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'Yellow Submarine', dos Beatles, faz 50 anos e está imune ao envelhecimento

Combate Rock

30/04/2018 07h00

Marcelo Moreira

A situação era tensa, todos estavam dormindo pouco. Havia uma pressão para que o filme terminasse logo, com custos mais baixos, só que com qualidade alta. O diretor George Dunning estava sentido a pressão de ter de trabalhar para os Beatles – apesar do envolvimento zero dos quatro músicos.

De repente, em meados de outubro de 1968, Dunning recebe um telefonema no meio da madrugada. Era John Lennon querendo dar um pitaco no roteiro. "E se Ringo fosse seguido no meio da rua, no começo do filme, por um submarino amarelo?"

Foi a única intervenção de um beatle no desenho animado "Yellow Submarine", um projeto baseado na historieta da música homônima gravada em 1966 no álbum "Revolver".

O projeto não teve o entusiasmo da banda, que então tentava se autogerir após a morte do empresário Brian Epstein, em meados de 1967.

Paul McCartney estava entusiasmado em pegar o leme, mas a cautela dominou o grupo após o fracasso comercial e de crítica do filme "Magicam Mystery Tour" e da gravadora/loja Apple, que acumulava prejuízos. Fazia sentido não investir muito no desenho animado.

Ainda bem que a realidade os desmentiu: "Yellow Submarine" foi, por muito tempo, o filme de animação mais aclamado e bem-sucedido comercialmente da história do cinema.

A obra, dirigida por Dunning e Dennis Abey, está completando 50 anos de seu lançamento e ainda hoje é comentado como um dos desenhos animados mais influentes da história, seja por seus traços psicodélicos e marcantes, seja pela trilha sonora igualmente estrelada.

Um pequeno resuminho da história: "Yellow Submarine" conta a história de Pepperland: um paraíso quase terrestre que fica a 80 mil léguas no fundo do mar – uma terra quase sem inverno, onde a brisa leva a toda parte o som da música e das risadas e onde ninguém sente-se só, pois a Banda do Sargento Pepper está sempre tocando a sua música.

Até que um dia o Líder dos Maldosos Azuis, que detestava todo tipo de música, decide varrer Pepperland do mapa, deixando-o sem cor e sem som. Mas, navegando em um submarino amarelo e depois de várias aventuras, como navegar pelo mar do Tempo, pelo mar dos Monstros, e o mar dos Buracos, os Beatles chegam para trazer a paz e a música de volta a Pepperland.

Lennon e McCartney chegaram a dizer em diversas ocasiões, após o fima da banda, que não tinham muito apreço pela fita porque ela tirava o foco da música e levava a obra do quarteto a direções inexploradas – algo que eles não queriam à época e não tinham o menor interesse após a separação.

À revista Rolling Stone, certa vez, saído do autoexílio, Lennon disse que sentia incomodado pelo fato de que o filho Sean, então com quase cinco anos de idade, soube que o pai era famoso, na escola, por meio do desenho. "Ele não sabia que eu era músico, mas me perguntou se eu era um desenho animado."

As opiniões mudaram em 1994, quando o trio remanescente se reuniu para gravar a série "Beatles Anthology". McCartney e George Harrison admitiram que gostaram do filme e que tinham orgulho da marca Beatles estampada nele.

Parte da crítica se derrete pela obra por conta da ousadia no uso de cores e pelo roteiro explicitamente psicodélico, mas que inseriu elementos da cultura pop de tal forma que se tornou um clássico.

A linguagem também foi inovadora, pois manteve a psicodelia ao lado de um texto e de um roteiro que foi facilmente absorvido pelo mundo infantil – obra de gente qualificada como Lee Minoff, Al Brodax, Jack Mendelsohn e Erich Segal.

Alguns detratores tentaram enxergar apologia às drogas e mensagens subliminares, além de criticar o que chamaram de estética retrô dos traços dos desenhos.

Houve gente que ainda reclamou da suposta abordagem psicológica dos vilões, os Blues Meenies, que não seriam tão maus assim no desenho como deveriam ser.

"Yellow Submarine", tanto a música original quanto o filme, são mais um dos grandes acertos dos Beatles, impregnando-os do rótulo de inovadores e grandes empreendedores culturais.

E é difícil deixar de constatar: o desenho é ótimo, assim como seu roteiro e a construção dos personagens.

P.S.: Uma grande novidade sobre o filme para este aniversário de 50 anos. Segundo o jornalista Carlos de Oliveira, do jornal "O Estado de S. Paulo", a fita deve voltar em breve aos cinemas. Leia mais aqui.

Abaixo, a íntegra do filme, dublado em português:

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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