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Matanza acaba e expõe os dilemas das bandas nacionais de rock

Combate Rock

01/06/2018 07h00

Marcelo Moreira

Matanza (FOTO: DIVULGAÇÃO)

Primeiro foi a Patrulha do Espaço, que encerrou mais de 40 anos de história por asfixia geral – criativa, financeira e administrativa. Depois veio o Kamboja, grupo de rock pesado que tinha nome forte na cena de rock pesado. E agora vem a notícia de que uma banda importante, que lotava casas para 4 mil pessoas e que tinha seu próprio festival está acabando.

O Matanza decidiu parar depois de 22 anos. No underground do rock pesado no Brasil, era a banda mais bem-sucedida – e, pelo jeito, a única. Não é coincidência que uma força da música nacional decide encerrar as atividades em meio ao caos e à crise eterna que domina o país.

O fim do Matanza, anunciado nas redes sociais, ocorre devido a questões pessoais e administrativas, sem brigas ou mágoas. O texto é curto e pouco explicativo, mas dá pistas de que as coisas estavam difíceis. Se estavam difíceis para o Matanza, imagine para o resto.

Fica claro que o desaparecimento da banda carioca, programado para outubro em razão de shows já agendados, corrobora a tese de que o suposto sucesso de meia dúzia de bandas indie brasileiras é uma exceção, muito longe de ser regra.

E não se trata de criticar aqui o bom momento de bandas como Boogarins, Far From Alaska e mais três ou quatro que têm, agenda lotada e esquemas bem legais para tocar no exterior – palmas também para os Autoramas, que são autossustentáveis também. A questão é que é somente essa meia dúzia.

O que ocorre então? Esses ão gênios? São mais competentes? Foram menos afetados pela crise? Criaram um esquema que funciona até mesmo na crise?

Pode ser tudo isso, ou nada disso, mas é inegável que há competência e inteligência para quem ainda surfa em uma agenda de shows consistente, mas esqueça a conversa fiada de gente que diz que existe uma cena roqueira e coisas acontecendo no Brasil. Isso é mentira.

Duas bandas tocando com frequência e com agenda lotada não formam uma cena – isso para não entrar na questão da remuneração dos cachês. E, como deixa bem claro o fim do Matanza, não é porque a banda eventualmente lota casas para 4 mil pessoas que as coisas estão bem.

O grupo carioca tinha uma agenda boa, mas não carregada, mas chega uma hora que a realidade decide cobrar o seu preço e aí a fatura pesa. Até quando os Boogarins vão segurar a onda? Até quando conseguirão agendas no exterior – ou será que só essas conseguem segurar a carreira deles?

Além de alguns poucos nomes indies, só os veteranos do rock nacional, com carreira consolidada no exterior há pelo menos 20 anos, conseguem bom público no Brasil, e ainda assim em turnês espaçadas. É o caso do Angra, de Edu Falaschi e sua banda que toca Angra, Krisiun e o casa vez mais esporádico Ratos de Porão.

Potências emergentes como Project46 e Noturnall ainda penam para conseguir uma agenda mensal mais consistente e precisam ser criativos na hora de buscar mais apresentações e mais público – e o Noturnall é referência nisso.

O fato é que as oportunidades para o rock nacional, de todos os subgêneros, estão diminuindo, assim como o público. O interesse diminui, assim como os locais para tocar.

Empresários do setor de entretenimento precisam de atrações que levem público, e mesmo artistas de outros gêneros musicais estão sofrendo com a crise e com as mudanças de mercado e com a fuga de público.

Não são apenas grandes atrações internacionais que terminam a venda de ingressos no Brasil vendendo dois ingressos pelo preço de um diante das vendas decepcionantes. Está acontecendo também com músicos de MPB, axé, pagode e sertanejo, além dos gigantes do rock nacional, que estão vendendo menos ingressos do que antes e que trocam os estádios por lugares menores e, neste momento, menos custosos, melhorando um pouco a rentabilidade.

O fim do Matanza detona bem a ilusão de que é possível se dar bem no mercado musical brasileiro atual – basta ter competência e "valorizar o seu público". Meia dúzia de bandas que sobrevivem razoavelmente ainda não servem de exemplo para que nos orgulhemos de ter uma "cena". No momento, o rock nacional está com cada vez menos alternativas pata se manter vivo e ativo.

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

Sobre o Blog

O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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