Vitor Gaspar e a Eulina. Não lembro quem era o batera. E eu e o Big Gilson tínhamos uma banda chamada Emoções Baratas. O Renato Arias, que havia sido empresário do Blues Etílicos, assistiu a um show nosso no Circo Voador e resolveu empresariar a banda. Só que ele queria uma mega banda e juntou as duas. Um ou outro acabou saindo, entrou o meu irmão no lugar da Eulina… é meio confuso, mas foi assim que surgiu o Big Allanbik. Foi tudo muito rápido, o Renato já tinha todos os contatos. Fomos fazer um show em uma casa em Santo André que não lembro mais o nome…
OR – Jazz and Blues.
BW – Isso. O cara da gravadora viu o nosso show e resolveu gravar. Na época tinha selos, rádio e lugar pra tocar. Pegamos uma época que o Blues Etílicos pegou bem mais. A gente ainda conseguiu subir aquela escada e seguir junto com eles.

EM – Como o blues apareceu na tua vida e do teu irmão, Ricardo Werther?
BW – Quando o Big Allanbik apareceu ele nem cantava. Tinha vontade. A gente chamou ele porque era mais fácil. O Ugo era contra. Eu comecei bem antes. Mas ele sempre cantava. Sempre foi afinado. Imitava o Frank Sinatra. Tinha esse dom, era meio fanfarrão, a alegria da festa. Quando viu que a gente estava montando uma banda, imagina?

EM – Depois ele gravou um disco solo excelente, o Turning Point.
BW – Isso foi bem depois, o Big Allanbik já havia acabado. Na época o Blues Groovers, o Marco Tommaso no piano e o Pedro Strasser na batera também, tinha dois bateristas. Quando o Big Allanbik acabou ele ficou afastado da música por seis anos, casou e foi para Teresópolis. Quando voltou a gente já estava com o Blues Groovers.
OR – O Ricardo tinhas as duas influências, do jazz e blues rock. Eu, o Ugo e o Beto, dávamos o chão do rock. O Pedrão, que é um baterista de jazz, e o Marco que é um pianista de jazz também. Quando juntou as duas vertentes saiu aquele disco do Ricardo. Você vê que ali tem coisas de jazz. Essa era a visão do Ricardo.
BW – Foi o trabalho de quase um ano. Lançamos o disco em 2010, fizemos alguns shows em festivais, mas aí não deu mais tempo. (Ricardo Werther morreu em 18 de fevereiro de 2013).

EM – Otávio, você é um ás da slide, que é uma técnica dos primórdios do blues. E faz isso como poucos. Como transportou essa técnica para os anos 80 e faz até hoje. Como é o estudo por trás disso?
OR – Por uma razão estranha, pra mim sempre foi uma coisa muito natural. Desde criança ouvia o Johnny Winter e o Rory Gallagher e pensava que se conseguisse tocar aquilo seria o cara mais foda do mundo. Depois que aprendi a afinação aberta em um livro perdido em 1982 ou 1983, não existia internet, informação era coisa rara, já sai tocando. Ainda sou aquele garoto tocando igual. Claro, a gente desenvolve.
BW – O Otávio sempre teve isso de tirar o som da guitarra, do amplificador, às vezes um pedal, mas pouca coisa. Tirando o máximo do mínimo.

EM – Então continuamos em 1982. Como tiveram a ideia de montar uma banda de blues na efervescência do rock nacional?
OR – Nos juntamos pela primeira vez em 1985. Foi uma coisa de paixão mesmo. Ninguém queria tocar isso. Eu tocava no banheiro. Quando conheci o Flávio e o Bedran percebi que havia pessoas que também gostavam. E era legal me sentir um desbravador. A gente fazia shows com o André Christovam e conversava com ele sobre isso, sobre a sensação de estar chegando na cena, desbravando, uma coisa maravilhosa. De aprender fazendo.
BW – Com o Big Allanbik foi o contrário. Ele foi montado. O Emoções Baratas que tocava músicas dos Stones, autorais também, e o Vitor Gaspar, o Ugo Perrota e a Eulina eram mais do blues. Eu vim do rock, nunca tinha ouvido blues. Conheci o blues pelo contato com o Blues Etílicos, o Otávio. Ouvia muito rock inglês.

EM – O Brasileiro é diferente até nisso. No mundo inteiro o rock nasceu do blues. Aqui o blues nasceu do rock. Todo mundo que tocava rock passou a tocar blues.
OR – O Big Allanbik era uma banda de "blues progressivo", com superarranjos.
BW – A gente era psicopata de ensaios.

EM – E agora Beto você está tocando com os caras que eram os teus ídolos. Qual é a sensação?
BW – Foi o que falei no início, assistia esses caras quando ainda tocava de brincadeira. Tocar com eles é uma vitória pra mim. É muita coisa, não é uma banda qualquer.

EM – Uma banda que tem 30 anos passou por muitos planos econômicos e muitos percalços da música brasileira.
OR – É uma banda que tem blues no nome, no DNA, e de repente está fazendo um show desse com o Noel Andrade. A gente sempre foi muito aberto. Sempre cantamos em português, nossas composições. É difícil. As pessoas pararam de compor. Tocam sempre as mesmas músicas. Pra mim compor sempre foi fundamental nessa profissão. Desde o primeiro disco, além de músicas próprias, tem vários tipos de roupagem que você pode dar ao blues. Hoje você tem acesso a todos os originais do blues, mas ao mesmo tempo vai muito direto naquilo. E o risco de virar um cópia é enorme. O que a gente levou 20 anos pra aprender a galera aprende em seis meses hoje.

EM – É só ligar o computador.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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