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A majestosa despedida do Deep Purple em terras brasileiras

Combate Rock

18/12/2017 06h50

Henrique Neal e Marcelo Moreira

Deep Purple foi impecável nO show de São Paulo (T4F/DIVULGAÇÃO)

Ian Paice disse que  a história de parar com tudo não é verdade. Já o amigo Ian Gillan, o vocalista, diz que a coisa acaba em 2018. Em quem acreditar?

O Deep Purple mais uma vez encantou em sua passagem pelo Brasil, e segue firme naquela que diz ser a sua última turnê. Os shows em São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente, mostraram que a banda encerra uma carreira fantástica de 50 anos.

As apresentações foram irretocáveis, com um profissionalismo invejável em se tratando de senhores de 72 anos de idade, em média. Precisão, intensidade e vontade. Os caras estavam muito a fim de tocar e se divertir. e a encantar.

Amigos do Combate Rock estiveram presentes nos shows e nos bastidores. Por trás das inúmeras fotos e selfies tiradas, o que transpirava era um clima de camaradagem e resistência. Os integrantes do Purple sabiam que estavam vivendo um momento histórico, que tudo parecia estar no fim. Mas só parecia.

Em nenhum momento o tecladista Don Airey e o baixista Roger Glover pareciam mostrar que estavam em uma jornada de encerramento. A concentração era a mesma de sempre, e nada indicava que os "velhinhos" decidiram parar.

Todos são avôs, e Airey brincou dizendo: "O que vou dizer ao meus netos quando eles me perguntarei se eu realmente fui um astro de rock? Preciso mostrar para eles que eu fui importante", afirmou, para em seguida dar uma gostosa gargalhada.

O fato é que o quinteto ainda curte demais tocar ao vivo, embora as viagens ao redor do mundo sejam cansativas. "Não é muito confortável passar mais da metade do ano em hotéis e aeroportos, ainda mais na minha idade. Só que é maravilhoso subir ao palco e perceber como a nossa música mexe com as pessoas", diz Paice.

Para ou não para? Se depender para quem assistiu ao Deep Purple no Rio e em São Paulo neste mês de dezembro, é claro que não. Com uma apresentação impecável e com muita energia, a banda ostra que pode estender a turnê atual em 2018 e, quem sabe, gravar mais um álbum, e de pois fazer mais uma turnê…

Às vezes é nostálgico e irritante ouvir pela enésima vez "Highway Star" e "Smoke on the Water", ou mesmo as toneladas de outros tantos hits e um show previsível. Mas é sempre diferente ouvir ao vivo pela enésima vez "Highway Star" e "Smoke on the Water", com variações de solos e intervenções estranhas.

Rick Nielsen (esq.) e Robin Zander no Solid Rock, em São Paulo (T4F/DIVULGAÇÃO)

Sem muitas surpresas – na verdade, quase nenhuma -, o quinteto entrega o que promete, por mais que o som em um estádio grande e meio vazio descaracterize um pouco a cena. E o som, é claro. Mas que é que liga para isso quando o Deep Purple está no palco?

É maravilhoso escutar "Bloodsucker" e "Strange Kind of Woman", com seu suingue transbordando jazz por todos os poros. E aí vem uma das melhores coisas já compostas nestes anos 2000 em qualquer gênero, a espetacular "Uncommon Man", uma bela homenagem ao tecladista Jon Lord, morto em 2012, com seu climão de Emerson, Lake & Palmer e pegada hard setentista.

Boas músicas de "Infinite", o disco mais recente, agradaram, como "Bird of Prey" , que deram uma arrefecida no público, que se descontrolou quando vieram "Lazy" e "Space Truckin"', para um final arrasador em São Paulo com "Hush" e Black Night".

Foram só 14 músicas em uma apresentação compacta, muito curta para quem se acostumou a ver o grupo a tocar por mais de duas horas e meia. Ok, é chato, mas tá bom demais.

O que dizer de Tesla e Cheap Trick? A primeira banda abriu o minifestival Solid Rock e tocou para pouca gente. Quem ignorou perdeu uma apresentação vigorosa e competente, um hard rock mais puxado para o blues e um pouco distante da imagem de hard farofa que a banda exibiu nos anos 80. "Hang Tough", "Love Song" e "Little Suzie" foram os pontos altos.

Estreando tardiamente no Brasil com  seus 40 e tantos anos de hard rock mais comercial nas costas, o Cheap Trick foi muito bem e surpreendeu parte do público que não fazia ideia do que eram aqueles veteranos substituindo a lenda Lynyrd Skynyrd.

Tesla em São Paulo (FOTO: T4F/DIVULGAÇÃO)

Se a apresentação do Tesla foi rápida e curta, o Cheap Trick decidiu mostrar 40 anos de repertório espetacular em 18 músicas, despejando hits atrás de hits em São Paulo.

"Ain't That a Shame", de Fats Domino, clássico dos anos 50, fez todo mundo cantar, assim como o megahit "Surrender", que até hoje toca em emissoras de rádio.

O que dizer da fantástica "Dream Police"? E da contagiante "I Want You to Want Me", para não dizer da boa versão de "I'm Waiting For the Man", do Velvet Underground, para "sujar" um pouco o ambiente muito "clean" do hard pop da banda?

Se não houve superlotação – ou melhor, público de menos -, houve música da melhor qualidade. E aguardemos o retorno do Deep Purple com músicos octogenários… E por que não?

 

 

 

Sobre os Autores

Marcelo Moreira, jornalista, com mais de 25 anos de profissão, acredita que a salvação do Rock está no Metal Melódico e no Rock Progressivo. Maurício Gaia, jornalista e especialista em mídias digitais, crê que o rock morreu na década de 60 e hoje é um cadáver insepulto e fétido. Gosta de baião-de-dois.

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O Combate Rock é um espaço destinado a pancadarias diversas, com muita informação, opinião e prestação de serviços na área musical, sempre privilegiando um bom confronto, como o nome sugere. Comandado por Marcelo Moreira e Mauricio Gaia, os assuntos preferencialmente vão girar em torno do lema “vamos falar das bandas que nós gostamos e detonar as bandas que vocês gostam..” Sejam bem-vindos ao nosso ringue musical.
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