Brasil perde Índio Cachoeira e a sua viola mágica
Marcelo Moreira*
Em tempos onde o pior da country music virou o que se convencionou chamar de sertanejo no Brasil – ou a esdrúxula expressão "sertanejo universitário" -, ainda se discute e conveniência de se falar em música folk no Brasil.
Sendo assim, como classificar a música instrumental, a poesia e a viola de um artista como Índio Cachoeira? Categorizar o músico, que morreu nesta semana após dias internado por conta de um acidente automobilístico, desafia os estudiosos e pesquisadores, que tiveram a mesma dificuldade para "enquadrar" Zé Côco do Riachão.
A carreira de Índio Cachoeira, ou José Pereira de Souza, é um daqueles casos que se assemelham, e muito, com o da violeira sul-mato-grossense Helena Meirelles: talento nato, ouvido absoluto, bom compositor e músico descoberto tardiamente.
Ele gostava da expressão matuto do interior. Acreditava que ela conferia uma aura de sabedoria – o que ele tinha de sobra.
O violão e a viola caipira eram suas companheiras inseparáveis, o que espanta a demora em ser descoberto e fazer as suas primeiras gravações ao lado de outro matuto, só que mais "moderno", o instrumentista Ricardo Vignini, um dos cabeças do grupo de rock rual/MPB Matuto Moderno.
O talento transbordante foi identificado quase que de primeira pelo paulistano Vignini, um dos monstros da viola caipira atual, ao lado do parceiro Zé Hélder, que é mineiro.
Sem perder tempo, o descobridor levou Cachoeira para o estúdio e produziu algumas das obras-primas da música caipira de raiz/folk brasileiro. foram cinco álbuns e um DVD em 15 anos de produção.
Paulista de Junqueirópolis, divisa com Mato Grosso do Sul, o violeiro nato largou o emprego de motorista de ônibus pela música.
Além de exímio violeiro e compositor, Índio Cachoeira se destacava como luthier das violas que toca e de outros instrumentistas também.
Legítimo virtuose na viola caipira, Índio Cachoeira começou sua vida profissional aos 17 anos, tocando nas rádios da região já com o nome de Cachoeira. Formou sua primeira dupla com Tião do Gado (hoje Carreiro, da dupla Carreiro e Carreirinho).
Em 1995 tornou-se o Pajé, da dupla Cacique e Pajé, onde atuou por cinco anos e gravou CDs. Pelo selo Folguedo teve três CDs solo instrumentais e um DVD e lançou também em 2014 o CD "Viola Caipira Duas Gerações" (Prêmio da Música Brasileira da Funarte) com o violeiro Ricardo Vignini.
Juntos também realizaram dezenas de apresentações pelo país e na França – e ganhou destaque mais ainda no exterior pelo fato de, seguindo a tradição como luthier, fabricava a sua própria viola.
Índio Cachoeira retornou em 2017 ao formato tradicional de dupla caipira com Santarém. No mesmo ano, lançaram o CD "Ponteando Tradições", vencedor do prêmio ProAC de Culturas Tradicionais 2016 da Secretaria do Estado da Cultura com a produção do violeiro Ricardo Vignini (Matuto Moderno e Moda de Rock) pelo selo Folguedo com a distribuição da Tratore.
Cachoeira morreu em Alfenas (MG) na manhã de quarta-feira, 4 de abril, aos 64 anos, devido a complicações de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) provocada por um acidente de trânsito.
* Colaborou Graciela Binaghi
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