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Jethro Tull, 50 anos: blues e flauta mágica impulsionam o rock progressivo

Combate Rock

19/06/2018 06h33

Marcelo Moreira

Não era um grupo de rock comum. Eram todos jovens, mas o que menos parecia haver naquele quarteto era juventude, ou seja, tinha pouca alegria e descontração.

O novo guitarrista achou tudo muito estranho e diferente. Não que fosse um arruaceiro ou baderneiro, mas era tudo certinho demais. Esse guitarrista não durou nem um mês, mas sempre mostra a sua admiração pela ética de trabalho de Ian Anderson e seu Jethro Tull.

Tony Iommi era o guitarrista que substituía o técnico mas intempestivo Mick Abrahams, que fundaria mais tarde o Bloodwyn Pigs. O mestre do heavy metal e cérebro do Black Sabbath aparece com o Jethro Tull no especial "Rock'n'Roll Circus", dos Rolling Stones, e logo decidiu voltar a Birmingham e reencontrar os amigos da banda anterior.

A visão de Iommi é compartilhada por muitos músicos e jornalistas a respeito do Jethro Tull, que completa 50 anos de fundação, embora já não exista mais desde 2011.

Anderson, líder incontestável, detestava drogas e excessos de todos os tipos. Conduziu a banda como uma empresa desde o começo e fez do grupo um dos nomes mais importantes do chamado rock progressivo.

Para marcar os 50 anos de criação do Jethro Tull, duas coletâneas chegam ao mercado. "50 For 50" talvez seja a melhor compilação da música inventiva e diferente do grupo, abrangendo até mesmo as obras pouco comentadas dos anos 80 e 90.

São 50 músicas escolhidas por Anderson que passaram por remixagens entre 2001 e 2006. Não há novidades ou coisas inéditas, mas contém algumas coisas raras ou pouco usuais. O filé mignon está no começo – as músicas estão em ordem cronológica até a metade da coletânea.

É uma sucessão de coisas magníficas como "A New Day Yesterday", o megahit "Aqualung", "Cross-Eyed Mary, "Life Is a Long Song", "Living in the Past", "Locomotve Breath" e outras pérolas.

Naquele que seria o CD 2 do formato físico, surgem clássicos da segunda metade dos anos 70, como "Heavy Horses", "Hunting Girl", "Bungle in the Jungle", "Salamander", "Pussy Willow", "Too Old to Rock 'N' Roll, Too Young to Die" e "Songs from the Wood".

Já "50th Anniversary Collection" é uma versão mais resumida do anterior. Reúne 15 clássicos, os principais hits, e serve como aperitivo para quem quer conhecer a banda.

Por mais que Anderson rechace o rótulo de rock progressivo – afirma insistentemente que o Jethro Tull é uma banda de blues -, a banda ganhou prestígio justamente por ser associada à cena que dominou o rock por algum tempo nos anos 70.

Anderson e o guitarrista Martin Barre levaram o blues e o folk celta a um outro nível a partir do álbum "Benefit", de 1970, que trazia uma sonoridade mais sombria e melancólica.

A trilogia que se seguiu – "Aqualung" (1971), "Thick as a Brick" (1972) e "A Passion Play" (1973) – estabeleceu o Jethro Tull como banda grande, com músicas mais sofisticadas e letras inteligentes, tudo envolvo em conceitos filosóficos que assombravam os críticos da época.

Por esses e outros trabalhos importantes como "Songs from the Wood" (1977) e "Heavy Horses" (1978) é que Ian Anderson e grupo que criou aparecem em todas as listas de principais artistas de rock progressivo.

Mordaz e sarcástico, Ian Anderson é também um personagem muito bem-humorado na maioria das entrevistas.

Na primeira visita do Jethro Tull ao Brasil, no fim dos anos 80, o cantor, flautista e violonista gravou um longo especial contando a história da banda para a TV Gazeta, de São Paulo.

Praticamente falando de improviso, desmontou a tese de que foi o primeiro a usar flauta no rock. "Mentira. Quem inventou isso era desinformado. Chris Wood, do Traffic, usava flauta no palco antes de mim."

Também falou sem mágoas sobre Mick Abrahams e Tony Iommi, que passaram pela banda. "Abrahams saiu porque precisávamos de outro tipo de som, e eu estava certo, se observarmos o que aconteceu depois. Iommi? Grande cara e grande músico. Gostaria que ele tivesse ficado mais tempo, mas acho que o sucesso e o trabalho intenso o assustaram um pouco. Acho que ele era meio caipira", disse abrindo um largo sorriso.

E o que ele achava de então completar 20 anos de banda naqueles tempos? "Sou velho demais para fazer esse tipo de coisa [gargalhando em seguida, já que parafraseou o seu hit de 1976, "Too Old to Rock'n'Roll, Too Young to Die]. Não sei por quanto tempo continuarei com isso, rock é coisa de jovem. Quero ficar com meus peixes [à época, Anderson dirigia uma empresa que criava e vendia salmão na Escócia]".

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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